Vou confessar uma coisa para você a meu respeito. Quando comecei a minha caminhada de participação e serviço na Igreja, confesso que não gostava muito do período litúrgico que a Igreja chama de “tempo comum”. Na minha cabeça de adolescente, queria que a Igreja ficasse o tempo todo inventando coisas, motivações, festas, etc., para ajudar os fiéis a fugir do ordinário, enfim, da rotina. Com o tempo e o crescimento na fé, fui descobrindo que a rotina, se bem entendida e vivenciada, é um grande tesouro. Ela nos ajuda a estabelecer prioridades e a não descartar o que de fato é essencial na vida.
Normalmente, as pessoas que menos sabem lidar com as surpresas da vida, agradáveis ou desagradáveis, são justamente aquelas que não descobriram o valor do ordinário ou da rotina. Essas só conseguem rezar bem se estiverem num grupo de oração cheio de cantores e violeiros, ou participar bem da santa missa só se for “com esse ou aquele padre”, com “esse ou aquele” ministério de música, etc.
Esse fenômeno não acontece apenas na vida de fé, mas pode ter nuances em outras áreas da vida profissional, conjugal, paterna, fraterna, etc. Daí, podemos ver como são proféticos os testemunhos dos santos. Uma em especial que poderíamos destacar aqui é Santa Teresinha do Menino Jesus. Ela dizia para Deus, em suas orações, algo que foi um seguro e pessoal itinerário de vida: “Tu bem sabes, meu Deus, para amar-te neste mundo, só quero viver o hoje“.
Essa foi a grande sacada de mestre dessa jovem profeta da Igreja. Tanto que se dispôs a viver com inteireza de coração o momento presente, amando a Deus na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, com festas e solenidades ou no ordinário e nas aparentes rotinas da vida.
Tempo Comum, o amor a Deus no ordinário da vida
Esse é o grande tesouro que podemos descobrir em nossa vida de Igreja, caso vivamos com amor o momento presente. Esse período litúrgico, que a Igreja chama de Tempo comum, caracteriza-se por ser um tempo de vida ordinária de fé, onde podemos amar e louvar a Deus, mesmo sem excessos de motivações artísticas, litúrgicas, etc. A única motivação é o próprio Deus. O Tempo comum reflete, assim, a oportunidade de amarmos e servirmos a Deus na rotina e no ordinário da vida.
Você, que lê meus textos no Portal da minha comunidade, sabe dos meus limites de saúde. Eu sofro com perda de memória recente, desse modo, não faço ideia de como foi a última Santa Missa, a última oração pessoal, não sei contar como foi esse Tempo pascal. Mas, uma coisa que meus limites de saúde e de memória, me ensinam todos os dias é que existe uma eternidade escondida no tempo e no espaço. Eu posso tocá-la, ser envolvido por ela, se viver com amor e inteireza de coração o momento presente.
Por isso, posso dizer que o tempo comum é um maravilhoso e providente espaço da graça. Posso escolher estar com Deus, ouvir sua Palavra e celebrar com os irmãos minha fé, tendo como única motivação o próprio Deus. Mesmo sem grandes e bem produzidos arranjos litúrgicos, sem todo aquele aparato musical dos tempos festivos, mas tendo como centro de interesse apenas e exclusivamente o Senhor.
Se você conhece alguém, que precisa descobrir esse tesouro no Tempo comum, me ajude, faça com que essa matéria chegue até ele. Deus te abençoe sempre, Shalom!