A profissão de fé da Igreja, expressada no famoso “Credo”, inicia-se de um modo curioso: “Creio!” O verbo está na primeira pessoa do singular. Aqui já de antemão podemos perceber uma indicação preciosa. Embora essa fé seja compartilhada por muitos e muitos corações, a adesão a ela é uma decisão pessoal de cada um de seus membros. A liberdade, assim, é um componente fundamental, essencial para professá-la.
Veja essas palavras do Apóstolo Paulo: “Irmãos, quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá – ó Pai! Assim, já não és mais escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro: tudo isso, por graça de Deus” (Gálatas 4,4-7).
O Apóstolo proclama algo que Jesus se esforçou, até com a Cruz, para nos convencer: somos filhos de Deus. Porém, atenção, filhos adotivos, esse detalhe sempre me impressionou. Já tive a oportunidade de visitar associações de acolhimento de crianças que por alguma razão foram tiradas judicialmente dos cuidados dos pais biológicos. Apesar dos esforços dos agentes e cuidadores profissionais, mesmo assim, pude ver como elas se sentiam carentes.
Pude também presenciar a alegria das que eram adotadas, bem como a dos pais adotivos. Essas relações eram marcadas por um grau de amor, liberdade, gratuidade, que talvez pais e filhos biológicos desconheçam. Esse pai e essa mãe a princípio não tinham nenhuma obrigação legal, de acolher, amar e cuidar desse(a) pequenino(a), no entanto o(a) acolhe, por amor.
Com o que falamos até agora, já se é possível ter uma noção da profundidade da “oração do Credo” na Igreja. Essa oração expressa a gratuidade, perfeição e singularidade do amor de Deus por mim e por você. “Creio em Deus-Pai, todo poderoso, criador do céu e da terra”. Depois revela a força salvadora e redentora de Jesus e da presença discreta, mas decisiva do Espirito Santo: “E em Jesus Cristo seu único filho Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo”.
Mostra o papel da Mulher que encontrou graça diante de Deus, a ponto de ser a escolhida para ser a mãe de seu Filho. “Nasceu da Virgem Maria”. Estimula ainda nossa memória a recordar sempre o modo doloroso com que Jesus expressou seu amor, sofrendo humilhações, tortura e morte de cruz. “Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos”.
Mostra, contudo, que a morte e a dor não tiveram e não têm a última palavra. Por meio dela, Cristo nos salvou abrindo espaço para nos fazer retornar um dia para junto do Pai. “Ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai, todo poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos”.
Declaramos ainda nossa Esperança, na condução do Espírito Santo, Ele que forma, corrige e conduz a Igreja, fazendo com que seus membros vivam uma bendita comunhão. “Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos Santos”. Por fim, faz essa maravilhosa revelação: “Creio na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amém”.
Essas palavras devem ser proferidas de modo livre e espontâneo ao acordarmos, ao longo do dia, diante de provações, ou mesmo das conquistas felizes. Espero e desejo que esse texto possa te ajudar a proferir essa bendita proclamação de fé, de modo novo. Deus te abençoe sempre, Shalom.
Por Rodrigo Santos