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Série Profissionais da Saúde na Pandemia – Maryana Ricarte

Neste primeiro testemunho da série Profissionais da saúde na Pandemia, o relato de Maryana Ricarte, acadêmica de Medicina, que conta sua experiência de como é atuar neste tempo de pandemia

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Sou natural de Fortaleza – CE, atualmente estou na missão de Juazeiro do Norte e cursando o último ano da faculdade de medicina. Nestes últimos meses desde o início da pandemia tenho vivenciado situações antes inimagináveis. No final do mês de Fevereiro de 2020 quando o vírus ainda era uma realidade distante começou a surgir no meu coração o medo do novo, do inesperado tão comum nas nossas vidas, mas naquele tempo Deus foi consolado e pedindo calma e tranquilidade, afinal Ele já sabia que muitas outras coisas iriam acontecer.

Com o passar do tempo, o aumento do número de casos e toda a movimentação dos hospitais para se antecipar ao vírus foi gerando dentro do meu coração um grande movimento de dúvidas e incertezas. “Vai passar logo? Vai demorar? O internato vai parar? E meus pais? E meus avós? Chega, Jesus! E, agora??” As dúvidas eram enormes e constantes, o medo dos pacientes e em todos os profissionais era visível em cada olhar atento e aflito.

Tive alguns pacientes bem marcantes nesse período. Dona F. cheia de incertezas, mas com um único objetivo:  “Minha filha, eu vou rezar, as minhas filhas vão rezar, você vai rezar e conversar com os médicos pra eu ficar boa logo e ir pro meu sítio, me proteger desse vírus.”  De fato, todos nós rezamos e ela foi pro tão sonhado sítio.

Na UTI, vi casos muito distantes desse vírus, mas tão próximos dos abismos da sociedade, que o coração doía em vários momentos por achar que não poderia fazer mais nada por aquelas pessoas, até o dia que eu me aproximei, tracei o sinal da cruz no ombro e rezei baixinho, meio escondido, nem sei de fato se por mim ou por eles, mas o coração aquecia, o meu e, talvez,  o deles também.

Chegando ao fim dos breves relatos, lembro quase todos os dias de dois senhores, ‘Seu S e Seu S’, não errei, são ambos os ‘Seus Ss’. O primeiro tornou-se um grande amigo em poucos dias, parecia estar melhorando, mas Deus quis me mostrar que muitas vezes os nossos grandes amigos precisam estar perto Dele, pois talvez já tenham desempenhado grandes papeis aqui nesse mundo. Ganhei mais um intercessor no céu. O outro Seu S. também não quis mais ficar nesta terra onde tantas coisas roubam nossa esperança, nossa saúde, nossos verdadeiros amores, ele foi em busca de algo muito maior, foi ao encontro Daquele em quem ele tanto falava e pedia pelos seus.

Você pode não estar entendendo, mas para mim e para tantos outros a nossa vida aqui nessa terra é uma passagem, às vezes breve, às vezes não tão breve, mas sempre cheia de significados e ensinamentos. A vocação e a profissão que Deus me chama a trilhar e interligar de forma tão bela me fazem compreender, a cada dia que precisamos ter esperança, não nas coisas que passam, nas coisas materiais, precisamos ter todas as nossas esperanças em uma pessoa. Naquela pessoa que venceu tantos males, inclusive o maior deles, para nos dar a vida. A esperança é Jesus, que todos os dias se manifesta na vida de cada um daqueles que estão ao nosso lado e que esperam a nossa postura de amor, de cuidado, de zelo.

Nesse tempo, em que Deus me concedeu tantas graças de poder encontra-Lo nas pessoas, nos pacientes, nos técnicos, enfermeiras, nos meus colegas, nos zeladores tão especiais, em todos e diretamente através da vida de oração eu posso dizer, com toda a certeza que tenho nessa vida: A Esperança NUNCA decepciona!

Grandes são as obras que Deus nos faz tirar desse tempo, podemos até não perceber no agora, mas pare, veja o quando você cresceu, veja o quanto mais você ama aquilo que parecia insignificante, veja o quanto as suas relações pessoais tem mais valor. O vírus talvez não fosse necessário, mas nós estaríamos crescendo tanto em tantos aspectos das nossas vidas espirituais e humanas sem ele?  

Maryana Ricarte
Discípula da Comunidade de Aliança


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