Formação

A alegria e o humor dos cristãos

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crianca-sorrindo-38055“Alegrai-vos sempre no Senhor; repito, alegrai-vos!” Esta ordem que São Paulo deixou como legado à Igreja, algumas vezes é esquecida. Não raramente, as pessoas pensam ser a alegria incompatível com a vida entregue a Deus; criam na sua fantasia um protótipo de cristão que não condiz com a realidade: extremamente sério, até mesmo carrancudo, fechado, que nunca brinca nem ri jamais.

Entretanto – não apenas a alegria! –, humor e fé não são incompatíveis! Rir é próprio do homem – alguém já viu um cachorro rir? Filosoficamente, podemos concluir: se o homem é imagem de Deus, logo o riso também é um “atributo” divino. Por isso, o humor é uma coisa séria demais para ser confiada aos piadistas ou “desfrutado” apenas pelos não-crentes. A alegria é necessária ao cristão! Jesus mesmo disse: “Que a minha alegria esteja em vós e que a vossa alegria seja completa” (Jo 15,11). E por muitas vezes o tema da alegria é retomado nas Escrituras! A história da Igreja também é cheia de exemplos e de ensinamentos acerca da alegria. Olhando a vida dos santos, em praticamente todos eles encontramos momentos hilários ou palavras dirigidas acerca da alegria. Citando apenas um, São João Clímaco diz: “Deus não pede nem deseja que o homem se aflija; prefere que ele se rejubile e ria por causa do amor que Deus prova por ele”. Podemos daí concluir que Deus tem senso de humor. Quando convivemos com uma pessoa, acabamos de uma forma ou de outra assimilando características suas. Quanto mais rezamos, mais vemos a vida de forma bela e engraçada, logo, é possível afirmar que é assim que Deus a vê, apesar de tudo!

Humor, o que é?
O Dicionário Larousse dá uma boa definição do humor: “Forma de espírito que se ocupa a denunciar sem acusar e com aparente impassividade os aspectos engraçados, insólitos ou absurdos da realidade que parece a mais normal possível”. O humor, na verdade, é aquele refinamento que torna o homem mais agradável aos seus semelhantes e é uma excelente prevenção contra a angústia. Diante de uma situação difícil, temos duas opções: nos distanciar um pouco e rir, ou ficar presa a ela e nos angustiar. Há coisas bem sérias que devem ser tratadas como tais, mas muitas das que damos essa classificação não a merecem se as olhamos do alto.

A alma humana é imensa, por isso é tão fácil ao homem se enrolar nos problemas, por não conhecê-la tanto. O humor é um remédio contra isso, dá leveza à vida e faz apreciar as coisas de forma mais colorida; ajuda-nos a tomar certa distância dos problemas: de longe, as colinas não têm mais aparência de montanhas, então compreendemos o que verdadeiramente tem importância e o que não tem. É o Espírito quem nos ajuda a manter a distância adequada.

É importante dizer também que o cristão exclui o humor negro, se é muito pesado, porque para ele o mundo não tem nada de absurdo. Por está unido a Deus, permanece firme na esperança e sempre crê que tudo pode melhorar.

O humor é diferente da ironia, que ridiculariza e “manga”; ao contrário, combina com a indulgência e a benevolência.

Na vida cristã, o humor está ligado ao discernimento e ao bom-senso. Por isso, é preciso pedí-lo a Deus e aprender a exercer o humor, antes de qualquer coisa, a respeito de si mesmo. O humor dá clareza ao olhar, o senso real da vida, coloca as coisas em seu devido lugar.

Na vida espiritual, o humor diante das coisas de Deus é um ponto considerável. Quantas vezes arquitetamos projetos que vêm desarranjados pela liberdade amorosa de Deus! O que fazer? Ou se aceita e se aprecia o cômico da situação, se tem senso de humor, e as coisas se tornam leves; ou pelo contrário, se cai na angústia, se perde a confiança e não se avança mais.

Certa vez alguém disse: “Você quer fazer o bom Deus rir? Fale a Ele dos seus projetos”. Se se pede a Deus o senso de humor, Ele vai dar, e cada um o recebe na sua própria maneira e na sua própria medida.

Alguns casos para rir

Conto agora algumas histórias que mostram o quanto é gostoso apreciar a vida com humor.

Winston Churchill assistiu à inauguração de sua própria estátua. “Que impressão você teve?”, perguntou um amigo. “Só posso dizer uma coisa – respondeu ele –, a partir de agora, vou olhar os pombos de um outro ângulo”.

O Papa Leão XIII festejava seu 90º aniversário. Passava pela multidão todo paramentado. As senhoras piedosas de Roma gritaram: “Possa o senhor viver cem anos, Santo Padre”. O Papa, que já tinha 90, responde de improviso: “Minhas filhas, por que limitar as bondades da Providência divina?”

Uma irmã consagrada no Movimento dos Focolares subiu ao palco para dar seu testemunho. Na tentativa de puxar o microfone para mais perto de si, encontrou-se com o pedestal quebrado nas mãos; então, com bastante senso de humor, olhou para o público e disse: “Inaugurei bem!” Todos começaram a rir, inclusive ela; consertou-se o pedestal e ela iniciou sua fala.

Outra irmã, consagrada na Comunidade de Vida Shalom, foi convidada para pregar num certo bairro de Fortaleza e combinou com as pessoas a hora de irem apanhá-la. Quando chegaram, informaram-na que iriam de ônibus. Foram até a parada e, ao chegar o ônibus, quase não conseguiram entrar. Praticamente pendurada na porta, nossa consagrada perguntou mentalmente: “O que é isso, Senhor?” E ouviu a resposta no coração: “Ônibus lotado, minha filha!”

O humor na vida dos santos

Como foi dito antes, é muito comum encontrar na vida dos santos episódios engraçados, que revelam sua forma pitoresca e bem humorada de ver o mundo. Aqui, elencamos alguns.

São Tomás de Aquino

Um dia, um irmão chamou Tomás de Aquino: “Venha rápido à janela, irmão Tomás, um elefante voa! Tomás correu à janela e todos riram de sua ingenuidade. São Tomás respondeu: “Prefiro acreditar que um elefante seja capaz de voar do que imaginar que um religioso possa mentir”.

Thomas More

Thomas More, condenado a morrer decapitado por não aceitar o cisma da Igreja Anglicana, não perdeu o bom humor nem mesmo no dia de sua morte. Apoiado no braço do tenente da torre, pedia sua ajuda para subir no cadafalso, e acrescentou: “Para descer, eu me virarei sozinho”. Depois de lida a sentença: condenado por permanecer fiel à Igreja Católica, dirigiu-se ao carrasco e disse: “Tenha coragem! Cumpra seu ofício; mas meu pescoço é muito curto, cuidado para não manchar sua honra!” Finalmente, ao colocar o pescoço na guilhotina, afastou a barba que crescera na prisão e disse: “Não corte minha barba. Pelo menos ela não traiu o rei”.

Santo Agostinho

Falando sobre a ressurreição de Lázaro, que intrigou o povo a ponto de tramar seu assassinato, Santo Agostinho diz: “Oh cogitação infeliz e furor cego! Se Jesus pôde ressuscitar um morto, por que não poderia ressuscitar um assassinado?”

No livro “Cidade de Deus” tece uma crítica à multiplicidade dos deuses pagãos: “Dá-se somente um porteiro a uma casa; não é mais do que um homem, e basta. Mas é preciso três deuses: Fórculus para a porta, Cárdea para os gonzos e Limentinus para a soleira. Fórculus, sozinho, não poderia cuidar ao mesmo tempo da porta, dos gonzos e da soleira?”
São Filipe Neri

O padroeiro dos humoristas, São Filipe Neri, tinha bastante senso de humor. Para citar apenas um dado, quando ele adorava o Santíssimo Sacramento, frequentemente, entrava em êxtase. Ao celebrar a missa de maneira privada, o sacristão fechava a porta, ia cuidar de suas ocupações e voltava ao final da manhã; dava-lhe uma pequena sacudida e ele terminava a celebração. Entretanto, quando a missa era celebrada com a presença da comunidade, era necessário que o sacristão colocasse perto do missal um livro com histórias cômicas que aconteceram a um sacerdote napolitano chamado Arlotto. Ao sentir que o êxtase se aproximava, Filipe Neri lia algumas pequenas histórias, ria, saía do estado místico e terminava a celebração. As pessoas nem se davam conta, pois na missa, antes do Concílio Vaticano II, o sacerdote ficava de costas para a assembleia.

Santa Teresa de Ávila

Santa Teresa escreveu: “Tenho mais medo de uma religiosa descontente do que de uma tropa de demônios!”

Certo dia em que ofereceram deliciosos quitutes a Santa Teresa de Ávila e a São João da Cruz, ele disse: “Se se pensasse na justiça de Deus, não se comeria jamais”, mas ela respondeu: “E se se pensasse em sua bondade, se comeria sempre”.
Bem-aventuranças…

Bem-aventurados os que sabem rir de si mesmos, porque nunca deixarão de se divertir.
Bem-aventurados os que sabem distinguir uma montanha de uma colina, porque economizarão muitos medos.
Bem-aventurados os que são capazes de repousar e de dormir sem procurar se desculpar, porque se tornarão sábios.
Bem-aventurados os que são bastante inteligentes para não se levar muito a sério, porque serão apreciados por todos os que os rodeiam.
Bem-aventurados os que são atentos aos apelos dos outros sem contudo se crerem indispensáveis, porque serão semeadores de alegria.
Felizes os que sabem olhar seriamente as coisas pequenas e com bom humor as coisas sérias, porque irão longe na vida.
Felizes os que sabem sorrir e esquecer as ofensas, porque seu caminho será ensolarado.
Felizes os que são capazes de interpretar com benevolência as atitudes dos outros mesmo se as aparências são contrárias, porque passarão por tolos, mas a caridade tem este preço.
Felizes os que pensam antes de agir e rezam antes de pensar, porque evitarão, com certeza, muitas besteiras.
Felizes os que sabem calar e sorrir mesmo quando alguém lhes corta a palavra ou contradiz, ou quando lhes obrigam a voltar sobre os mesmos passos, porque o Evangelho começa a penetrar no seu coração.
Bem-aventurados, sobretudo, os que sabem reconhecer o Senhor em todos aqueles que encontram, porque terão a verdadeira luz e a verdadeira sabedoria.

Outras Histórias… Para consolar um jovem monge, aflito por sua feiura, o ancião lhe diz: “A feiura tem uma grande vantagem sobre a beleza: Ela dura!”

Um irmão foi procurar Elias, o solitário, e disse: “No mundo eu conheci um homem que tinha uma grande ideia dele mesmo”. “Está certo – respondeu Elias – que quando alguém tem uma grande idéia de si mesm, é a única grande idéia que ele tem”.

Um irmão que tinha deixado o mundo para viver no deserto, recebeu da sua família a seguinte mensagem: “Volta para casa! Não corre atrás do impossível. O único valor autêntico é a família”. No verso da mensagem encontrava-se, entretanto, escrito: “Uma vez que tu decidas voltar, avisa-nos a tempo, porque alugamos o teu quarto”.
Pai Euloge disse: “Não me fale de monges que não riem jamais. Eles não são sérios”.

A professora preparava seus alunos para a visita do vigário. “Se o vigário perguntar: ‘Quem vos criou?’ No mesmo instante o Antônio se levanta e diz: ‘Foi o Bom Deus que me criou!’”. No dia da visita, o vigário pergunta: “Meus filhos, quem vos criou?”. Silêncio na sala de aula. Uma garotinha, percebendo o embaraço da professora, se levanta e diz bem alto: “Sr. Vigário, o menino que o Bom Deus criou não veio hoje. Ele está doente”.

Formação: Junho / 2004


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