"Cristo quis nascer e crescer no seio da Sagrada família de José e Maria. A Igreja não é outra coisa senão a " família de Deus". Desde suas origens, o núcleo da Igreja era em geral constituído por aqueles que " com toda a casa" se tornavam cristãos. Quando eles se convertiam, desejavam também que "toda a sua casa" fosse salva. Essas famílias que se tornavam cristãs eram redutos de vida cristã num mundo incrédulo".
A orientação para a fecundidade do casal orienta para o serviço à Igreja. A consciência disto vem tanto da própria Igreja como da experiência concreta de inúmeros casais cristãos, que compreenderam que sua espiritualidade não atinge somente o âmbito de sua família, mas a Igreja. Se o matrimônio é sinal da Igreja (Cf. Ef 5,32). A família é Igreja enquanto comunidade de batizados. É uma pequena Igreja que se abre ao mundo.
Quando possui clara esta consciência, o casal não se isola, mas se enraíza vitalmente no serviço à Igreja, assumindo a postura de um ministério que nasce como resposta ao convite que Deus faz continuamente para que cresça na graça e se dê generosamente, como sinal de amor e de unidade, com seu testemunho de vida, como ministros da vida física espiritual, pela procriação, educação, hospitalidade e serviço, como apóstolos, através do exercício de outros dons e outros carismas.
O casal cristão é chamado a ser estrutura sustentadora de uma família capaz de encontrar relações novas, não ditadas pela carne e o sangue, mas pela vida nova que Cristo confere pelo Batismo. Isto reduz o egoísmo, e faz com que cresça a caridade, dom do Espírito e se realize a Igreja doméstica.
Podemos encontrar dois exemplos claros disto no Livro dos atos dos Apóstolos: o primeiro acontece quando Pedro foi acusado por entrar na casa de incircuncisos e comer com eles, e respondeu á acusação narrando que havia sido enviado por Deus para entrar na casa de um homem pagão, anunciar a boa nova e batizar no Espírito Santo não somente a ele, mas a toda a sua casa.(Cf. At 11,1-18).
O outro exemplo narra a libertação milagrosa de Paulo e Silas da prisão, que acabou na conversão do carcereiro, a quem eles prometeram: "Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa". O carcereiro recebeu o batismo no Espírito e os levou para sua casa, onde lhes ofereceu uma refeição e se alegrou com eles. (Cf. At 16,16-34).
O Senhor deseja salvar não somente alguns em uma casa, mas a todos, embora comece por apenas um, e os outros o sigam a seu tempo. Mas precisamos encontrar nele a sabedoria para que a graça acolhida por nós se estenda a todos, e que juntos, nos transformemos em mananciais de graça para o mundo inteiro.
Muitos casais priorizam e cultivam diversos tipos de afinidade e o relacionamento sexual esquecendo a necessidade primeira de alimentar união de suas almas através da oração juntos. Esta oração faz reconhecer a unidade sobrenatural que existe entre os dois, e abre seus corações para as graças atuais que Deus quer derramar em sua casa para que viam as situações que se apresentam no dia a dia.
É na oração que recebe a graça de perdoar um ao outro e amá-lo verdadeiramente. Um pequeno momento de oração facilita o entendimento numa conversa posterior e às vezes até o substitui, tirando as necessidades de explicações excessivas.
É na oração do casal que Deus esclarece sua consciência familiar, corrige os vícios em comum, chama e envia o casal a novos desafios, ungindo-os para cumpri-los.
É claro que a oração em comum não substitui a oração pessoal de cada cônjuge, mas uma se torna estímulo para a outra.
O Concílio Vaticano II chama a família de Igreja Doméstica porque é no seio da família que os pais são " para os filhos, pela palavra e pelo exemplo os primeiros mestres da fé.
"É na família que se exerce de modo privilegiado o sacerdócio batismal do pai de família, da mãe, dos filhos, de todos os membros da família, " na recepção dos sacramentos, na oração e ação de graças, no testemunho de uma vida santa, na abnegação e na caridade ativa" (LG 10). O lar é assim a primeira escola de vida cristã e, "uma escola de enriquecimento humano" (GS 52). É aí que se aprende a fadiga e a alegria do trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e mesmo reiterado, e sobretudo o culto divino pela oração e oferenda de sua vida".
Não podemos esquecer também certas pessoas que ficam sem família humana. A todas elas é preciso abrir as portas dos lares "Igrejas domésticas", e da grande família que é a Igreja. " Ninguém está privado da família neste mundo: a Igreja é casa e família para todos, especialmente para quantos estão cansados e oprimidos" (FC 85).