Lembro do dia em que o Mestre quase morreu de amor. Ele amava aquela família de Betânia de todo o Seu coração, por isso voltou exatamente para o lugar em que os judeus queriam apedrejá-Lo até a morte. Decidiu voltar não pelas pedras, mas pelo nosso amigo Lázaro, que estava morrendo.
É por esses que o Mestre sempre volta, por Seus amigos, pelos que O acolhem em sua casa. Não que exclua ninguém, mas, aos amigos, Ele ama de perto. E começou a caminhar em direção à Betânia.
Os outros estavam preocupados, tentavam seguí-Lo, mas Ele andava rápido. Depois de algum tempo, disse-nos: Lázaro morreu. Iríamos a um velório, então? Valeria a pena arriscar ser apedrejado para participar de um enterro? Ele continuou a caminhar. Os outros não estavam entendendo mais nada.
Eu falei que fôssemos também, pois se o Mestre ia ao encontro da morte, o certo seria morrermos com Ele. E comecei a andar mais rápido para alcançá-Lo. Foram dois dias nessa correria e quarenta quilômetros de marcha. Quando finalmente chegamos, Lázaro já estava no sepulcro há quatro dias. Já não havia chance de vida.
A casa de Marta e Maria estava lotada. Praticamente o povoado todo circulava pelo lugar. Antes mesmo de chegarmos em casa, Marta veio ao nosso encontro. Ah, Rabi, se tivesses chegado antes! Crês que Eu sou a Ressurreição e a vida?
Ela assentiu e ainda disse: És o Cristo, o Filho de Deus.
Ela sabia. Os amigos sabem. Aquela fé pungente fez arder o meu coração. Eu quero crer!, pensei. No mesmo instante, o Mestre me olhou. Teria “escutado” os meus pensamentos? Maria chegou. Vi o Mestre chorar por nosso amigo.
As irmãs conduziram-nos ao sepulcro. A multidão nos acompanhou. Estavam admirados com o amor do Mestre por Lázaro. Mas também duvidavam: Não poderia ter evitado que morresse?
Poderia, mas o Seu amor não é daqueles excessivamente protetores, que apenas desejam evitar sofrimentos, mas é amor que purifica, santifica, converte, ressuscita, ensina a crer. Além disso, nunca vi o Mestre chegar atrasado em nenhum de Seus compromissos.
E quando chegou ao túmulo, mandou que tirassem a pedra. Ele prometeu que quem acreditasse, veria a glória de Deus. Eu quero ver e crer, Mestre! E o morto saiu! Apareceu andando, todo desajeitado, ainda envolto em faixas. Que gritaria! Alguns correram, outros creram, outros começaram a tramar ainda mais fortemente a Sua morte. Essa foi a primeira vez que fui testemunha de uma ressurreição.
Caifás, entretanto, tinha razão. Nem os judeus, nem nós, estávamos entendendo o que realmente estava para acontecer. Era preciso que um só morresse, para que o povo não viesse a perecer. Era uma profecia.
Desde esse dia, o Mestre precisou se afastar do convívio entre os judeus. Fomos para Efraim. Estava perto da Páscoa. Será que subiríamos a Jerusalém mesmo assim? Seis dias antes da grande festa, retornamos à Betânia e fomos recebidos com um banquete daqueles. Foi naquele dia que Maria gastou todo o nardo que tinha, ungindo os pés do Mestre. A notícia sobre a ressurreição de Lázaro se espalhou e partimos para Jerusalém. O Mestre entrou na cidade montado em um jumentinho e foi recebido como um rei. Só depois compreendemos o porquê.
Aquela semana passou incrivelmente rápido. A ceia, o lava-pés, a traição, o mandamento novo de amarmo-nos uns aos outros… Ele anunciou que iria para a casa do Pai e nos prepararia um caminho. Eu não entendia. Onde era essa casa do Pai? Como poderíamos conhecer esse caminho? Eu quero acreditar! Respondeu-me que Ele mesmo era o caminho, a verdade e a vida e que, por Ele, iríamos nós também ao Pai. Acredita-me!
Disse. Eu quero crer, Mestre! Falou-nos do Espírito, da Videira verdadeira, de permanecer no Amor, outra vez falou sobre o mandamento novo, da alegria completa, chamou-nos de amigos.
Depois da ceia, ainda naquela noite, fomos ao jardim. Os guardas chegaram, prenderam-No e levaram-No a Anás. Nós nos dispersamos. Somente Pedro e João seguiram-No. Depois, só João permaneceu. Logo, veio o outro dia e o Mestre, de fato, morreu de amor. Morreu por mim, por Seus amigos e também por aqueles que O crucificaram. Na Sua hora, eu não estava. Queria ver e crer, mas não estava.
No domingo, viram o Senhor. Mais uma vez, eu não estava. Queria ver e acreditar, minha busca pela fé chegou ao extremo. Ele voltou oito dias depois. Veio por mim, pois é meu amigo. Não apenas O vi, mas toquei-O. Que choque! Seria essa a sensação de ver e crer? Sim! Seu coração pulsava vigorosamente. Era como a sarça que queimava, mas não se consumia. Era um braseiro vivo. Toquei o Seu lado aberto. Era real. Era vivo. Era o céu. Eu vejo e creio, meu Senhor e meu Deus! Tornaste-me, por fim, um homem de fé, uma testemunha da Tua Ressurreição.
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