A via da beleza como forma da Nova Evangelização
Parte I
Partilho com vocês algumas considerações para tentar compreender o momento que estamos vivendo.
É necessário ter plena consciência de ser filhos do próprio tempo. Somente assim se consegue agir no interior das problemáticas que animam a ânsia da evangelização. É inútil ceder a vários tipos de julgamentos, que inevitavelmente levam a uma descrição negativa do momento atual. Não se deve colocar-se acima do fenômeno, mas vivê-lo intensamente para captar o quanto de belo e de bom ainda é capaz de doar. Esta premissa é importante também para colher os limites do momento presente, submetido a um evento inesperado para um tempo como o nosso, que vive da primazia da técnica e da ciência: a pandemia que está afetando o mundo inteiro. Os limites postos à liberdade pessoal e a obrigação de rever algumas conquistas alcançadas nas últimas décadas, trouxeram com força também o tema da evangelização em tempos de Covid.
O momento presente que estamos vivendo chega como um evento inesperado para um tempo como o nosso que vive da primazia da técnica e da ciência. A pandemia que está atingindo o mundo inteiro, até hoje calcula-se que são aproximadamente 105 milhões de pessoas infectadas[1], não era prevista por ninguém. Este é o primeiro aspecto que impressiona. Vivemos em um contexto cultural fortemente marcado pelo progresso científico. A ciência parece guiar os nossos passos fornecendo aquelas certezas que aparecem como o sustento da existência, mas, ao contrário, tivemos que tocar com as mãos que também a ciência nem sempre possui as respostas às perguntas que fazemos. A própria ciência se encontrou despreparada e mostrou uma face que talvez não gostaria de revelar: aquela da impotência. Estamos no meio daquilo que filosoficamente falando, se define como “um evento contingente”. Um evento, portanto, que não era previsto segundo as leis da natureza, mas que ao mesmo tempo é possível. Algo que não é necessário, mas possível, se apresentou às portas da nossa história e nos envolve diretamente; a contingência da vida humana e do universo se tornou tangível e nos provoca a compreender o papel a que somos chamados a realizar.
Temos um mundo fortemente tecnificado e que, improvisamente, se descobriu fraco e frágil, sem certezas. A única realidade com a qual nos encontramos há meses é o grande desafio que o Covid-19 constitui. O mundo está diante de um grande desafio sanitário, econômico, existencial e espiritual, que tem poucos exemplos na história dos últimos séculos. Até hoje, certamente, não podemos prever a real medida da crise. Chegamos em brevíssimo tempo à descoberta de uma vacina que permite prever a possibilidade de vencer o vírus, contudo, não sabemos quando a pandemia acabará, nem conseguimos compreender se as várias mutações às quais assistimos serão capazes de restaurar a serenidade no coração das pessoas.
Aquilo que emerge, numa primeira análise, é que a pandemia evidenciou o medo e a falta de segurança. Tomamos consciência da vulnerabilidade da existência pessoal e da sua fragilidade. As certezas alcançadas se despedaçaram e o estilo de vida foi posto em discussão. As escolas ficaram fechadas, assim como as fábricas e os lugares de trabalho. Se instaurou um novo método pedagógico que não sabemos o quanto pode ser eficaz. Fomos postos brutalmente diante da solidão forçada, sobretudo no momento mais delicado da vida. Os nossos parentes, amigos e conhecidos morreram sozinhos, privados da presença da pessoa amada. E como se esta dor não fosse suficiente, não nos foi permitido nem mesmo acompanhar com a piedade necessária o ritual fúnebre. Sozinhos na morte e também depois, quando a presença poderia aliviar o sofrimento da separação. Em suma, a humanidade se sentiu ameaçada, se encontrou sozinha e cheia de medo, com tantas interrogações que inevitavelmente surgem na mente e no coração de alguém que experimenta em primeira pessoa o drama existencial.
Um primeiro aspecto me parece ser aquele de focar a nossa vida no essencial. É o momento de ajudar a colher aquilo que realmente importa na vida, e não seguir quem semeia o supérfluo e o efêmero como estilo de vida. Por isso o anúncio da metanoia, toca diretamente a nossa pregação do Evangelho como a oportunidade para mudar a nossa mentalidade e não seguir a superficialidade da vida, tantas vezes propagada por ideologias consumistas. A esperança cristã não é uma quimera, mas é fortalecida pelo amor que a faz brotar e a sustenta.
A evangelização precisa fazer com que este anúncio da esperança, que brota da ressurreição de Cristo, seja fortemente escutado. Não se deve ceder diante do sofrimento, da dor e da morte, porque estes foram vencidos pela força de vida que provém da ressurreição de Cristo. A cruz ficou evidente na pandemia, agora, portanto, é o momento de fazer resplandecer a luz da ressurreição; talvez não seja por acaso que o drama do vírus se manifestou com toda a sua força devastadora exatamente na proximidade da Páscoa.
✠ Rino Fisichella
[1] Dado relativo ao período em que a conferência foi proferida [NT].
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