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A arte de ser padre

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A arte de ser padre

Um jovem perguntou a Dom Ivo Lorscheiter: “O que devo fazer para ser um bom padre”? Dom Ivo respondeu: “Seja um homem de Deus e trate bem o povo. O resto eu ajeito”.

Parecia ouvir o eco do ritual de ordenação: “Uma vida segundo o Espírito; solicitude para com os enfermos e os pobres; a autoridade discreta; o amor sincero; a simplicidade do coração”. E mais: “Tenha o Espírito de santidade e uma vida firme e estável em Cristo”.

Um padre confidenciou: “O que deu motivação vocacional renovada a mim foi o cuidado do povo”. Jesus disse: “Ovelhas sem pastor”.

O que na sociedade secularizada dificulta o pastoreio é o contrário da “autoridade discreta”: a arrogância e o autoritarismo. Pois na modernidade a pessoa se sente autônoma e livre. Quer ser tratada como tal e prefere ser encantada, não dominada. Um católico desabafou: “Não suportamos mais o autoritarismo de certos padres. Simplesmente abandonamos a Igreja”. O ritual de ordenação insiste no espírito de serviço, pois Cristo “não veio para ser servido, mas para servir”.

Precisamos também enfrentar a questão da honestidade e da transparência na vida administrativa da Igreja, pois a corrupção se infiltra em todos os poros da sociedade brasileira. Num encontro de representantes das Igrejas cristãs ecumênicas com o Governo da Holanda, um Ministro questionou: “O Brasil é um país corrupto. Vocês sabem disso. Qual a garantia de que as pessoas das Igrejas também não sejam corruptas, uma vez que fazem parte do mesmo povo”? Devemos de fato nos questionar: qual a garantia?

O amor sincero a Cristo e ao povo leva um jovem a optar pelo ministério presbiteral. Para renovar a atitude amorosa existe a graça: Deus não trai as pessoas. Ele as chama e as acompanha com seu amor e seu poder. Mas o povo também é chamado a fazer a sua parte, seja orando pelo padre, seja inserindo-o na convivência familiar e social. É o apoio das famílias e da comunidade. O padre, em boa parte, é o que o povo dele faz.

No “dia do padre” os católicos são convidados a rever sua maneira de tratar seu padre e se questionar se falam o suficiente com Deus a respeito. Nós, o clero, também precisamos colocar a mão na consciência e nos perguntar se nos apoiamos como irmãos e se oramos uns pelos outros. Oremos, pois, pelos quase 17.000 padres do Brasil e os mais de 400.000 presbíteros espalhados pelo mundo, a serviço de um bilhão e cem milhões de católicos.

Dom Sinésio Bohn
Bispo de Santa Cruz do Sul


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