Formação

A Missão de Cristo

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Reviver a experiência de Jesus, no Espírito Santo quanto ao anúncio da boa-nova, porque como batizados somos ungidos e consagrados para a mesma missão.

Diante da nova evangelização, é importante que voltemos à primeira evangelização, ao momento em que o Evangelho foi proclamado pela primeira vez e difundiu todo o seu poder, lembrando que o Espírito Santo impele hoje a Igreja e cada cristão às mesmas coisas a que impeliu Jesus.

A MISSÃO DE JESUS:

É esta a missão de Jesus, como nos narra São Lucas:

"O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor” ( Lc 4, 18-19).

Toda a vida de Jesus se desenvolveu sob a ação do Espírito Santo e este o leva a lutar contra o demônio, a pregar o Evangelho e a orar ao Pai, oferecendo-se a Ele em sacrifício. Nestes três grandes acontecimentos encontramos então a tríplice unção, régia, profética e sacerdotal, de Jesus, isto é, na luta contra o demônio, Jesus realiza a sua missão real, na medida em que destrói o reino de Satanás e estabelece o reino de Deus. De fato, ele diz: “Se expulso os demônios por virtude do Espírito de Deus, é sinal de que o reino de Deus chegou até vós” (Mt 12, 28). Na evangelização dirigida aos pobres, ele efetua a sua missão profética. Ao orar ao Pai com murmúrios inexprimíveis e ao oferecer-se como sacrifício pelos pecados da humanidade, ele realiza sua missão sacerdotal ( Ungidos no Espírito, pág. 26 – Raniero Cantalamessa – Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 1996).

A LUTA CONTRA O DEMÔNIO: ( Mt 4, 1-11; Mc 1, 12-13; Lc 4, 1-13)

O núcleo comum da luta de Jesus contra o demônio não se restringe apenas a vitória sobre as tentações, mas a vitória sobre Satanás. Jesus liberta-se de Satanás para libertar os homens de Satanás. É Jesus mesmo quem explica o sentido de sua luta contra Satanás no deserto dizendo: “Ninguém pode entrar na casa de um homem forte e roubar os seus pertences se primeiro não o amarrar; só então poderá roubar a sua casa” ( Mc 3, 27). No deserto, Jesus “amarrou” Satanás antes de se dedicar ao trabalho. Agora estava livre de seu adversário número um. “Ele pode agora levar adiante sua campanha em território inimigo” ( Ungidos no Espírito, pág. 28).

O frei Raniero Cantalamessa diz que “continuando a leitura do evangelho, temos a impressão de que, depois desse episódio, ocorre uma espécie de avanço irresistível da luz, que irrompe na frente demoníaca das trevas. Quando Jesus se aproxima, os demônios se agitam, tremem, suplicam que não os expulse e procuram estabelecer certos pactos com ele ( Mc 1, 24; Mt 8, 31; Mc 1, 25; Mc 1, 27).

Todos também ficavam admirados da autoridade e poder que emanam de Jesus: “De onde lhe vem essa autoridade? E Jesus responde: “Eu expulso os demônios com o dedo de Deus” ( Lc 11, 20). E o Cantalamessa nos ensina: “Que aconteceu no deserto para que, em seu regresso, Jesus tenha autoridade suficiente para expulsar Satanás? É que este foi vencido em seu território! O domínio predileto de Satanás, depois do pecado, era a liberdade do homem; desta ele fizera sua inexpungável fortaleza porque a única coisa que podia expulsá-lo era a vontade do homem, que pelo pecado fora submetida e transformada em escrava de Satanás ( cf. Rm 6, 16ss; Jo 8, 34) e, enquanto tal, não podia libertar-se de seu amo e verdugo enquanto continuasse em sua condição de escrava. Jesus penetrou nesta fortaleza e a destruiu. Seus três poderosos “não!” opostos às tentações destruíram completamente a arma de Satanás que é a rebelião contra Deus. Satanás caiu “como fulminado” ( cf. Lc 10, 18). Esses “não!” dirigidos a Satanás eram ao mesmo tempo três “sim” amorosos e incondicionais à vontade do Pai (…)

A potência de Jesus surge disto: ele age com a autoridade e o poder de Deus. Os demônios sentem que Jesus é “o santo de Deus”, isto é, que nele está a própria santidade de Deus e que eles são incapazes de suportar essa presença. Isso significa “expulsar os demônios com o Espírito de Deus”: “O diabo perdeu o seu poder na presença do Espírito Santo”( São Basílio)(…) Restava a Satanás unicamente o império da morte, que ele perdeu quando, de modo incauto, arrastou a esta o próprio Jesus. A paixão é o segundo tempo da grande luta entre Jesus e o príncipe das trevas; esta é o “tempo fixado”, no qual o demônio, na opinião de Lucas, retoma a batalha contra Cristo ( cf. Lc 4, 12). Satanás perdera todo o seu poder sobre Jesus no deserto; e agora Jesus, por meio de sua morte, reduz por inteiro à impotência aquele que detinha o poder da morte ( Hb 2, 14). Satanás vencido em seu último refúgio; efetua-se o grande julgamento do mundo, e o príncipe do mundo é “expulso” ( Jo 12, 31). Na cruz, Cristo, obedecendo ao Pai ao ponto de submeter-se à morte, “quebrou” o poder de Satanás como se quebra uma barra de ferro; a partir desse momento, de acordo com o Apocalipse ( 11, 15), “o império do mundo pertence a Nosso Senhor e ao seu Cristo” ( Ungidos pelo Espírito, pág. 29 e 30).

ANUNCIAR A BOA NOVA AOS POBRES:

Nós devemos imitar a luta e a vitória de Jesus em favor da Igreja. No deserto, ele se libertou de Satanás para depois libertar cada homem do mesmo Satanás. Primeiro Jesus amarrou e expulsou Satanás de sua vida para depois dedicar-se inteiramente no cumprimento de sua missão, anunciando a boa nova aos pobres e “curando todos os que estavam sob o poder do diabo”.

“Jesus libertou-se de Satanás por meio de um ato de inteira adesão à vontade do Pai, entregando-lhe definitivamente a sua liberdade” (Ungidos pelo Espírito, pág.40), através do cumprimento incondicional da vontade de seu Pai (Jo 4, 43). Nós também, que somos servos de Deus, participamos da potência libertadora de Cristo quando nos entregamos por completo à vontade do Pai em favor dos homens e continuamos confiando absolutamente nele mesmo nas dificuldades, sofrimentos e provações, porque sobre estes que assim agem o demônio deixa de ter poder.

Jesus recebeu o Espírito Santo para que este leve a boa nova a toda a humanidade: “Encaminhou-se Jesus para a Galiléia; e proclamava a Boa Nova de Deus: O tempo está realizado e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede na Boa Nova” (Mc 1, 15). No Antigo Testamento, isto é, antes de Jesus, converter-se significava “voltar atrás”: “Convertei-vos a mim, voltai atrás em vosso caminho perverso” ( Zc 1, 3-4; Jr 8, 4-5).

Neste sentido converter-se tem sentido ascético, moral e penitencial e se realiza com a mudança da conduta de vida. Neste caso a conversão é vista como condição para a salvação. Entretanto, Jesus transferiu este significado moral, isto é, o voltar atrás para segundo plano e deu à conversão um significado totalmente novo. Portanto, com a vinda de Jesus, converter-se não significa voltar atrás, à Antiga Aliança e à observância da lei, mas “entrar na Nova Aliança”, apegar-se a esse reino que apareceu, entrar nele. A Nova Aliança é superior a Antiga Aliança: “Ele é que nos fez aptos para ser ministros da nova aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica … Ora, se o ministério da morte, gravado com letras em pedra, se revestiu de tal glória que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos no rosto de Moisés, por causa do resplendor de sua face (embora transitório), quanto mais glorioso não será o ministério do Espírito! Se o ministério da condenação já foi glorioso, muito mais o há de sobrepujar em glória o ministério da justificação! Aliás, sob esse aspecto e em comparação desta glória eminentemente superior, empalidece a glória do primeiro ministério. Se o transitório era glorioso, muito mais glorioso é o que permanece!” ( 2 Cor 3, 6-11).

Entrar na nova aliança, no reino de Deus é entrar e se apossar da justiça de Deus, da justificação de Deus, como nos ensina São Paulo: “Portanto, como pelo pecado de um só a condenação se estendeu a todos os homens, assim por um único ato de justiça recebem todos os homens a justificação que dá a vida. Assim como pela desobediência de um só homem foram todos constituídos pecadores, assim pela obediência de um só todos se tornarão justos… Sobreveio a lei para que abundasse o pecado. Mas, onde abundou o pecado, superabundou a graça. Assim como o pecado reinou para a morte, assim também a graça reinaria pela justiça para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor”( Rm 5, 18-21). Para entrar, então, e se apossar da justiça de Deus, se sujeitar à justiça de Deus é necessário abandonar a nossa própria justiça. Como também nos ensina São Paulo: “Porque Cristo é o fim da Lei, para justificar aquele que crê”( Rm 10, 4). Consequentemente, depois de Jesus Cristo, a conversão acontece depois da salvação: “Convertei-vos porque a salvação veio até vós”. Primeiro Deus nos salva primeiro para que depois possamos nos converter. Deus tomou a iniciativa da salvação, por causa dela podemos nos converter. Raniero Cantalamessa faz uma maravilhosa comparação, onde ele diz “que é como se um rei abrisse a porta de seu palácio, onde está preparado um grande banquete, e, postando-se na entrada, convidasse todos os que por ali passassem a entrar dizendo: “Vinde, tudo está preparado!”

O Evangelho, isto é, a boa nova, que Jesus anuncia é a manifestação aos homens da benevolência de Deus, a boa vontade com os homens, o seu perdão, a sua graça, sua gratuita ação salvífica em favor dos homens. E isso tudo ele nos deu gratuitamente, por graça, por dom, nós não contribuímos com nada, não recebemos tudo isto como um salário pelas nossas boas obras, porque estas mesmas “boas obras” são conseqüências da salvação. Assim nos afirma o Cantalamessa: “Os méritos são como moedinhas que um pai põe, às escondidas, no bolso do filho, a fim de que este possa comprar-lhe um presentinho na festa do papai. Assim é a misericórdia de Deus para com os homens, capaz de considerar méritos nossos o que são, na realidade, dons seus” ( Ungidos pelo Espírito, pág. 66). Por esta razão São Paulo considerou a sua justiça “lixo” para estar fundamentado na justiça de Deus que procede da fé. A conversão é efeito da salvação. As boas obras são efeito da salvação trazida por Jesus. Nós não podemos pregar um evangelho diferente daquele que Jesus pregou. Pregar outro Evangelho seria anunciar a nossa libertação espiritual como conseqüência “da psicologia, da introspecção, do uso de técnicas de meditação orientais, eneagrama, Nova Era e muitas coisas semelhantes”(Ungidos pelo Espírito, pág. 68). Seria um “evangelho”, diz o Cantalamessa, confeccionado pelo homem. Uma coisa distinta do Evangelho de Cristo! A salvação vem a partir de dentro, o bem está no homem e basta fazê-lo surgir de sua profundidade. Jesus é reduzido a um dos ingredientes desse coquetel religioso. Mas eu aconselho que não se tente trilhar esse caminho: Jesus decididamente não o aceita!(…) Esse é o “outro evangelho”, o evangelho de recâmbio, dos países ricos, saciados; daqueles que crêem poder ir “para além da fé”, “para além de Cristo”. Como se existisse algo que ultrapasse o cristianismo!

Portanto, o que Jesus anuncia e que nós também devemos anunciar é o Evangelho da graça, por isto é que o cristianismo não está no mesmo plano de outras religiões, a diferença se encontra na graça. As religiões humanas traçam um caminho de salvação para se libertar das dificuldades, das fraquezas, da dor, porém Jesus não se limitou em nos mostrar somente o caminho, em nos dar o exemplo, ele foi além do exemplo, ele nos deu a capacidade de seguir o caminho que ele seguiu, traçado por Deus.

No cristianismo, a primeira coisa não é o cumprimento do dever, mas o dom de Deus. As obras são importantes, nós não nos salvamos sem elas, mas não é por elas que recebemos a salvação. É necessário as virtudes, mas nos tornamos virtuosos por causa da salvação.


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