Frei Gabriel de Santa Maria Madalena, OCD
Ao despedir-se dos seus, antes de subir ao céu, Jesus disse: “Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20). Permaneceu de fato entre os homens, na Eucaristia, para ser o companheiro e o viático de sua peregrinação. E permaneceu invisível, mas realmente presente na sua Igreja, para ser seu guia, pastor e mestre. Depois de haver preparado o primeiro núcleo da Igreja com a pregação, com a escolha e a formação dos Apóstolos, deu-lhe a vida, morrendo por ela na cruz. A Igreja, ensina o Vaticano II, é “a esposa que Cristo ‘amou, e por ela se entregou para santificá-la’ (Ef 5,25-26). Quis uni-la a si por aliança indissolúvel” (LG, 6), constituindo-a colaboradora e continuadora de sua obra de salvação dos homens. Cristo já não vive aqui na terra em seu corpo físico, já elevado à glória do céus, mas em seu corpo místico, a Igreja, sua esposa e mãe dos fiéis. Vive Cristo na Igreja como Cabeça porque é quem a governa invisivelmente por meio de seu Espírito; vive na Igreja como sustento e vivificador, porque é quem lhe comunica a vida, quem impetra do Eterno Pai e dispensa a cada um de seus membros as graças “segundo a medida de seu dom” (Ef 4,7). Vive a Igreja unicamente da vida que Cristo lhe comunica. É santa pela santidade que lhe dá Cristo. É a mãe das almas pelos poderes e pela fecundidade que recebe de sua união com ele; tão íntima e vital é esta união que pode a Igreja considerar-se como um prolongamento de Cristo. “Por meio de não medíocre analogia, (a Igreja) é comparada ao mistério do Verbo encarnado. Pois como a natureza humana assumida, e insissoluvelmente unida a Ele, serve ao Verbo divino de órgão vivo da salvação, semelhante o organismo social da Igreja serve ao Espírito de Cristo, que o vivifica, para o aumento do Corpo” (LG, 8).
Quem, portanto, quiser encontrar Jesus, quem quiser ser vivificado por sua graça, alimentar-se com sua doutrina, reger-se pelo seu governo, deve recorrer à Igreja. Encheu-a Jesus “para sempre de graças celestes” e por seu meio “derrama sobre todos a verdade e a graça” (ibidem, 6.8).
“Não pode ter a Deus por Pai quem não tiver a Igreja por mãe”, diz São Cipriano (De cathol. Eccl. Unitate, 6). Veio Jesus salvar e santificar o mundo, mas, de modo geral, o faz por meio da Igreja. Deu pelos homens a vida, derramou o sangue, pôs à disposição deles seus méritos preciosíssimos, deu-lhes os sacramentos e o patrimônio de sua doutrina. Mas quis fosse a Igreja a única depositária e dispensadora destes bens. Cristo, diz o Concílio, constituiu a Igreja “como universal sacramento de salvação” (LG, 48), ou seja, “sinal e instrumento” da santificação dos homens e de sua “íntima união com Deus” (ibidem, 1). De fato, pregando a palavra de Deus, difunde a Igreja a fé; e administrando os sacramentos, comunica e alimenta a vida da graça. Assim são os homens enxertados em Cristo como membros vivos de seu Corpo místico. Deste modo, torna-se cada fiel, por sua vez, “Igreja”, ou seja, célula viva desta grande família que, enquanto une os homens a Deus, une-os também entre si, como filhos do mesmo Pai e da mesma mãe, como irmãos unidos pelos vínculos do amor recíproco.
Exatamente porque membro vivo da Igreja, não pode o cristão contentar-se com desfrutar dos benefícios que dela recebe: deve empenhar-se em compartilhar de sua vida, de seus anseios, de seus sofrimentos e contribuir para o seu incremento. É assim também que nas famílias tomam os filhos parte ativa em sua vida, e participam de sua sorte.
Sentir e viver com a Igreja é sentir e viver com Cristo que nela continuamente vive e age, salva e santifica, unindo todos os homens a si e unindo-os uns aos outros, para que cheguem à vida eterna. Ir à Igreja é ir a Jesus; amar e servir a Igreja é amar e servir a Cristo, sua Cabeça. E como amou Cristo a Igreja até dar por ela a vida “com seu sangue” (At 20,28), assim a deve amar o cristão com obediência e devoção filial, e com dedicação plena à sua causa.