Nesse período, notei que havia uma palmeira no jardim da minha casa há um tempo dada como morta, segundo meus olhos leigos que nada entendem de biologia. Chegando mais perto vi que suas folhas estavam começando a nascer de novo. Parei, observei. Contemplar essa cena me fez refletir sobre muitas situações da minha vida dadas como perdidas, mas sabe qual foi o meu próximo pensamento? “Hummm, vou tirar uma foto bem massa e colocar nos meus stories com uma frase bem profunda de esperança”.
A câmera do meu celular ainda está quebrada, porém no momento estou mais preocupada em consertar o meu olhar.
Confesso que perdi uma boa parte do meu tempo decidindo se a frase seria o trecho da música do Davidson Silva “Vem morar, dar vigor ao que não tem” ou outra frase qualquer. No fim, lembrei que estava sem câmera. Voltei para a correria da vida e fui trabalhar desapontada, nem liguei mais para a palmeira. Depois de poucos dias a percebi novamente e a planta já estava vigorosa e bem verde outra vez, muito mais bonita que antes.
Depois vivi uma experiência bem marcante rezando com a vida de São Pedro. Lá foi a minha mente super treinada para redes sociais e cheia de ideias mirabolantes pensar num cenário legal para contar o que Deus me disse. Fiz um barquinho de papel numa folha amarela e iria colocá-lo na fonte da Diaconia, tirar aquela foto com foco somente no primeiro plano, escolher um filtro nostálgico, escrever um textão e postar no meu feed. Frustração de novo, mais uma vez esqueci que minha câmera estava quebrada. Amassei o barquinho e guardei somente para mim a experiência que queria compartilhar com o mundo.
Guardo minhas experiências no coração?
No fim das contas comecei a me questionar: para que servem as boas experiências que vivo a cada dia? Tenho me deixado interpelar por Deus através delas? Ou somente tenho enxergado o mundo para encontrar conteúdo para as minhas redes sociais? Guardo minhas experiências no coração para transformá-las em vida? Como quero contá-las? Para quem quero contá-las?
Percebi que a segunda coisa que frequentemente perguntava para alguém muito querido quando o reencontrava após muito tempo, depois do “tudo bem contigo?” era “vamos tirar uma selfie?” E logo depois vinha aquela famosa frase “tirei mais de uma foto só para garantir”. Constatei que muitas vezes não buscava garantir a qualidade do encontro, do momento a ser vivido, do descanso, dos olhos nos olhos.
Percebi também que há muito tempo eu não sabia o que era admirar o que está ao meu redor sem ter medo de perder o momento porque eu não registrei. Entre meu olhar e a beleza, sempre havia uma tela, um dispositivo móvel.
Percebi que o que não estava funcionando tão bem assim era meu olhar, estava perdendo a capacidade de me maravilhar, como sempre fala o Papa Francisco. Estava acostumada a enxergar através das telas.
Resolvi então aproveitar esse tempo sem câmera para recuperar a minha capacidade de contemplar e admirar o que está a minha volta sem ter aquela preocupação excessiva em postar nas minhas redes sociais. Quero aproveitar mais os momentos, levar as minhas experiências de cada dia para a minha oração, aprender com elas e não reduzi-las somente a curtidas, visualizações e comentários. A câmera do meu celular ainda está quebrada, porém no momento estou mais preocupada em consertar o meu olhar.
muito bom