“Se eu entender a beleza do esperar, não terei pressa em adiantar os planos de Deus”, hoje uma irmã de célula pronunciou essa frase de São João Paulo II, e ela ecoou no meu coração. Eu, como tantos outros irmãos, sou uma discípula sem tau. Sou uma discípula que, assim como tantos irmãos, espera pelas demoras de Deus.
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Neste dia tão próximo ao aniversário da vocação, esperava dizer “hoje eu acordei, beijei o meu tau e parti para a minha missão”, hoje pela manhã não existia tau. Mas existia Deus, e existia a missão. E lá estava ela, a missão, me esperando bem na tela do meu computador.
Hoje eu acordei e vi que o sinal externo da minha vocação está no telemonitoramento dos meus pacientes. Hoje eu acordei para mostrar, através da webcam, que existe esperança, acordei para gravar um vídeo sobre o valor da vida. Hoje, acima de tudo, eu acordei Shalom e percebi que o sinal externo da minha vocação neste dias está em cada olhar atento dos pacientes que me olham pela tela do celular. O sinal externo está em cada profissional de saúde que entra em contato comigo, em cada áudio que minha mãe me envia perguntando se estou bem e como está o “povo do shalom”.
Percebi, por fim, que o tau está em cada pedacinho da missão que Deus me confiou. Hoje essa missão mudou de cara, mas Deus permanece o mesmo e as alegrias e dores da oferta permanecem as mesmas.
Neste tempo de espera, percebi que realmente não temos outro tesouro senão a Deus. Pude contemplar que o céu é bem ali, e pude ainda mais desejar esse céu. Neste tempo de espera pude perceber que Deus me deu irmãos e amigos que permanecem pois nasceram verdadeiramente de um socorro de Deus na minha vida.
Este tempo de espera me mostrou uma beleza que eu desconhecia: a beleza das demoras de Deus. Esta demora me forma, me ensina. Estas demoras me relembraram que o alvo sempre é a santidade, e a santidade, caros leitores, muito custa. Esta demora me ensinou que a busca não é pelo sinal, não é pelo externo, a busca é pela cruz de Cristo.
A cruz? Sim, a cruz. É dessa cruz que brota a vida, a esperança e a sabedoria para viver os planos de Deus. É dessa cruz, que hoje vivemos, que brota em meu coração a ansiedade por ter mais uma vez comigo o meu Senhor Eucarístico.
Meus irmãos discípulos sem tau, eu entendo a sua dor por esperar, eu a vivo com vocês. Mas eu vejo nessa dor a face do Cristo que sofre conosco, este Cristo que nos amou primeiro.
É esta mesma face que olhou para Maria do alto da cruz e nos entregou a ela. É esta face meus irmãos que um dia veremos com os aspectos da ressurreição mas sem perder as marcas da cruz. No dia que eu receber o tau é esta face que eu quero contemplar, pois é esta face que me lembra aonde eu coloquei meu amor e confiança.
Talvez irá demorar muito para que eu verdadeiramente entenda quais os propósitos de Deus com as esperas deste tempo. Mas de algo eu tenho certeza: eu sou filha de um Deus vivo, Shalom, Discípula da Comunidade de Aliança e muito, muito feliz.
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Ozana Brito | Discípula da Comunidade de Aliança Shalom em Natal (RN)