Quando penso na maternidade me vem à memória minha infância, pois é lá que recordo os primeiros movimentos do meu coração por reconhecer em mim esta vocação. Quando criança minhas brincadeiras favoritas eram de ser mãe e filha ou de escolinha, em que eu assumia o papel da professora.
Sempre me falaram que eu tinha espírito de liderança, mas hoje ao refletir sobre isso, Deus ia falando ao meu coração que desde a minha infância Ele mesmo já me preparava e ensinava sobre a maternidade. Essas brincadeiras não eram a toa, brotava sempre em mim o desejo de ensinar, cuidar e acolher, sempre em postura de amor.
Deus me formou mãe
O próprio Deus me moldou, não tenho dúvidas disso, mas sei também que o vínculo seguro que tenho com a minha mãe me ajudou demais a ser a mãe que sou hoje. Mesmo com pouca idade, ainda no início da adolescência as pessoas me enxergavam com muita maturidade, pessoas da família me procuravam para conversar, pedir opiniões ou mesmo só um abraço que acolhia, um ouvido atento que escutava.
Cada uma dessas fases da vida me ajudavam a crescer na maternidade. De fato, o amor de Deus por mim é tão grande que me fez mãe. Me fez mãe para amá-lo ainda mais, para me salvar de mim mesmo, do meu egoísmo, das minhas inconstâncias, dos meus medos. Me fez mãe para que eu pudesse ser uma filha melhor, uma esposa melhor e uma missionária melhor.
A maternidade exercida na forma espiritual
A maternidade me remete a acolhimento, colo, abraço e segurança. E ser mãe é exatamente isso. Antes do ser mãe biológica, Deus me fez mãe nas brincadeiras, me fez representante de turma, tia, coordenadora de jovens, psicóloga, pastora de grupo de oração, acompanhadora vocacional e formadora pessoal. E em cada um desses papeis exercidos, o olhar atento e o desejo de doação consumiam o meu coração. Como olhar para tudo isso e não enxergar coerência na vontade de Deus?
Sou grata a Deus, pois é no serviço que saio das minhas limitações e volto o meu olhar para Ele. O desejo de me consumir por amor me faz percorrer um caminho de cruz e ressurreição. Cruz, porque mesmo nas dificuldades do dia a dia isso não é o suficiente para me paralisar; ressurreição, pois é nessa saída de mim mesmo que sou renovada e não me deixo ser consumida pela murmuração e pela visão do mundo em que as minhas vontades
devem estar sempre em primeiro lugar.
A maternidade biológica me fez dar sentido às dores, desde o parto, até as exigências do dia a dia. Foi aprendendo a ofertar a cada uma delas que me vi amando mais a Deus e a vocação. É no cansaço que o amor toma forma, é na privação de sono que o amor é forjado, é na doença que o amor cresce.
A maternidade exercida no ordinário
A maternidade me ensinou a entender que eu não tenho mais o controle, me fez compreender que nem sempre vou ter a louça lavada e a casa arrumada, mas que isso não é um problema se em detrimento a isso eu estava me consumindo de amor.
Nem sempre eu vou conseguir rezar na hora ideal, mas com a maternidade aprendi também que Deus nos mostra as oportunidades, e na minha vida de forma particular, derrama em mim o desejo ardente de encontrá-lo na oração, a sede por Ele é muito maior, a cada dia. E por falar em dores, e em sentido, hoje eu tenho um filho no céu, contemplo a dor de não poder carregar no colo, mas ganho a certeza de um intercessor no céu, ganho a certeza de que uma parte de mim já habita o melhor lugar, a eternidade.
E por Cecília, Maitê e todas as minhas filhas espirituais eu desejo ser como Maria, aquela que é luz, amor e sabedoria. Quão belo é o matrimônio, pois através dele veio a minha melhor versão, o ser mãe. Que eu tenha cada vez menos tempo para aquilo que não é essencial, pois de fato só o amor basta.
Mirna Gabrielle Costa,
Consagrada da Comunidade de Aliança