Dia 13 de novembro de 2021, realizamos uma ação em prol do Dia Mundial dos Pobres na Comunidade São Rafael. Ao chegar, me deparei com uma comunidade muito carente, além de ser muito pobre, eles vivem em meio a esgoto aberto e perto de um rio poluído. Então quando chove alaga e muitos perdem seus pertences. É um lugar em situação de risco e um perigo para a saúde.
Antes de irmos, fizemos uma campanha de arrecadação de dinheiro para compra de cestas básicas. Ao chegar lá, nos dividimos em duplas e fomos até as famílias nas casas, entregando cestas básicas e rezando por elas.
Ida ao encontro dos que necessitavam
Especialmente, quando cheguei na casa de um senhor, me deparei com tanta pobreza. Ele nos recebeu com muita alegria e foi mostrando sua casinha. Quando eu e meu irmão começamos a rezar por ele, impondo as mãos, de repente, ele começou a chorar e pediu estendendo as mãos com tanto apelo para que a gente as segurasse.
Eu de um lado e meu irmão do outro. Ele apertou bem forte nossas mãos como se dissesse: “Não soltem”. Continuamos rezando e depois, ele ainda chorando, não parava de nos agradecer e pedia para a gente voltar com um olhar de súplica. Olhei no fundo dos olhos dele e tive uma experiência muito forte.
Me emociono, novamente, agora que escrevo, porque foi muito forte e nunca vou esquecer daquele olhar. Agora sim entendo quando dizem que vemos Jesus nos pobres (Mt 25,34-45). Ele pediu para escolhermos uns ímãs (ele tinha vários) que tinha na sua geladeira como lembrança para não esquecermos dele.
Depois que saímos de lá, andando pelas ruas, com os outros irmãos, apareceu uma senhora pedindo a mesma coisa, com muito apelo, para que a gente voltasse. Aquilo doeu no meu coração.
Fazer tudo com muito amor
Saí de casa muito feliz porque tínhamos conseguido uma boa quantidade de cestas básicas, voltei para casa com o coração doendo e comecei a chorar sem parar sentindo uma dor forte no peito. Fui dormir muito triste me sentindo impotente de não poder fazer mais. Ah…! Como queria poder fazer mais por eles! Mas tem uma frase de Santa Madre Teresa de Calcutá que me consola:
“Nós não podemos fazer grandes coisas, mas fazer coisas pequenas com grande amor.”
Estamos ali para ser amigos deles. Sim, amigos! Amigos em que eles possam contar, amigos que estão ali para conversar, amigos que sentam do lado para ouvir com atenção, amigos que tocam, amigos que olha nos olhos. Uma vez, um deles falou: “O que a gente mais precisa não é comida. Comida é até fácil de conseguir, nós precisamos de atenção. Gostamos de vocês, porque vocês nos dão essa atenção que os outros não dão. Muitos só chegam e dão comida, dão esmola, mas não se aproximam”. Porque, infelizmente, a sociedade exclui e ignora essas pessoas, como se elas não fossem humanas, como se elas não tivessem um coração, uma alma. Isso me dói!
Ver Jesus no pobre
A cada terça-feira que volto para casa pós-ministério aprendo algo. Eles me ensinam muito! O que estou aprendendo com eles? A ver cada vez mais Jesus no pobre, no enfermo, no necessitado; estou aprendendo a amar cada vez mais o próximo; ser mais caridosa; ter mais misericórdia; me doar mais; olhar menos para mim e olhar mais para o outro; ser menos soberba e menos egoísta. Quantos aprendizados!
Há tempos que sentia em meu coração a vontade de ajudar, de estar envolvida em algum projeto social, até de ONGs de animais. Até que dentro do Shalom, quando soube da existência da Promoção Humana, logo me vi ali. Não tinha dúvidas deste chamado de Deus: um chamado sem volta. Não consigo ficar indiferente a dor do outro, não dá para ver um irmão pedindo ajuda e simplesmente ignorar. Esse ministério é para mim um lugar de cura que me leva à santidade.
Quando tenho oportunidade, estou sempre convidando todos a viverem essa experiência de ir ao encontro do pobre. Nem que seja uma única vez. Não tem como sair e voltar do mesmo jeito porque algo, nem que seja pequeno, lhe toca. É uma experiência única e inesquecível.
Quem sabe tocando nessa realidade, seja também o seu chamado. A Promoção Humana vive da Providência e sabemos que ela é muito ampla. Ainda somos poucos e precisamos de mais irmãos dispostos a abraçar esse serviço tão lindo! Por sermos poucos, infelizmente não conseguimos fazer o que queríamos. Portanto para que ela cresça, precisamos de mais voluntários, que pode ser você!
As passagens que me fazem meditar é em 1Jo 3, 17-18. 23-24; Mc 14,7. Levando-as comigo, me faz não esquecer do meu compromisso primeiramente com Deus.
“Como seria evangélico, se pudéssemos dizer com toda a verdade: também nós somos pobres, porque só assim conseguiríamos realmente reconhecê-los e fazê-los tornar-se parte da nossa vida e instrumento de salvação.” (Mensagem do Santo Padre Francisco para o V Dia Mundial dos Pobres – XXXIII Domingo do Tempo Comum – 14 de novembro de 2021)
Vocacionada na Comunidade Católica Shalom
Que testemunho forte e arrebatador que nos faz refletir sobre o sair de nós em prol do irmão mais necessitado. Fica claro que essa necessidade não é somente material, mas muitas vezes também espiritual como ficou claro no relato do senhor e da senhora porque os irmãos rezaram neste dia.