A dor é algo tão natural, que para algumas ciências é um dos sintomas de que alguém esteja vivo. Ela também é um sinal de que alguma coisa está sendo processada, dentro ou fora de nós. Já no nascimento, experimentamos um grau de sofrimento e de dor que nos traz a vida. Se o bebê não chorar e não der bons gritinhos, não é um bom sinal. Ele deve sentir a separação provisória do corpo da sua mãe, lugar confortável, silencioso e quente, para um espaço frio e barulhento.
Sem essa dor, porém, não há vida: e nenhuma pessoa foi feita para viver eternamente como um feto uterino. Depois da dor do nascimento, ele sofre ao deixar o seio materno, e passa a ser alimentado por alimentos distintos. Seus choros e gemidos são distraídos e silenciados por uma oração, ou pelo olhar sereno da mãe que garante a estabilidade do pequeno neste mundo.
Assim crescemos e em cada fase de nossas vidas vamos nos deparando com algum grau de sofrimento e de desconforto. Há sofrimentos que sentimos sem gritar ou sem expressar nenhum sinal. Outros, são tão dilacerantes que pedem de nós o afastamento temporário das nossas atividades rotineiras. Por vezes, emitimos gritos e silenciosos pedidos de socorro.
A pessoa que sofre, sente-se caindo num precipício infinito, empenhando todos os esforços em busca de algum lugar para se apoiar. Este apoio, porém, muitas vezes parece simplesmente não existir. Entre os diversos tipos de sofrimentos, um que podermos elencar e destacar neste tempo, devido ao atual cenário de pandemia, é justamente o que é consequência da enfermidade.
Uma doença, seja ela qual for, é um sofrimento, porque nos faz identificar uma ameaça ao nosso corpo, condição da nossa existência nesta terra. Junto com as possíveis dores físicas, estão aquelas relacionadas ao mal-estar emocional e até espiritual. Sentimentos de frustação, de desinstalação, de desesperança, de fracasso e de impotência podem visitar o coração de um enfermo.
Em momentos assim, cada um de nós pode reagir de um jeito: com uma serena e esperançosa aceitação, com agressividade, com revolta, com desesperança, com medo…
Em muitos casos, as palavras ou gestos de alívio e de consolo daqueles que nos amam, não significam quase nada perante a gravidade e a intensidade do que se sente. No entanto, algo que a psicologia tradicional nos apresenta, sobretudo nas teses de grandes pensadores como Victor Frankl, é que: “Quando a circunstância é boa, devemos desfrutá-la; quando não é favorável, devemos transformá-la e quando não pode ser transformada, devemos transformar a nós mesmos.” Este grande homem acreditava que nós não somos somente produtos das nossas circunstancias, mas também das nossas escolhas e decisões diante do sofrimento. Vemos isso na vida de Jesus, quando na Cruz, afirma de modo livre: “Ninguém tira a minha vida, eu a dou livremente; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; esta é a ordem que recebi do meu Pai” (João:10,18). Vemos isso também na resposta da Virgem Maria diante do anuncio do anjo: “Maria, então, disse: Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a Tua palavra!” (Lucas:1,38).
Foi com essa mesma liberdade e com essa força de sentido existencial, que essa mulher permaneceu de pé, mesmo diante das torturas, da crucificação e da morte do seu divino Filho. Podemos concluir, portanto, que o ser humano tem uma capacidade magnânima de suportar o sofrimento e de transformar a dor em amor, aceitando a própria condição livremente e abraçando-a com serenidade pela força da caridade. A Cruz nos aponta o verdadeiro sentido do sofrimento: que é passageiro e que não se compara à glória que há de vir.
Eu vos desejo coragem em meio às vossas presentes tribulações!
Rodrigo Santos