Estudo bíblico 30/04/2020 | 5ª-feira da 3ª Semana da Páscoa
Oração
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso Amor. Enviai, Senhor, o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra. Oremos: Ó Deus que instruíste os corações dos vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, fazei com que apreciemos retamente todas as coisas, segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo Senhor Nosso. Amém.
1ª Leitura – At 8,26-40 | Salmo – Sl 65, 8-9. 16-17. 20 (R. 1) | Evangelho – Jo 6,44-51
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+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João 6,44-51
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai. E eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos Profetas: `Todos serão discípulos de Deus.’ Ora, todo aquele que escutou o Pai e por ele foi instruído, vem a mim. Não que alguém já tenha visto o Pai. Só aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo, quem crê, possui a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Os vossos pais comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comer, nunca morrerá. Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo’.
Palavra da Salvação.
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Meditação
Nós vamos ler mais uma vez atentamente esta palavra de Deus. Vamos tentar, ao final da leitura, perceber o quê que a palavra diz, quais os elementos principais desta palavra. Eu vou ler mais uma vez, e peço que você com muita atenção acompanhe a leitura, e de preferência se você estiver aí com sua Bíblia, com a palavra de Deus. Se não, eu peço que você acompanhe atentamente, sempre percebendo o quê que a palavra quer nos dizer.
Então, nós lemos a palavra do Senhor, a palavra da nossa salvação, e a palavra sempre nos diz algo! Mas antes de nos preocuparmos com o que a palavra nos diz, vamos entender o contexto dessa palavra.
É muito bonito percebermos que o Evangelho de João é tomado de certa emoção. Ele tem um sentimento mais forte, proximidade com a pessoa de Jesus. Talvez ali porque João, entre todos os evangelistas, é aquele que se nomeia o discípulo amado.
Então, vamos ver em todo o Evangelho de João essa característica forte do amor, dessa evidência forte da pessoa de Jesus sendo sempre falado com muito sentimento, com muita verdade, muita convicção, não somente num tom biográfico.
Também para que possamos entender o que a palavra diz, é importante entendermos o contexto desse capítulo 6 de João, que é o que estamos vendo durante toda essa semana do Tempo Pascal. Nós começamos vendo outras partes dessa palavra, e é importante para podermos entender o que a palavra nos diz hoje, entender o contexto que ela está inserida.
No Evangelho de João 6 ele vai trazer vários milagres. Ele vai falar primeiro, no inicio do capítulo, da multiplicação dos pães[1], e depois vai falar de Jesus que caminha sobre as águas[2]. Por fim, terminando o capítulo, que é parte do que vemos hoje, ele vai falar de Jesus como o pão da vida.
É importante nós entendermos que aqui, se voltarmos um pouquinho no versículo 41, veremos o evangelista dizendo: “Os judeus murmuravam, então, contra ele, porque dissera: ‘Eu sou o pão descido do céu’”. Ora, os judeus tinham ali testemunhado o milagre da multiplicação dos pães. Os discípulos tinham testemunhado Jesus que caminha sobre as aguas. Então, todos eles estavam acostumados, estavam percebendo essa figura de Jesus como aquele que fazia milagres, que fazia grandes manifestações da ação de Deus. Mas quando Jesus vai dizer que é o pão descido do céu, aí os judeus começam a murmurar, começam a dizer: “Mas esse não é o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como é que diz agora: Eu desci do céu?” e aí o Evangelho de hoje começa com essa resposta de Jesus, Jesus que vai exortar os judeus, Jesus que diz: “Não murmureis entre vós”.
A primeira característica desse Evangelho de hoje é a exortação de Jesus, dizendo: “Não murmureis entre vós”, e aí Ele continua dizendo: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai”.
É bonito percebermos aqui que Jesus vai fazer uma exortação sobre a murmuração dos judeus, e em seguida implicitamente ele vai reclamar do coração fechado dos judeus, porque Ele vai dizer assim:
“Ninguém pode vir a mim”. Como é que pode ser concebível essa palavra de Jesus se apresentando como o pão da vida, Jesus falando que vai dar a Sua carne, e aí Jesus diz: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai”?
Aqui os judeus, tão acostumados a talvez pelo conhecimento da palavra, pelo conhecimento das profecias, com toda a tradição judaica, aquilo que foi deixado pelos profetas e anciãos, eles estarem acostumados a irem para Deus com suas próprias forças, com seu próprio entendimento e sabedoria.
Jesus já começa reclamando isso! Ninguém pode entender Jesus, ninguém pode vir até Jesus se o Pai que O enviou não o atrair.
Aqui nós percebemos fortemente que Jesus quer nos exortar para a ação de Deus, a ação salvífica de Deus em nossas vidas. Desde a criação do homem a iniciativa é sempre de Deus. Nós somos apenas colaboradores com a graça, mas ninguém pode ir até Jesus, ninguém pode aprofundar uma experiência com Jesus se o Pai que O enviou não o atrair.
Jesus vai nos lembrar no versículo 45:
“Está escrito nos profetas: E todos serão ensinados por Deus”. Jesus também aqui deixa claro essa profecia. Os profetas nos disseram: “Todos serão ensinados por Deus. Quem escuta o ensinamento do Pai e dele aprende, vem a mim”. E aí Jesus deixa claro: “Não que alguém já tenha visto o Pai. Só aquele que vem de junto de Deus viu o Pai”, Ele mesmo.
Aqui Ele está mostrando que Ele mesmo é esse cheio da graça que viu o Pai. Ele está se colocando como uma oportunidade daqueles que desejam contemplar o Pai, daqueles que desejam ver o Pai, ter a vida eterna, ter essa vida do céu, puderem alcançar essa graça de Deus, verem a Deus, através da pessoa de Jesus.
Aqui nós podemos perceber toda essa exortação de Jesus, esse cuidado formativo de Jesus, de levar os judeus, levar aqueles que O escutavam a ter essa profundidade do papel de Deus na vida deles. A iniciativa da salvação do homem parte sempre de Deus.
Ele continua falando, fazendo uma comparação aqui com o pão da vida e o maná. Ele diz: “Em verdade, em verdade vos digo, quem crê, possui a vida eterna”. Aqui o Senhor exorta aqueles judeus, aqueles que estão ali com Ele, à fé: “Quem crê, possui a vida eterna”.
“Eu sou o pão da vida”. Ele afirma mais uma vez! “Os vossos pais comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram”.
Aqui Ele estava exortando os judeus a não murmurarem, e podemos nos lembrar de que o povo que tinha saído do Egito, que estava caminhando no deserto, também se apresentou diante de Deus com murmurações. Deus, com toda a iniciativa da Sua graça, da Sua salvação por aquele povo, dava a eles o maná, mas aquele povo também murmurava contra Deus.
Mas aqui Jesus vai nos dar um caminho que é muito maior e vai nos dar um alimento que é muito mais concreto e salvífico do que aquele pão que alimentava o povo no deserto. Jesus se apresenta como o pão da vida.
Jesus que diz: “Os vossos pais comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comer, nunca morrerá. Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo”.
Jesus se apresenta como este corpo, este pão descido do céu, que quer nos alimentar com a vida celeste, e quer nos dar a oportunidade! Ali Ele está apresentando para os judeus a oportunidade de terem um alimento que liga a vida celeste à vida terrena, que dá acesso à vida de Deus.
Agora vamos perceber o que essa palavra nos diz, a nós que estamos vivendo este tempo de quarentena, nós que estamos muitas vezes nas nossas casas, a maioria de nós, aqueles que não estão trabalhando em algum serviço básico hoje, mas aqueles que estão na maioria das vezes em suas casas:
Será que nós estamos também, como estes judeus, murmurando diante de Deus? Será que Deus não tem nos deixado faltar nada? Temos o estudo bíblico, temos tantas oportunidades de crescermos neste tempo na vida da graça! Nós não estamos comungando do corpo de Cristo como éramos acostumados ali, de maneira física, mas podemos fazer a comunhão espiritual, assistindo a Santa Eucaristia pela TV, pela internet, pela rádio, e ali comungando da vida de Cristo, esse pão vivo que desce do céu.
O Senhor tem sempre também nos dado neste tempo iniciativas próprias do coração Dele para nos alcançar.
Eu pergunto a todos nós, a partir de mim, será que eu estou presa em mim mesma, murmurando, enquanto Deus está se dando a mim?
Poderíamos nos perguntar, pensando nessa palavra, que começa dizendo:
“Não murmureis entre vós”. Nós podemos perguntar: como é que está o nosso coração? Nós temos dado a abertura à ação da graça de Deus? A ação da graça de Deus tem ganhado espaço no nosso coração?
Será que, como os judeus, nós não estamos esperando tantos milagres do Senhor que temos perdido o olhar, distanciado o nosso olhar da vida eterna, daquilo que é muito maior, que nos une ao céu, e que o Senhor pode nos dar por Ele mesmo e não somente pela manifestação externa da Sua graça?
Aqueles judeus, eles murmuravam quando Jesus se apresentava como o pão vivo descido do céu, porque eles queriam ali muito mais de Jesus os milagres. Eles queriam muito mais usufruir daquilo que Jesus podia oferecer a eles de uma maneira concreta, natural, e o Senhor estava prometendo muito mais!
O Senhor estava prometendo a vida eterna, estava se dando como esse pão vivo, alimentando a alma, o corpo, o espirito! Alimentando a esperança e a fé para uma vida eterna! E eles estavam murmurando, porque estavam muito mais presos àquilo que o Senhor podia fazer por eles de uma maneira mais natural.
O Senhor aqui quer nos dar também uma experiência de fé, como Ele diz aqui: “Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comer, nunca morrerá. Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo”.
O Papa Francisco, comentando esse evangelho numa homilia em 2015, falou uma coisa muito forte sobre a fé, que eu queria compartilhar aqui com vocês, nos preparando para esse momento de oração.
Ele nos diz: “A fé, que é como uma semente no profundo do coração, desabrocha quando nos deixamos atrair pelo Pai rumo a Jesus, e vamos ter com Ele de coração aberto, porque o Espírito Santo nos faz entrar na relação de amor e de vida que existe entre Jesus e Deus Pai. E ali nós recebemos o dom, o presente da fé”[3].
Então, meus irmãos, eu gostaria de convidar todos nós a rezarmos! Vamos pedir a Deus um coração que não murmure, vamos pedir um coração cheio de fé! Vamos pedir, como o Papa nos falou, esta fé como uma semente profunda do nosso coração!
Vamos pedir que o Senhor faça essa semente germinar em nós, que sejamos atraídos pela graça do Pai, e só o Espírito pode fazer isto em nós, como o Papa nos diz: “É o Espírito Santo que nos faz entrar na relação de amor e de vida que existe entre Jesus e Deus Pai”, como o próprio Jesus nos falou nesta palavra: “Não que alguém já tenha visto o Pai. Só aquele que vem de junto de Deus viu o Pai.”
Então, vamos deixar que a palavra de Deus, que Jesus, através do Seu Espírito Santo, venha nos revelar a ação do Pai nas nossas vidas, venha nos dar esta graça de vivermos uma vida de gratidão, de amor, uma vida cheia de louvor!
Que nós não nos percamos murmurando por aquilo que Deus ainda não agiu conforme nós queremos, como se nós estivéssemos impondo a Deus as nossas vontades. Vamos pedir a Deus que nos dê um coração cheio de louvor, um coração grato!
Nos nossos Escritos, da Comunidade Católica Shalom, vemos que a gratidão é a linguagem das almas esposas. Então, vamos rezar um pouco.
Vamos pedir a Deus que retire do nosso coração tudo aquilo que é murmuração, que é fechamento da nossa parte, tudo aquilo que impede a ação da graça de Deus sobre nós, tudo aquilo que impede que Deus atraia o nosso coração a Ele.
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Súplica
Vamos fechar os nossos olhos, vamos nos colocar diante de Deus como pobres, como necessitados, abrindo a porta do nosso coração, pedindo a Deus que venha em nosso auxílio, pedindo a Deus que venha transformar o nosso coração em um coração grato, num coração cheio de desejo de se relacionar com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo a partir dessa abertura do nosso coração.
Vamos rezar, meus irmãos. Vamos suplicar com as nossas palavras.
Senhor, nós Te suplicamos, que nós não sejamos como esses judeus, que o nosso olhar não esteja voltado para nós mesmos e o nosso coração esteja fechado. Livra-nos, Senhor, das murmurações que prendem o nosso coração a nós mesmos, aquilo que passa, e leva, Senhor, o nosso coração a Ti. Nós queremos fazer comunhão com o Pai, Senhor. Por isso Te pedimos, Jesus, vem nos mostrar o Pai! Vem nos dar esse pão do céu, vem alimentar as nossas almas com uma mais profunda experiência com a verdade, com o amor, com aquilo que é capaz de saciar o nosso coração. Vem em auxílio do nosso coração, Senhor! Nós Te suplicamos, cheios de desejo de sermos homens e mulheres recriados pela Tua palavra. Vem sobre o nosso coração. Vem nos dar esta gratidão, vem nos dar a fé!
Quantas vezes, Senhor, neste tempo, nós temos vacilado na fé, temos duvidado da Tua ação pelo fechamento do nosso coração. Nós temos, Senhor, nos perdido em nós mesmos, porque nós ficamos contando o tempo da Tua ação. Nós reclamamos muitas vezes porque Tu não agistes ainda, porque tu não curastes o mundo, porque ainda não intervistes conforme a nossa vontade contra essa pandemia. Mas nós, Senhor, hoje queremos ser alimentados pelo pão do céu, pela vida do céu, que nos é dada a partir de Ti. Tu és o nosso alimento, Senhor!
Por isso, vem renovar a nossa fé, a fé na ação salvífica da Tua graça nas nossas vidas! Vem nos dar, Senhor, esta alegria de desejarmos as coisas do céu, e não sermos como os nossos primeiros pais que no deserto murmuravam com o maná, sabendo que Deus os alimentava, não deixava faltar nada, e mesmo assim murmuravam contra Deus.
Vem, Senhor, nos dar esta alegria de pertencermos a Ti, e não nos determos nas coisas que passam. Enche o nosso coração de fé, de gratidão! Nós confiamos em Ti! Nós nos entregamos a Ti!
Deixemos, meus irmãos, que o Senhor nos visite, que o Espírito Santo de Deus venha fazer comunhão da nossa vida com a vida de Cristo, com o acesso a Deus Pai. Vem, Senhor, nós Te suplicamos! Visita os corações fechados em si mesmos, dá-nos uma fé renovada, uma fé nova! Enche-nos, Senhor, da Tua presença e alimenta no nosso coração as virtudes teologais!
“E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo”. Nós Te louvamos! Ainda neste estudo bíblico nós queremos elevar a Ti a nossa gratidão, porque nós podemos experimentar da vida do céu através do Teu corpo que nos é dado.
Neste tempo, Senhor, onde temos tido tantas oportunidades de estarmos mais Contigo, nós te damos graças, Senhor! Nós Te damos graças porque a inciativa é sempre Tua, é sempre uma ação da Tua graça! Por isso nós Te somos gratos! Rendemos a Ti o nosso louvor, a nossa gratidão. E sabemos que somos alcançados, recriados neste dia na fé e no louvor, no novo louvor, porque Tu vens em nosso auxílio!
E nós ainda nos confiamos à ação da Tua Mãe, a Virgem Maria, rezando: Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém. Rainha da Paz, dai-nos a paz!
E ainda como um fruto concreto desse estudo bíblico, eu gostaria de te convidar a durante toda essa semana, principalmente durante todo esse dia, ir dando palavras de louvor ao Senhor! Todos os dias, principalmente nesse dia, a cada vez que formos tentados a murmurar contra Deus e a Sua ação, que nós possamos dar palavras de louvor, que o nome de Jesus e Maria possam estar presentes nos nossos lábios e nos nossos corações, e que nós possam ser esse testemunho de fé, de alegria, de esperança, para os homens deste tempo!
Deus os abençoe! Shalom! Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
[1] João 6, 5-15.
[2] João 6, 16-21.
[3] Ângelus Papa Francisco, em 9 de Agosto de 2015.