Me chamo Lia Lioba, 24 anos, consagrada na comunidade de vida e celibatária. Sou natural de Fortaleza (CE) e é lá que tudo começa.
Vou partilhar bem do comecinho, pois como fazer uma leitura da minha história sem contar o início de tudo, né? Meu pai era alcoólatra, vivia bem durante a semana, mas, nos finais de semana, dava seus sumiços. Em uma dessas idas aos barzinhos do bairro, teve uma experiência com Deus. Ele sentiu que Deus o questionava acerca de qual futuro ele daria para mim (na época eu só tinha 1 ano de idade). Os colegas, viram que ele estava se questionando sozinho e o mandaram para casa, porque achavam que ele já tinha bebido demais estava fora de si. Meu pai sabia muito bem o que estava acontecendo. Logo em seguida ele começou a se cuidar e foi convidado para um grupo de oração no Shalom. A experiência do meu pai mudou todo o rumo da minha história que só estava começando.
A Vocação Shalom e minha família
Então, para vocês entenderem, eu fui crescendo na Comunidade, meus pais entraram para o vocacional, depois ingressaram na Comunidade. Aos meus 12 anos, pedi para minha mãe me levar a um grupo de oração, e após muita insistência, ela me levou. Tive minha primeira experiência lá, uma experiência que era minha, só eu e Deus. Não aquela dos meus pais. Como isso mudou as coisas em meu coração. Eu desejava estar no Shalom, sempre desejei, porém agora eu queria ir porque eu também fazia parte, lá era meu lugar. Tinha amigos e assim fui me engajando na Obra e estava muito bem e feliz. Quando completei 16 anos já desejava mais. Eu era pastora de um grupo de adultos (sei o que você está pensando! Mas sim, Deus me pedia maturidade). E meu coração queria dar mais a Deus, foi então que pedi aos meus pais para fazer o vocacional. Eu estava muito empolgada, desejosa e com medo, contudo prevaleceu o desejo do meu coração de dar mais.
Caminho vocacional
Fiz, então, 2 anos de vocacional. O primeiro fiz porque sentia o desejo de corresponder, mas não entendia muito e realmente não estava pronta pra dar passos tão concretos. Terminei o ano tendo certeza que o Senhor me chamava a Comunidade de Aliança (pobre iludida). Porém, o Senhor em Sua divina e imensa misericórdia não me deixou enganada por muito tempo. No meu segundo ano vocacional, tudo mudou, fui fazendo escolhas concretas e me voltando ainda mais pra Obra, para o que Deus me pedia.
Fui discernida para coordenar a Secretaria Jovem. Eu não tinha tempo para nada mais a não ser os meus estudos e Shalom. Isso me dava muita alegria, viver acompanhando, reuniões, jovens, criatividade, evangelização, eventos, atrair o povo, fortalecer o PJJ, etc. Eu me sentia realizada e entendi que era ali que o Senhor me queria. Eu conseguiria viver assim e era feliz, eu conseguiria viver como meus pais e daria certo.
Sou Comunidade de Vida
Entretanto, não era assim que Deus pensava. Em um retiro pessoal, na capela da Diaconia, o Senhor disse qual era Sua Vontade pra mim, me lembro de dizer: “Senhor ao que você me chama?”, e Ele disse: Comunidade de Vida. Eu sempre ouvi que Deus falava e você conseguia distinguir, que era uma Voz diferente e naquele dia eu ouvi, ela realmente existe. Incrédula e questionadora, como sempre, disse: “é nada, me prove”.
Ele me deu a passagem que fala: “Doravante, serás pescadores de homens”. Eu fiquei sem chão, porém não ia acreditar nisso e pedi outra passagem, nela, não me recordo muito, onde o Senhor falava para o povo que não acreditava em sua palavra, no que ele estava dizendo. Diante de tudo isso não tinha pra onde “correr”, ele queria que eu deixasse tudo.
Eu não tinha coragem de falar para os meus pais o meu desejo de partir em missão, não sabia como eles reagiriam. A semente tinha sido lançada e aos poucos foi crescendo. Durante o resto do ano fui aprofundando, rezando e sendo muito bem acompanhada. Chegou o tempo das experiências, fiz uma na Comunidade de Vida por 10 dias, e logo depois, fui para o “Dê suas férias pra Jesus”, na Diaconia.
A resposta é pessoal e livre
Neste tempo pude ter a experiência de vida comunitária, vida de oração, vida apostólica; realidades boas e ruins de uma vida ofertada. Quando minha acompanhadora chegou de férias e me acompanhou, ali em meio a choros e sorrisos eu apresentei a ela o desejo de Deus e a certeza do meu coração. Você então pode pensar, está tudo resolvido. Entretanto, quero te dizer quando o nosso sim é dado, é daí que precisamos escolher. Meus pais estavam esperando a resposta para as promessas definitivas no Carisma. Tudo parecia fora do lugar, nada estava bem.
E eu, desesperada, liguei pra minha acompanhadora pedindo para ela confirmar se era isso mesmo, porque se eu fosse pra comunidade eu não queria voltar, não queria dar um passo e mudar depois e ela com toda sua sabedoria disse: “Lia, nem eu, nem Emmir, nem Moysés, ninguém pode dizer o que você é, porque quando você entrar e tiver um tempo difícil você vai dizer: ‘Foi a Aline que disse que eu sou Comunidade de Vida’, e tem que ser Deus a te dizer, porque assim será ele que vai te sustentar”.
E assim eu mandei a carta pedindo ingresso à Comunidade. Contar aos meus pais não foi fácil, todos acham que por serem da Comunidade seria tranquilo, contudo depois de muito tempo entendi, eles são pais e sentem como todo pai e mãe.
Ingressei na Comunidade e fui para Juazeiro do Norte, terra do meu Padim. Lá eu aprendi muito, amei muito, fui muito amada, “torrei” no sol e rezei pra não ventar porque vinha com muita areia. Brincadeiras à parte, lá eu não só lembrei como também experimentei o que minha acompanhadora falou. Diante das dificuldades, permaneci porque sabia Quem tinha me chamado: Deus. Firmada Nele, tudo tinha um sentido.
Cheguei na missão já avisando que era só um ano e que eu ia viver porque Deus pedia, mas não esperasse mais que isso, não falei só para Deus mas também para minha formadora comunitária e como sempre o senhor me convenceu de qual era a Sua vontade e durante todo o ano eu fui aprofundando Seus desejos e sonhos para mim.
Novos caminhos
No final do ano, pedi para ingressar no discipulado e a resposta ao meu pedido foi favorável. Sempre vou dizer isso, esse foi o melhor ano da minha vida. Fui para o Discipulado de Quixadá, como existe um mistério naquela Serra, como eu amei, amei, amei, sofri, sofri, sofri e sempre encontrei Deus. Como todo mistério não se explica só se vive e eu vivi. Aqui já quero falar o início de outra fase na minha vida, como uma grande amiga diz; “não bastava eu ser missionária, Deus me chamava também ao Celibato”.
Eu comecei a me interessar por tudo que era do celibato, mas longe de mim pensar em ser chamada a essa vivência, me senti muito impelida por Deus, mas eu não queria. E um dia, como eu sou doida, disse para Jesus que se Ele me chamar ao celibato que Ele me conquistasse, mas eu duvidava que Ele conseguiria e pedi como sinal que Ele me desse um ícone do Esposo Eucarístico (tinha um irmão que sentava ao meu lado nas aulas e ele tinha um ícone desse, mas só lembrei e deixei Jesus livre).
A confirmação do chamado
Um certo dia, depois da oração comunitária, esse irmão chegou para mim e disse que na oração o Senhor pedia pra despojar esse ícone para mim. Eu quase desmaiei e fiquei perguntando se ele tinha certeza disso, de que era para mim e assim se iniciou o meu processo de acolher, mas lógico eu ainda não queria. No meu aniversário que é um dia depois do natal eu tive a experiência de Santa Teresinha, do ínicio ao fim do dia e ali eu fui convencida do seu chamado para mim.
Diante das dificuldades, permaneci porque sabia Quem tinha me chamado: Deus. Firmada Nele, tudo tinha um sentido
Fui enviada em missão para a missão de Maceió(AL) (que se denomina como A MELHOR MISSÃO DO MUNDO.) Lá, vivi meu segundo ano de discipulado, minha consagração, comecei meu caminho para o celibato, me consagrei no celibato e experimentei ser “mãe de um povo”, como o Senhor havia me falado antes de me enviar para Maceió.
Depois de 4 anos em Maceió fui transferida para Sobral(CE). Um novo tempo, uma graça nova, mas o mesmo amado e o mesmo coração que deseja responder. Olhando para trás louvo a Deus por tudo que Ele foi realizando, seu cuidado, pois não saberia onde estaria se não fosse Ele. Hoje sou Lia, filha de Deus, comunidade de vida, Shalom, Celibatária e que grande e bendita loucura eu escolhi pra minha vida. Shalom!
Lia Liboa
Comunidade de Vida, celibatária