Sem Categoria

O menino da praia

comshalom
Criança brincando na praia.

Era uma segunda-feira, fui à praia. Enquanto estava lá, jogando frescobol com minha irmã e minha cunhada, observei ao longe um menino que nos fitava sem descanso.

Era pequeno, devia ter por volta de uns cinco ou seis anos de idade. Ao ver nossa bolinha correndo para longe de nós, sem pestanejar, o garoto foi ao encontro dela e trouxe-a até nós novamente. “Foi um prazer”, ele nos disse.

                Depois de algum tempo, chamei-o para jogar comigo. Com muita dificuldade, o garoto arremessava a bola em minha direção. A raquete de madeira lhe pesava bastante aos braços e a falta de coordenação, própria da idade, lhe impedia de acertar o alvo. Jogamos, e jogamos, e jogamos. Cansei-me de jogar.

Foi, então, a vez da minha irmã. Cansou-se ela também, e deu-se início o turno da minha cunhada. Por fim, a brincadeira chegou ao fim. Não que houvesse surgido algum cansaço por parte do garotinho, mas porque um aceno de braços sinalizou que nosso almoço havia chegado à mesa.  Demos um rápido “tchau” a ele, e fomos almoçar.

Inocência que nos salva

                No meio do nosso almoço, porém, o menino veio até nós para se despedir. Seu pai se levantara de sua mesa apontando que era hora de retornar a casa.  Nas suas poucas palavras, o menininho nos disse que no dia seguinte nos veríamos de novo, afinal, “amanhã é feriado”. Pressupôs, em sua inocência, que todos nós estaríamos, no dia seguinte, naquele mesmo lugar com ele mais uma vez. “Feliz dia das crianças adiantado pra você” disse a ele. “Para você também”, ele me devolveu.

                Fiquei surpresa com aquelas palavras, comovida com a forma com que aquele garotinho de cinco anos via o mundo. Ao ouvir sua resposta, rimos da situação, nos divertimos com a inocência de “João”. Voltamos para casa. Eu, no entanto, fiquei reflexiva.

Na véspera do dia das crianças, fui recordada da beleza que reside nos pequenos. Desprovidos de preconceitos, de maldade. Abertos ao outro, abertos ao novo. Disponíveis. Cheios de energia. O pequeno “João” não hesitou em pegar a bolinha para nos ajudar, muito pelo contrário, correu para tal.

Uma persistência incansável

Questionei-me sobre as tantas vezes que paraliso e não ajudo o outro naquilo que está completamente dentro do meu alcance. Muitas dessas vezes, eu não precisaria nem “correr” para fazê-lo, bastaria que tivesse um olhar atento sobre o outro. Um olhar atento e curioso como o de uma criança.

Enquanto brincávamos, não importava quantas vezes o pequenino errasse seu alvo, ele incansavelmente recomeçava. No final das contas, o que mais me atraiu não foram seus acertos ou erros, mas a determinada determinação com a qual ele persistia em acertar o tal alvo.

Lembrei-me de todas as vezes que desisti. Recordei-me de todas às vezes nas quais pensei que Deus olhava mais para o meu erro do que para minha vontade de acertar. Pedi a Deus para que eu tivesse a mesma perseverança que o garotinho na minha corrida rumo ao céu.

“Deixai vir a mim os pequeninos”

Chamou-me atenção o pequeno ter achado que também eu era criança, assim como ele. Ao me recordar desse momento, fiz uma oração interior. Quem me dera, Jesus olhar para mim e ter a mesma constatação do menino da praia. Quem me dera, Jesus fitar seus olhos em mim e reconhecer-me como um de seus pequenos.  “Delas é o reino dos céus”, Ele nos disse. 

                Meu último clamor, foi à Nossa Senhora Auxiliadora, em honra de seu dia. Pedi a ela que intercedesse por todas as nossas crianças. E pedi mais: pedi que por sua intercessão, nós, adultos, nos lembremos de que dentro de nós habita uma criança.

Que, pela graça de sua intercessão, a determinação, a disponibilidade, a alegria, a pureza e a inocência, próprias de criança, não morram dentro do nosso corpo de adulto. E que, longe de infantilidades, possamos ser reconhecidos por seu Filho entre os pequenos. Os pequenos por amor. 

Anne Elise, Missionária da Comunidade de Aliança, Missão de Aracaju


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado.

  1. Anne Elise, lindo texto, comovente. Parabéns! Fez-me lembrar as palavras do Papa Francisco na audiência desta quarta-feira. Assista no Youtube, Vatican News.

  2. De fato, Jesus sabia bem o que estava dizendo quando disse que precisávamos ser como crianças para adentrar ao Reino dos Céus.