Depois da cultura do descartável, apresentada pelo Papa Francisco, eis que surge a cultura do cancelamento. Esta tem se mostrado mais danosa do que aquela, porque promove um doloroso isolamento. Contudo, as duas têm como origem experiências humanas que são potencializadas nas redes sociais. Neste texto, vamos entender um pouco mais sobre o que é essa cultura do cancelamento, quais as suas consequências e como combatê-la.
O termo “cancelar” era utilizado quando precisávamos encerrar um determinado serviço de TV por assinatura, de internet ou de assistência médica, por exemplo. O “cancelar” também era servia para nos desobrigar de um compromisso que, antes, havia sido marcado. No entanto, o termo ganhou um novo sentido nos últimos anos, referindo-se, agora, ao isolamento intencional de pessoas.
Essas pessoas, na maioria das vezes, são famosas e acabam sofrendo o “cancelamento” por conta de uma fala ou mesmo de uma postura que não agrada a um indivíduo ou mesmo a um grupo de indivíduos. A partir do “cancelamento”, essa pessoa afetada, além de sofrer com o isolamento intencional, se vê bombardeada por ofensas e outros tipos de “ataques”, especialmente, em suas redes sociais.
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Como surgiu a cultura do cancelamento?
Segundo reportagem sobre o assunto feita pela Folha de São Paulo, a cultura do cancelamento surgiu a partir de um movimento feminista nos Estados Unidos chamado MeToo, que ganhou força em 2017. As pessoas envolvidas nesse movimento utilizaram o termo “cancelar”, pela primeira vez, para se referir a um diretor de Hollywood que estava sendo denunciado por assédio sexual.
Rapidamente, a expressão ganhou o gosto dos movimentos e passou a ser utilizada também por diferentes grupos para denunciar casos que consideravam ofensivos. Entretanto, na Internet, o termo ganhou uma nova roupagem, servindo, inclusive, para se referir a pessoas que têm opiniões contrárias a de um grupo ou segmento social. Com isso, além das celebridades, pessoas comuns passaram ser canceladas. Para isso, basta ter uma opinião contrária a de um determinado grupo.
As consequências do cancelamento
As consequências do cancelamento são perseguições, ameaças e outros tipos de atos – ainda que sejam virtuais – que possam atingir a pessoa cancelada. Não é estranho, inclusive, que essa pessoa cancelada passe por traumas psicológicos ou tenha até mesmo receio de voltar a usar as redes sociais. O isolamento intencional provocado pela cultura do cancelamento é algo doloroso.
Podemos nos recordar, inclusive, dos leprosos que não podiam entrar na cidade por conta de sua enfermidade. Eles sofriam por conta de sua doença e também por conta do isolamento social. Era uma situação muito delicada. Entretanto, a postura de Jesus em relação aos leprosos é, para nós, uma lição atual e fundamental para lidar com essa cultura do cancelamento. Ele não teve respeito humano, foi ao encontro daqueles que eram rejeitados. Jesus resgatou a dignidade de muitos, mudando também a forma como viam a sociedade.
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Encontrar mais e cancelar menos
Papa Francisco tem falado, cada vez mais, sobre a cultura do encontro, sobre ir ao encontro dos mais necessitados, dos pobres materiais e espirituais. Essa experiência de “encontrar” é totalmente contrária ao “cancelar” e por isso chega a ser, inclusive, uma resposta para essa tendência de isolamento que a sociedade tem potencializado nas redes sociais nos últimos tempos. O Santo Padre fala sobre o encontro até mesmo de pensamentos contrários, de opiniões divergentes. Esse encontro se dá a partir do diálogo e do acolhimento.
“Na raiz do Evangelho da misericórdia, o encontro e a recepção do outro entrelaçam-se com o encontro e a recepção de Deus: acolher o outro é acolher a Deus em pessoa!” (Papa Francisco)