Conta-se a história de um jovem missionário que viajava o mundo com sua esposa ofertando a sua vida pela Igreja, pelos jovens e pelos homens. Um dia, a bela esposa desse missionário recebeu o diagnóstico de câncer no cérebro, em estágio avançado e faleceu em poucos meses. O missionário então rezou da seguinte maneira: “Meu Deus, ajuda-me a passar por isso da forma mais cristã possível” – e completou: “Senhor, eu nunca vou te perguntar o porquê”.
Só existe uma cena, em todo o universo, que faz calar os questionamentos do coração do homem a ponto de permitir que uma oração como essa seja feita: um Deus que se abaixa, assume a condição humana e tem seu corpo dilacerado em frente a uma Mãe – que se mantém de pé contra todas as probabilidades – e um jovem apóstolo, com um amor tão grande no peito que o torna incapaz de fugir ou se esconder.
E então, aqui estamos, eu e você. Tomados pela mão da Santa Mãe Igreja, convidados pela liturgia a não desviar o olhar da cena que nos enche de constrangimento e temor. São três da tarde, o céu está nublado no Monte Calvário. O sangue do Cordeiro está em toda parte e continua a jorrar de suas chagas. Em meio a dor incalculável, Ele reúne forças para perdoar seus algozes e para nos entregar sua Mãe, sua amada. De pé, ela sustenta com o seu olhar o fruto bendito de seu ventre, enquanto uma espada de dor transpassa seu coração.
Podemos chorar, fugir e nos esconder como tantos fizeram. Mas o amor de Deus é tão grande, tão sublime que o Pai nos convida a um santo atrevimento: como crianças, beijar suas chagas, pois sua misericórdia infinita elimina as distâncias, a vergonha e o pecado; pular no colo de sua Mãe Santíssima e abraçá-la bem forte. Dar a mãozinha para João e dizer que vamos continuar a anunciar o Amor até que Cristo retorne. E é com essa ousadia inocente, que eu te convido a olhar para a Cruz nesse dia. Como um menino que acredita que um beijinho vai sarar toda a dor. Que nada tem a oferecer de valor, mas não nega sua presença e seu carinho ao ver cair as lágrimas de seus pais.
Irmãos, como crianças, sim, porque não temos todas as respostas. Não sabemos o “porquê” daquilo que nos acontece. Não conhecemos o que nosso Pai conhece. E só um coração de criança é capaz de continuar amando quando explicações não existem. De seguir, sem saber para onde, confiando não no caminho – que não se pode ver – mas na Mão que segura a nossa. De se abandonar nos braços da Providência, silencioso mistério, que cuida de absolutamente tudo, cuida de ti e de mim.
Esse mistério foi escondido dos grandes e revelado aos pequeninos. Por isso desejo a você e a mim, a graça de nos abaixarmos hoje, e daqui de baixo, amar o Crucificado com coração de menino, sem tantas perguntas, sem tantas palavras, sem tanta cerimônia. Sem esse olhar acostumado nos adultos chatos e sérios que não se maravilham com nada, mas com o deslumbramento e esperança que apenas as crianças conseguem ter.
Vamos, meninos! Corramos!
Beijar as chagas do nosso Amado e consolar o Coração da Mãe.
Eu, começo, eu, eu: “Ave-maria…”
Bianca de Castro
Missionária Comunidade de Aliança