Contava um velho rabino: cada um de nós está ligado a Deus por uma corda. E, quando cometemos uma falta, a corda se rompe. Mas quando nos arrependemos da falta, Deus dá um nó na corda. Com isso, a corda fica mais curta do que antes. E o pecador fica um pouco mais perto de Deus! Desse modo, de falta em falta, de arrependimento em arrependimento, de nó em nó, aproximamo-nos de Deus. Por fim, cada um dos nossos pecados é ocasião de diminuir um pouco a corda com nós e de chegar com mais rapidez perto do coração de Deus. Tudo é graça! Mesmo os pecados.
Chegando a Páscoa acredito que muitos católicos aproveitem para cumprir o chamado “preceito pascal”. É o mínimo que a Igreja, como uma boa mãe, nos pede: aproximar-nos dos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia ao menos uma vez ao ano, justamente por ocasião da Páscoa.
Simplesmente a Igreja nos convoca a deixar-nos reconciliar com Deus e com o próximo. O perdão e a paz do coração são sinais da novidade pascal. Entenderíamos e experimentaríamos bem pouco da paixão, morte e ressurreição de Jesus se não fizéssemos também a experiência do arrependimento e do perdão.
Mais uma vez o Senhor quer nos ajudar a nos libertar de tantas amarras que podemos ter acumulado com o passar do tempo e, quem sabe, dos anos. Não dá para voltar atrás, nem corrigir o mal feito, mas podemos recuperar as relações, mudar atitudes, renovar o nosso olhar. Onde deixamos rastos de raiva e de mágoas podemos colocar palavras de desculpa sincera. Lá onde julgamos com pré-conceito e cegueira, podemos aproximar-nos desarmados e confiantes. Se formos injustos, aproveitadores, falsos e enganadores, podemos dizer a verdade, praticar uma justiça reparadora, consertar os estragos do nosso interesse e do nosso egoísmo.
A reconciliação e o perdão fazem milagres. Nos aproximam mais de Deus porque, descobrindo quanto nos custa perdoar, podemos perceber a grandeza da sua misericórdia. Da mesma forma a reconciliação nos aproxima novamente dos nossos irmãos. Se conseguirmos voltar a nos comunicar, a nos entender e a nos amar, alcançaremos também a paz do coração. Fica bem mais agradável viver num ambiente alegre e fraterno do que numa situação de conflitos, meias palavras, diretas e indiretas.
Cabe a nós descobrir onde e como estamos errados, para corrigir as nossas faltas. Muitos se perguntam como reconhecer claramente os pecados para deles pedir perdão. Depende. Se olharmos os erros dos outros, os escândalos e as violências, podemos pensar que somos quase santos. Contudo nós cristãos só devemos olhar a Jesus Cristo, para com Ele aprender a amar e a doar a nossa vida. A luz da paixão do Senhor e do alvorecer da Páscoa ilumina os segredos mais escondidos do nosso coração. Até os que escondemos a nós mesmos. Não tenhamos medo, a vida nova que Jesus nos oferece, deve ser nova mesmo, nada de velho, caduco e escondido. Tudo luminoso e sincero.
Outra dificuldade para uma boa Reconciliação, muitas vezes, é o nosso receio a abrir o coração ao padre para que nos ofereça, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. Isso é compreensível e extremamente humano. Mas o padre não é, e não pode ser, um fiscal, um juiz, muito menos um fuxiqueiro. É rigorosamente obrigado ao silêncio pelo segredo da confissão, porque ele mesmo é um pecador, porém, naquele momento, representa o próprio Jesus que dizia com força e esperança aos pecadores e pecadoras arrependidos: – Vá em paz, os teus pecados estão perdoados!
Deixemos, nesta Páscoa, que o Senhor repita para nós essas palavras. Estamos precisando do seu sangue para nos lavar de novo, do seu amor e da sua luz para recomeçar. Coragem! De nó em nó, chegaremos mais perto de Deus e dos irmãos.