Papa João Paulo II, Homilia por ocasião da solenidade litúrgica da
Assunção de Maria, em Castelgandolfo
“O último inimigo a ser destruído será a morte” (1Cor 15,26). As palavras de Paulo, que acabam de ser proclamadas na segunda leitura, ajudam-nos a compreender o significado da solenidade que hoje celebramos. Em Maria, que subiu ao céu no termo da sua vida terrestre, resplandece a vitória definitiva de Cristo sobre a morte, que entrou no mundo em virtude do pecado de Adão. Foi Cristo, o “novo” Adão, que venceu a morte, oferecendo-se em sacrifício no Calvário, em atitude de amor obediente ao Pai. Assim, Ele resgatou-nos da escravidão do pecado e do mal. No triunfo da Virgem, a Igreja contempla aquela que o Pai escolheu como verdadeira Mãe do seu Filho unigênito, associando-a intimamente ao desígnio salvífico da redenção.
É por isso que Maria, como é bem evidenciado pela Liturgia, constitui um sinal consolador da nossa esperança. Olhando para ela, arrebatada na exultação das plêiades angélicas, toda a existência humana, impregnada de luzes e de sombras, abre-se para a perspectiva da bem-aventurança eterna. Se a experiência cotidiana nos faz sentir diretamente como a peregrinação terrestre se desenvolve sob o sinal da incerteza e da luta, a Virgem exaltada na glória do paraíso assegura-nos que o socorro divino jamais nos faltará.
“Apareceu um grande sinal no céu: uma mulher revestida de Sol” (Ap 12,1). Olhemos para Maria, caríssimos irmãos e irmãs que aqui vos encontrais reunidos num dia tão especial para a devoção do povo cristão. Saúdo-vos com grande afeto… A cada um formulo votos para que viva com alegria a solenidade deste dia, rica de sugestões para a meditação.
Hoje aparece um sinal grandioso no céu: a Virgem Maria! É dela que nos fala com linguagem profética o sagrado autor do livro do Apocalipse, na primeira leitura. Que prodígio extraordinário se apresenta diante dos nossos olhos estupefactos! Acostumados a olhar para as realidades da terra, somos convidados a elevar o nosso olhar para o alto: rumo ao céu, que é a nossa pátria definitiva, onde a Santíssima Virgem espera por nós.
O homem moderno, talvez mais do que no passado, tem interesses e preocupações materiais. Busca segurança e não raro experimenta a solidão e a angústia. Além disso, que dizer do enigma da morte? A Assunção de Maria é um acontecimento que nos interessa de perto, precisamente porque cada homem é destinado a morrer. Todavia, a morte não é a última palavra. Ela, garante-nos o mistério da Assunção da Virgem, é a passagem para a vida, ao encontro do Amor. É a passagem para a bem-aventurança celestial, reservada a quantos se empenham em prol da verdade e da justiça, esforçando-se por seguir a Cristo.
“Desde agora, todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc 1,48). Assim exclama a Mãe de Cristo no encontro com a idosa prima Isabel. O Evangelho acabou de nos propor de novo o Magnificat, que a Igreja canta todos os dias. Trata-se da resposta de Nossa Senhora às palavras proféticas de Santa Isabel: “Feliz aquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor” (Lc 1,45).
Em Maria, a promessa torna-se realidade: ditosa é a Mãe e felizes seremos nós, seus filhos se, como ela, escutarmos e pusermos em prática a Palavra do Senhor.
A solenidade deste dia abra o nosso coração para esta exaltante perspectiva da existência. Possa a Virgem, que hoje contemplamos resplandecente à direita do Filho, ajudar o homem contemporâneo a viver, acreditando “que terão cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor”.
“Hoje, os filhos da Igreja na terra celebram com alegria a passagem da Virgem para a cidade superna, a Jerusalém celeste” (Laudes et hymni, VI). É assim que a Liturgia armênia canta no dia de hoje. Faço minhas estas palavras, pensando na peregrinação apostólica ao Cazaquistão e à Armênia que, se Deus quiser, realizarei daqui a pouco mais de um mês.
Confio a ti, Maria, o bom êxito desta nova etapa do meu serviço à Igreja e ao mundo. Confio a ti o auxílio aos fiéis, a fim de que sejam sentinelas da esperança que não desilude e proclamem incessantemente que Cristo é o vencedor do mal e da morte. Ilumina, Mulher fiel, a humanidade do nosso tempo, para que compreenda que a vida de cada homem não se esgota num punhado de pó, mas é chamada a um destino de felicidade eterna.
Maria, “Tu que és o júbilo do céu e da terra”, vela e intercede por nós e pelo mundo inteiro, agora e sempre!