Formação

A cura do cego

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José Ricardo F. Bezerra
Consagrado na Comunidade de Aliança Shalom
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O método da Lectio Divina pode ser utilizado com qualquer trecho da Sagrada Escritura. Como sabemos, a Bíblia tem 73 livros, com diversos estilos e formas literárias. Nos Evangelhos, temos basicamente os discursos, ensinamentos e narrativas dos atos e acontecimentos da vida de Jesus Cristo. Embora as parábolas e outros ensinamentos do Mestre sejam mais diretos, as passagens que narram suas ações escondem riquezas imensas, das quais podemos usufruir melhor com a Lectio Divina.

Veja, por exemplo, a cura do cego Bartimeu, narrada por São Marcos, o mais antigo dos três evangelhos sinóticos. Leia atentamente e à meia voz Mc 10, 46-52. Nesta primeira leitura devemos prestar atenção ao que o texto diz, mergulhando na cena. Leia mais uma vez, com esse objetivo, procurando não perder nada. O segundo degrau da Lectio é a meditação, na qual fazemos outra leitura silenciosa, procurando ouvir o que o texto me diz, pessoalmente, na minha situação de hoje. Se você já havia lido esta passagem, foi em outras circunstâncias de sua vida. Hoje, porém, ela tem um sentido novo, uma graça nova para você.

Tente mais uma vez! O terceiro passo é a oração, baseada naquilo que Deus lhe mostrou na meditação. E mesmo que tenha sido apenas uma pequena coisa, já é motivo de orar: “Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e vos será aberto” (Mt 7,7). Por fim, é o momento da contemplação, que não é reservada para alguns poucos ou para os “santos” e “místicos”, mas para todo aquele que deixa-se conduzir pelo Espírito Santo, o Consolador. Abra-se à sua ação e deixe-se levar às “águas puras”, às “doces pastagens” e repousar tranqüilo.

Partilhemos a cura do cego de Jericó que hoje pode ser sinal para a sua cura. Jesus entrou e saiu daquela cidade, assim como, ainda hoje, Ele entra e sai em nossa vida, passando às vezes despercebido. Os discípulos e grande multidão o acompanhavam. O cego não era surdo, nem mudo e muito menos “besta”. Ao saber quem era a causa daquele burburinho todo da multidão, põe-se a gritar: “Filho de Davi, tem compaixão de mim!”. E o versículo 48 diz: “E muitos o repreendiam para que se calasse. Ele porém gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem compaixão de mim!”. Por que será que alguns na multidão não queriam que ele gritasse o nome de Jesus? Para não cansá-lo ou preservá-lo? Mas ele viera para isso, para “evangelizar os pobres, proclamar a libertação dos cativos, e aos cegos a recuperação da vista.” (cf. Lc 4,18). Ou talvez o imaginasse apressado para chegar logo a Jerusalém.

Mas Jesus nunca tem pressa! Ele é o Senhor do tempo e está sempre a nos esperar. Ao ouvir o clamor do cego, Jesus se detém e diz: “Chamai-o!”. Aqueles que antes o mandavam calar, agora podem ser instrumentos de sua cura: “Coragem! Ele te chama. Levanta-te!”. Escutaste isso? Não tenhas medo, pois o Senhor te ouviu e te chama. Não fique prostrado, derrotado, Ele quer e irá transformar a tua vida hoje. Levanta-te!
“Deixando a sua capa, levantou-se e foi até Jesus” (v.50). Às vezes parece difícil deixar algo (ou alguém) para ir até Ele, mas é o sinal que nos pede. E é tão desproporcional aquilo que deixamos em relação com o que recebemos de Deus que até parece ridículo! Mas como custa!…

Então Jesus lhe disse: “Que queres que eu te faça? O cego respondeu: Rabbúni! Que eu possa ver novamente” (v.51). Poderíamos pensar: “Que pergunta boba, essa. Perguntar a um cego o que ele quer”. Mas não é tão óbvio assim. Na maioria das vezes, enganamo-nos dizendo que não precisamos de cura. E o primeiro passo para ser curado é admitir a necessidade dela. O segundo é a fé. O terceiro é ir até Jesus e o quarto é pedir e esperar em sua misericórdia. Ele sempre nos dá o melhor. Quando o cego começou a gritar por Jesus ele sabia que aquela era a grande oportunidade de sua vida. Mais do que voltar a enxergar, fisicamente, ele queria a cura espiritual, a salvação da alma, como demonstra a resposta de Jesus: “Vai, a tua fé te salvou”. Isto sim era mais importante e o Senhor, vendo sua fé, concedeu-lhe a vista, e a vida em abundância.

Retome sua oração, imitando o cego. Esta simples jaculatória: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim”, tem sido usada desde os primeiros tempos da Igreja e levado a grandes conversões e curas.

Deixe-se, enfim, conduzir pelo Espírito Santo à graça da contemplação, que não é “fazer”, mas deixar que “Deus faça”.


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