O Papa Francisco deu um documento muito importante para a Igreja da Amazônia, por qual não interessa apenas ao Brasil, mas também a vários países da América Latina. Eu diria que, na verdade, interessa ao mundo inteiro, porque todos os países têm a sua grande ou pequena Amazônia, na qual faltam sacerdotes e onde o povo cristão fica meses e meses sem a Eucaristia e também sem a possibilidade de se aproximar do sacramento da confissão, e até mesmo chega a morrer sem receber o sacramento da unção dos enfermos.
Essa é uma situação que sempre exige reflexão, mas, sobretudo neste mês de agosto, em que aqui no Brasil, celebramos o mês vocacional, uma vez que esta é uma oportunidade de nos perguntarmos por que os jovens hoje não se aventuram no ministério sacerdotal. Será que o problema é o celibato? Será que a castidade se tornou um fantasma que os afasta desta admirável cooperação com Jesus pela Salvação da humanidade? Será que a vida do padre é uma vida infeliz e sem alegrias humanas? Será que o problema é uma incompreensão do chamado de Jesus, que continua a chamar quem quer e como quer? Será? Será?
Podemos fazer uma ladainha de perguntas e ainda assim não encontrar uma resposta que seja satisfatória. No entanto, podemos constatar que o número dos sacerdotes no mundo diminui. Em muitos países quase não há mais sacerdotes autóctones, mas sim de outros países da África, da América Latina.
Por que tudo isto? Será que estamos diante de uma mudança de visão do cristianismo, não mais marcado pela Europa, mas pelos continentes onde ainda temos uma visível pobreza material? Será que Jesus continua a chamar nos ambientes mais pobres do que nos ricos? Vamos deixar no ar todas estas perguntas e que cada um tente encontrar uma resposta e a ofereça à Igreja. A minha resposta é uma só: a vocação ao sacerdócio, bem como para a vida consagrada, é uma livre escolha de Deus, é o encontro da liberdade de Deus que chama e do ser humano que responde.
Estou convencido de que Deus chama, mas o homem, ávido de riqueza, de comodismo e de consumismo, é surdo à voz do Senhor. Temos necessidade de sair de nós mesmos e de ver as necessidades do povo que clama pela água viva, que é Cristo Jesus.
Não se anuncia o Evangelho por dever, nem por dinheiro, nem em troca de uma vida cômoda. Só é possível anunciar Jesus se o nosso coração é queimado e inflamado de amor. A festa de São João Maria Vianney, o santo Cura D’Ars, protetor dos padres, é festa também de todos os sacerdotes. Ele nos permite ver que a preferência de Jesus não é pela inteligência, pela riqueza, pela classe social ou pelo poder. Este santo era um trabalhador da roça, homem simples, com um amor apaixonado por Jesus Cristo e pela Salvação do povo, sendo a testemunha do sacramento da confissão.
O que mais gosto no meu sacerdócio e que menos me custa é confessar, porque nada é meu, basta distribuir o que eu mesmo tenho sempre recebido: a misericórdia de Deus. Parabéns a todos os sacerdotes neste dia! Sejamos sacerdotes especialmente de três sacramentos: da Eucaristia, da confissão e da unção dos enfermos. Os leigos podem fazer o restante e o fazem, muitas vezes, melhor que nós.
Quanto mais santos somos, mais apóstolos somos
“Não tenhas medo da santidade. Não te tirará forças, nem vida nem alegria. Muito pelo contrário, porque chegarás a ser o que o Pai pensou quando te criou e serás fiel ao teu próprio ser. Depender Dele liberta-nos das escravidões e leva-nos a reconhecer a nossa dignidade. Isto vê-se em Santa Josefina Bakhita, que, ‘escravizada e vendida como escrava com apenas sete anos de idade, sofreu muito nas mãos de patrões cruéis. Apesar disso compreendeu a verdade profunda que Deus, e não o homem, é o verdadeiro Patrão de todos os seres humanos, de cada vida humana. Esta experiência torna-se fonte de grande sabedoria para esta humilde filha da África’” (Gaudete et Exsultate, 32).
Pelo Batismo, somos chamados a ser missionários. Não há como fugir desta vocação, pois um Batismo que não acende em nós a chama do desejo de anunciar a todos a Pessoa de Jesus, o seu Evangelho, a Sua maneira de viver, é um Batismo que fica apenas no livro dos batizados, um Batismo que não serve para nada. A evangelização é, ao mesmo tempo, um caminho de ida e volta, pois quando evangelizamos, somos também evangelizados.
Recordo quando minha mãe Domenica me dizia que muitas vezes, quando não tinha vontade de visitar um doente, de fazer uma obra boa, lembrava que, quando você faz o bem, a primeira pessoa que é ajudada é você mesmo. Assim acontece na evangelização. Sempre que anunciamos o Evangelho, nos autoevangelizamos. Isto é muito bonito. É dar e receber ao mesmo tempo. Quanto mais evangelizamos, mais somos santos e mais a nossa evangelização vai chegar ao coração das pessoas e, assim, vai formar uma comunidade de pessoas renovadas pelo Espírito. Comunidade esta que se torna fermento e luz no meio do mundo das trevas, em que muitas vezes nos encontramos.
O Senhor nos convida a um grande e gratuito banquete
Deus nos surpreende sempre com a Sua delicadeza única. Ele nos convida gratuitamente a um grande banquete, preparado para nós pela Sua bondade. O profeta Isaías o anuncia com uma chamada, dizendo: “todos vocês que têm fome e sede, venham! É tudo grátis.” Como é belo este anúncio que abre o nosso coração para uma vontade de correr e pedir para sentarmos à mesa com Deus.
Mas sabemos que todos temos uma certa desconfiança para com tudo o que nos é oferecido de graça. Pensamos que não seja um bom produto, que está perto de vencer a validade. O que às vezes acontece, por exemplo, quando um supermercado envia para os lares que acolhem os velhinhos e as crianças iogurtes que vencem antes de chegar a eles. No entanto, Deus não age assim. O Seu produto não perde a validade, porque é eterno. O Seu amor não tem medida de tempo, tudo é graça, perdão e misericórdia.
O profeta nos convida, então, a não gastar nem tempo, nem dinheiro com aquilo que não alimenta, que pode até encher o estômago, mas que não sacia a fome, como são as falsas “espiritualidades”, cheias de sentimentalismos ou de superstições. O verdadeiro alimento é Jesus Paulo, depois da sua conversão, alimenta a sua vida espiritual e intelectual somente com a vida de Jesus Cristo e o diz com amor, humildade e satisfação: “meu viver é Cristo”. Ele deseja morrer para viver apenas do mistério de Jesus e quer realizar na sua carne o que falta na paixão do seu Senhor.
Paulo sente que chegou o momento mais belo e sublime da sua vida, em que nada nem ninguém poderá separá-lo do seu amado Jesus: nem a morte, nem a espada nem as perseguições. Na verdade, quanto mais dificuldades encontra em viver o Evangelho, mais a sua fé se enraíza no mistério e afunda suas raízes no infinito. Este trecho do capítulo 8 da Carta aos Romanos deve ser gravado na nossa carne, no nosso coração e meditado não de vez em quando, mas, sim, todos os dias de nossa vida.
Nós mesmos somos saciados e devemos saciar
O Evangelho nos obriga a descer ao íntimo do nosso coração e verificar qual é o nosso alimento espiritual e como nos preocupamos em alimentar os outros. Na Igreja, cada cristão é alimentado e, por sua vez, deve alimentar o povo. Dizem-nos os nutricionistas que a nossa qualidade de vida depende do que comemos e do que bebemos, e creio que seja verdade. Já quanto a nossa vida espiritual, tenho certeza de que ela, sim, depende do que comemos e do que bebemos. Se comemos a carne de Jesus e bebemos o Seu sangue, nos tornamos carne e sangue de Jesus.
Dessa forma, nossa vida espiritual será de ótima qualidade, a qual nenhum vírus poderá destruir. Porém, se nos alimentamos de tudo o que encontramos pelo caminho, mesmo que tenha aparência de bondade, acabamos sem ter uma vida espiritual. Então, qual é nosso alimento espiritual? É Jesus Cristo, o Evangelho, a palavra da Igreja? Ou são as coisas do mundo? Que cada um de nós dê a sua resposta.