Dessa vez, o Bendita Leitura vai nos levar a uma viagem para a Espanha, com a indicação de outro clássico da literatura mundial: Dom Quixote, escrito por Miguel de Cervantes.
Esse livro é cheio de curiosidades, a começar pelo título, que originalmente seria chamado “El ingenioso hidalgo Dom Quixote de la Mancha” e só depois foi alterado simplesmente para “Dom Quixote de la Mancha”. É considerado o primeiro romance moderno de que se tem notícia, possui 126 capítulos e foi lançado em dois momentos, a primeira parte em 1605 e a segunda parte em 1615.
O livro é uma sátira aos romances de cavalaria (aqueles que santa Teresa D´Ávila gostava de ler antes de se tornar monja) e é considerado o expoente máximo da literatura espanhola, inclusive, teve uma edição especial patrocinada pelo rei da Espanha em 1777, publicada em quatro volumes.
A narrativa conta os feitos de um nobre espanhol de idade avançada, que cavalga pelas plagas das regiões de La Mancha, Aragão e Catalunha, montado em seu cavalo Rocinante e na companhia de seu fiel escudeiro, Sancho Pança.
Inspirado por leituras de romances de cavalaria, o personagem principal acaba criando um mundo imaginário no qual vive inúmeras aventuras, fazendo guerra contra gigantes, que não passam de moinhos de vento, ou contra exércitos de ovelhas, sempre no desejo de defender sua amada donzela Dulcineia, também fruto de sua imaginação.
Embora a narrativa se desenvolva a partir das alucinações de Dom Quixote, há os discursos de Sancho Pança, que parecem mais realistas. E apesar do caráter jocoso da história, há inúmeros pensamentos que transmitem valores como a bondade, a pureza, a honestidade e a gratidão.
Dom Quixote é também considerado a ficção mais vendida de todos os tempos, o terceiro livro mais traduzido do mundo e seu personagem principal já foi retratado por grandes artistas como Salvador Dalí, Gustave Doré, Cândido Portinari e Pablo Picasso, bem como, citado em obras grandiosas, como em “Quincas Borba”, de Machado de Assis e “O idiota”, de Fiódor Dostoiévski (incluir link para o BL dele). Alguns versos do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade também se inspiraram nele:
Disquisição na insônia
“Que é loucura; ser cavaleiro andante
Ou segui-lo como escudeiro?
De nós dois, quem o louco verdadeiro?
O que, acordado, sonha doidamente?
O que, mesmo vendado,
Vê o real e segue o sonho
De um doido pelas bruxas embruxado?
Eis-me, talvez, o único maluco,
E me sabendo tal, sem grão de siso,
Sou – que doideira – um louco de juízo”.
Por fim, seguem alguns trechos do livro:
“Entre os pecados maiores que os homens cometem, ainda que alguns digam que é a soberba, eu digo que é a falta de agradecimento”.
“A liberdade, Sancho, é um dos mais preciosos dons que os homens receberam dos céus. Com ela não podem igualar-se os tesouros que a terra encerra nem que o mar encobre; pela liberdade, assim como pela honra, se pode e deve aventurar a vida, e, pelo contrário, o cativeiro é o maior mal que pôde vir aos homens”.
“Embora eu saiba que não exista magia no mundo que possa mover e forçar a vontade – como alguns simplesmente acreditam -, é livre a nossa vontade, e não existe erva nem encanto que a force”.
Boa leitura!