Santo Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica, dedica três questões à infância de Jesus, nas quais ele aprofunda as características fundamentais da maneira como Deus escolheu para se manifestar ao mundo. Agora nos detenhamos na sua tratativa sobre a circuncisão de Jesus e de sua apresentação no Templo.
A circuncisão de Cristo, a imposição do nome e sua apresentação no Templo são como uma promessa de cumprimento da Lei, como diz a carta aos Gálatas, “Declaro que todo aquele que é circuncidado é obrigado a observar toda a lei” (Gl 5,3).
A circuncisão e a imposição do nome
Há quatro razões pelas quais Tomás enfatiza a importância do cumprimento de Cristo sobre a circuncisão. Primeiro, ela não só confirma o próprio ato de circuncidar, que foi instituído por Deus, mas também torna sua humanidade mais credível¹. Segundo, retira dos judeus o pretexto de não recebê-lo como um verdadeiro judeu e confirma Jesus como descendente de Abraão.
Terceiro, mostra Jesus como um modelo de obediência, de modo que “aquele que veio em carne semelhante à carne do pecado não rejeitasse o remédio pelo qual a carne do pecado pode ser purificada”. Quarto, Jesus, tomando sobre si o peso da Lei, redimiria “os que estavam sujeitos à Lei” (Gl 4,4).
Com relação à imposição do nome, este, dado por Deus, indica um dos seus dons gratuitos ao homem, como “a Abraão, por exemplo, foi dito que seu nome será Abraão: porque eu te farei o pai de uma multidão de povos (Gn 17,5)”. No caso do nome de Jesus, que significa salvador, indicado a Maria (Lc 1,31) e a José (Mt 1,21), encontramos a vontade de Deus de salvar o homem.
“De fato, Emanuel, que significa Deus conosco (Mt 1,23), indica a causa da salvação, ou seja, a união da natureza humana com aquela divina na pessoa do Filho de Deus, cuja união fez sim que ‘Deus estivesse conosco’”.
A apresentação no Templo
Para a apresentação no Templo, Santo Tomás enfatiza que o povo judeu tinha que observar dois preceitos; um deles previa a oferta de um sacrifício, de acordo com as prescrições de Lv 12, 6ss em expiação do pecado e para a consagração da criança, e o outro dizia respeito somente aos primogênitos, que deviam ser consagrados ao Senhor (cf. Ex 13,2.12).
Na apresentação de Jesus, vemos a observância desses dois preceitos, seja aquele a respeito de todos, “oferecendo um casal de rolinhas ou duas jovens pombas como sacrifício” (Lc 2,24), seja aquele a respeito dos primogênitos, segundo o qual “todo macho primogênito será consagrado ao Senhor” (Lc 2,23).
Tomás também nos mostra que a apresentação de Jesus no Templo constitui um modelo para nós “para que aprendamos a nos oferecer a Deus”; e ele mesmo se circuncidou antes de se oferecer no Templo, para nos indicar “que ninguém é digno do olhar de Deus se não é circuncidado dos seus vícios”.
Notas
¹ Aqui Tomás contradiz Mani, Apolinário e Valentino, que subestimavam a humanidade de Jesus Cristo.
Referências
S. Th. III, q. 37, a. 1, co.
S. Th. III, q. 37, a. 2, co.
S. Th. III, q. 37, a. 2, ad 1.
Diácono Rafael Araújo
Bacharel em Teologia pela Faculdade de Teologia de Lugano