Sacrifício não é, originalmente, um ato custoso que implica dor, renúncia ou sofrimento.
Quando dou algo a uma pessoa, o que dou passa a ser dela, terá, conforme o caso, o seu nome, a sua marca ou o seu estilo. Um carro sempre sujo ou sempre limpo indica o dono que o possui.
O que dou a Deus passa a ser de Deus. Tudo o que é de Deus é santo. O que dou a Deus passa a ser santo, sagrado. Assim, uma casa, transformada em capela, passa ser sagrada. Uma madeira ou pedra, transformada em altar, passa a ser sagrada. Um metal, transformado em cálice, passa a ser sagrado.
Quando os povos antigos, ofereciam a Deus seus frutos, novilhos e ovelhas, essas oferendas passavam a pertencer a Deus. Passavam a ser santas, sagradas. Oferecer algo a Deus é fazer essa oferenda tornar-se santa, sagrada.
Diziam: “Santo fiz”- “sagrado fiz” – “sacro fiz” – donde nasceu a palavra : “sacrifício”.
Sacrifício é tudo aquilo que tiro de mim dou a Deus. Como os novilhos e ovelhas e pombos eram mortos no altar e para morrer passavam ainda pelo sofrimento e pela dor, a palavra “sacrifício” passou a carregar, também, o sentido de dor, sofrimento, morte.
Vítima – não é o que sofre. Vítima é o que é oferecido a Deus. Vítima seria sinônimo de “dom” – “presente”- “oferenda”!
Como a vítima era imolada no altar, passando pela dor, pelo sofrimento e sofrendo a morte, a palavra vítima passou a ter o sentido de ser “aquele que sofre”.
Deus é infinitamente perfeito e nada lhe falta. Tudo o que temos na terra é criatura de Deus. Depois que Jesus veio até nós, não tem mais sentido oferecer as coisas que temos como um sacrifício agradável a Deus. Hoje, o que temos de melhor na terra e agradável a Deus é o Seu Filho Jesus Cristo. Se quisermos fazer uma oferenda agradável a Deus, a única coisa que temos de bom e a maior é Jesus Cristo presente na hóstia consagrada.
Na Eucaristia, oferecemos ao Pai, o Seu próprio Filho Jesus Cristo que está presente na hóstia consagrada. Ele é uma oferenda pura, santa, imaculada e agradável ao Pai. Deus tem que aceitar! Deus não pode não querer receber nossa oferenda santa: o Seu amado e Único Filho!
Jesus que é o Santo, é o grande sacrifício que podemos oferecer ao Pai. A vítima subtraída ao poder humano. É o nosso dom a Deus. Passa a ser de Deus. Não oferecemos mais novilhos ou ovelhas, mas o próprio Jesus Filho querido de Deus!
Como não posso morrer no altar com Jesus, em cada missa de que participo, eu me ofereço ao Pai, com Jesus. Ofereço minhas alegrias, vitórias, realizações, meus trabalhos e também minhas contrariedades, tristezas, decepções, angústias, doenças e sofrimentos. Coloco minhas alegrias e dores junto às de Jesus, que no altar da missa, é oferecido ao Pai.
A partir do momento em que me ofereço a Deus, em minhas alegrias e sofrimentos, com Jesus, não tenho mais nem direito nem motivos para clamar da vida. Um católico que participa bem da missa vive sempre alegre na alegria de Jesus.
A oferenda sacrifical é um ato de culto – social, em grupo de pessoas. Não se pode oferecer em particular, em nome próprio. Mas um, pelo grupo, o sacerdote, oferece ao Pai o nosso Dom Jesus Cristo. Mesmo quando um padre rezasse sua missa sozinho, sem acompanhantes, ele estaria rezando em nome de um grupo de pessoas (sua comunidade) e não em nome próprio.
Na missa, Cristo é o sacerdote. Cristo é o nosso Dom, Ele é, também, a vítima. Quando um padre dá a bênção ao povo, ao final da missa. É Jesus Cristo que abençoa o povo na pessoa do Padre. É Jesus, que na pessoa do sacerdote, oferece ao Pai Jesus presente na hóstia e vinho consagrados. É um mistério. Mas aceitamos esse mistério em nossa vivência de fé.
Cada missa é o prolongamento do calvário; é a continuação da morte de Jesus, é um sacrifício, é um dom eterno.
Na missa Jesus nos congrega, nos reúne em torno Dele. Para participar bem da missa eu devo me transformar em dom, em vítima e com Jesus, entregar-me, no altar, ao Pai: – “Toma-me Senhor, e dá-me a generosidade de querer ser teu, sem condições.
O momento central da missa está na consagração. É o momento em que Jesus desce ao altar. É o momento de você se oferecer, com Cristo que morre na cruz. Não é momento de oração de louvor e adoração a Cristo. Todas as orações da missa são dirigidas ao Pai, não a Cristo!
Não é correto fazer nesta hora a bênção com o Santíssimo Sacramento. A bênção com o Santíssimo acontece em um outro ato litúrgico, bem diferente da missa. Na missa estamos celebrando a morte e a ressurreição de Jesus. Na missa, sobretudo na hora da consagração estamos aceitando morrer com Jesus no dia a dia da nossa vida.
Dom João Bosco Óliver de Faria
Administrador Diocesano de Patos de Minas e
Arcebispo Eleito de Diamantina (MG)
Fonte: CNBB