Me chamo Beatriz Paukoski, tenho 20 anos. Atualmente, sou vocacionada na missão de Guarulhos, em São Paulo. Faço parte da Obra Shalom desde 2015, onde servi no Ministério de Teatro e Dança de 2015 a fevereiro de 2021, servindo atualmente no Pastoreio Jovem. Fiz Ballet Clássico por 12 anos, graduada atualmente até o sexto ano em Ballet Clássico e, sim, dança é parte de quem eu sou, da minha identidade, da minha essência.
Dom dado por Deus e que me aproxima dEle
A dança nada mais é do que a manifestação de emoções através de movimentos corporais. Então é o transbordar de um sentimento, é trazer para fora algo que já existe dentro, tornar um sentimento ou pensamento visível, palpável. A experiência de dançar para Deus não só me aproxima Dele, como me aproxima, de uma forma muito particular, de uma comunicação única com Ele.
Certa vez, eu tive uma experiência muito forte com uma coreografia na Via-Sacra, uma experiência com o amor de Deus, uma experiência com a dor da morte de Jesus que até hoje não sei explicar. Este foi um dos muitos casos onde eu dancei para expressar Deus e, na verdade, Ele mesmo se mostrou para mim através da dança. É uma forma de conexão íntima e particular, com os movimentos que nascem do coração e expressam o mais profundo sentimento e desejo que o nosso corpo é capaz de demonstrar. Tendo o corpo como ferramenta de oração muitas vezes, uma forma de me encontrar com Deus sem palavras, de olhos fechados e pés descalços; mais uma vez, só eu e Ele.
O louvor através do corpo
Sendo o corpo templo do Espírito, ele é capaz de expressar qualquer sentimento que desejarmos. Por exemplo, é diferente uma dança contemplativa, de uma dança de louvor, quando eu me deparo com o louvor por meio da dança eu me coloco em posição de gratidão, o nosso próprio corpo é capaz de notar a posição de louvor de cada membro nosso – todo “shalomita” que balance enquanto reza, sabe que o balanço da súplica ao Espírito, por exemplo, não é o mesmo balanço dos pés quando louvamos, nem os braços e nem os gingados (risos) – da mesma forma na dança, nosso corpo automaticamente assume postura e ritmo de louvor. Uma dança livre, abandonada e que expressa a gratidão com naturalidade, é sempre algo que vem de dentro.
Ministério de Teatro e Dança e sua missão de amor a Deus
No Ministério de Teatro e Dança eu pude aprender a colocar meus dons a serviço, onde aprendi a tirar a dança do padrão, a me desconstruir, a me deixar ser conduzida por Deus e a descer do pedestal que eu queria estar como bailarina. Eu fui formada para ter um Senhor na minha forma de me expressar, não para mim mesma.
Quando você é dançarino para Deus, o seu corpo é instrumento, é ferramenta e propriedade de Deus e isso exige cuidado e muita formação. Graças a Deus, a Comunidade tem um olhar muito atento e carinhoso a isso, onde somos formados nas mais diversas formas para cada vez mais podermos ser livres e despojados nas mãos do Grande Artista.
O Ministério me fez perceber que eu sou apenas uma tela em branco, e que cabe a Deus me colorir e me inventar com suas cores e formas. O serviço me fez crescer como artista, como pessoa e como vocacionada Shalom, me fez utilizar da minha melhor qualidade para servir a Deus, me ensinou a dar sempre o melhor que eu tenho, a ser um canal sempre disponível para Deus se expressar.
Quem ama, nada retém, não sente vergonha
A dança é uma expressão livre e ninguém é capaz de invalidar a sua dança, sendo que ela sempre vai ser legítima se sair do coração. A técnica e os padrões não são critérios para Deus, Ele acolhe tudo o que é sincero e verdadeiro. Deus acolhe a nossa dança como acolheu a oferta simples de Abel.
A vergonha de dançar muitas vezes vem dos padrões que estipulamos para os dançarinos, ou até mesmo por causa das limitações que colocamos em nós mesmos. Se o seu coração tem desejo de dançar, dance! Às vezes no palco, às vezes no seu quarto, às vezes no Ministério de Artes, às vezes na sua Oração Pessoal. Ser livre na nossa relação com Deus, se isso for dançar de vez em quando, vale à pena.
Manter o foco em Deus, sem deixar o ego se sobressair
É difícil, mas basicamente rezar com o que você vai dançar e coreografar de acordo com a proposta de Deus é o mais assertivo. Se eu me sobressair mais do que Deus, significa que aquele movimento/passo não foi Deus que pensou. Isso implica muitas vezes em fazer e refazer o processo criativo e coreográfico quantas vezes forem necessárias, até sentir que está coerente com aquilo que Deus deseja transmitir através da dança. É uma linha bem tênue entre o belo de Deus e o “vou ficar mais bonita na foto se for assim”, despojar-se da própria imagem e do orgulho é o caminho. Eu particularmente sempre antes de entrar em cena ofereço a Deus meus dons, meu corpo, criatividade e imaginação, para que nada venha de mim e para que, se algo de mim tenha sobrado naquela coreografia, que Deus me dê a graça de ser conduzida por Ele e não por meus próprios pés. Aliás, sempre faço essa oração, inclusive me ajuda na concentração e na ansiedade pré-palco.
Da mesma forma, quando eu recebo um elogio, procuro sempre entender o que aquilo causa em mim e o que eu posso fazer a partir desse sentimento, se eu posso aproveitar ou se eu preciso oferecer a Deus para ser formada, se serve de impulso ou se serve de crescimento do orgulho. Mas sempre sei que eu não fiz nada, quem fez foi Deus, se eu recebi um elogio foi porque Deus me deu a graça de dançar, o merecimento não é meu. Assim, quando eu rezei antes de entrar no palco, oferecendo a Deus também meu desespero de errar a coreografia, do medo, da vergonha e tudo mais, Deus venceu e me fez persistir até as luzes se apagarem, até os aplausos que não são para mim. Porque sem Deus, não teria chegado até ali.
Compreendendo isso, sinto gratidão em receber elogios, em saber que eu consegui ser um pouquinho do rosto de Deus para aquela pessoa, sinto gratidão a Deus por ter vencido os meus obstáculos e mais uma vez superar. Mas, cá entre nós, elogios são sempre bem-vindos, ditos da forma certa podem servir de incentivo, de motivação, de conforto, de carinho e, às vezes, até de Voz de Deus. É um processo de conhecimento de si diante dos elogios e também das críticas, onde cada um lida de uma forma, cada um tem um jeito de oferecer a Deus o que é dEle.
Por fim, é conhecer as maravilhas que Deus realiza na vida do outro através da minha, o elogio é a concretização do que antes apenas imaginávamos que o público sentiria, onde a partilha salva o artista e o público, é sobre dar e receber, no fim o Destinatário é o mesmo.
Shalom!
Beatriz Paukoski – Shalom Guarulhos