O normal e pensado é que, quando um casal de namorados decide se casar, a razão mais forte para esta decisão seja uma: o amor. Quando São Paulo descreve o hino à caridade inicia com uma grande qualidade: “A caridade é paciente” (1Cor 13,4). Não há amor sem espera, não existe caridade sem esperança, sem um olhar amoroso de quem confia, e confia tanto que, mesmo sem ver, já consegue sentir e tocar, a depender do nível de confiança.
Mas esperar o quê dentro de uma família? Na gravidez? No sucesso profissional? Na conquista material? No prestígio social? Naquilo que Deus quiser! Como bem nos ensina o próprio Cristo no Horto das Oliveiras, enquanto aguardava a vontade de Deus e dá uma das maiores declarações de amor-decisão a Ele, “… porém, não o que eu quero, mas o que Tu queres” (Mc 14, 36).
Precisamos esperar o que Deus quer e no tempo Dele, porém esperar é custoso, não é fácil e muitas vezes nos quebra, nos desfaz, mas se não fosse assim não seria conversão e não seria bom. Pois só é bom aquilo que é próprio de Deus ou nos leva para Ele.
Tudo isso pode ser percebido num texto lido e meditado, mas no habitual da vida isto é encarnado. Nós somos Higor Mesquita e Karol Mesquita, estamos casados há breves 8 meses e somos consagrados da Comunidade Católica Shalom. Trilhamos todos os o processos desde a caminhada (tempo indicado pela própria Comunidade, onde se vive o fortalecimento da amizade que pode culminar no namoro) até hoje, com nossas decisões (das mínimas às maiores) tomadas pela espera e guiadas pela voz de Deus.
Quando casamos, tivemos que entender cada tempo que íamos vivendo: passamos 2 meses em outra cidade por um envio a trabalho de Karol e passamos 5 meses na casa dos meus pais, porque nosso apartamento não estava pronto. Foram meses em que queríamos e precisávamos da nossa casa, nosso lar, mas não podíamos ir ainda pelo atraso de 8 meses das obras.
Sabendo que a vontade de Deus para nós era viver aquele tempo, aceitamos, confiamos e vivemos cada processo, porque toda vocação é composta de dois personagens: o que chama e o que é chamado; o que espera ser correspondido e o que corresponde com ações e esperas de um processo necessário.
Amar na Esperança
Fomos percebendo que se não houver esperança na família, o desespero regerá as ações cotidianas, como um piloto cego e cheio de convicção de que está conseguindo ver. E essa espera precisa estar contida em diversas dimensões: na espera dos planos de Deus, na espera da esposa que trabalha, na espera por ouvir a voz de Dele, na espera de uma promessa já dada por Cristo, na espera do crescimento de um negócio e na espera da compreensão de algo que foi dito.
É próprio da esperança não enxergar o destino final e viver um mistério de confiança. O rodapé da Bíblia Jerusalém comenta algo sobre o mistério: é impenetrável. O Catecismo da Igreja Católica (176) nos ensina que a fé é uma adesão pessoal, do homem todo, a Deus que se revela. Deus se revela a nós, nos promete um caminho e pede a nossa espera. Nós não vemos o que está adiante, não sabemos se iremos permanecer na mesma cidade, não sabemos se iremos ter filhos, não sabemos se o estado de saúde de algum de nós irá piorar, não sabemos absolutamente nada porque o futuro não nos pertence.
Hoje já colhemos alguns frutos desse tempo de espera, como estar em nossa casa e com tudo que ela compõe, mas o maior fruto foi confirmar nas promessas de Deus e crescer na escuta e amizade com Ele. Ele é tão bondoso que nos criou num tempo específico, com características próprias e, com este tempo Ele nos dá uma oportunidade: amar na esperança.
Higor Mesquita e Karol Mesquita,
Consagrados da Comunidade de Aliança.