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Celebramos neste Domingo, 02 de novembro, após a comemoração de "Todos os Santos", o dia de Finados. Neste dia nós, os católicos, costumamos ir ao cemitério para visitarmos o túmulo dos nossos parentes falecidos, rezarmos por eles e participarmos da Santa Missa em ação de graças pelas almas dos que amamos e já não se encontram mais na nossa convivência.
Esta é uma feliz ocasião para darmos uma palavra de esperança a todos os que, neste dia, visitam seus parentes falecidos. Alguns levam consigo ainda a dor da perda, a saudade dolorosa, a não conformação com a separação e as lágrimas de quem sabe que quem partiu significava muito pra sua vida.
É inegável que estamos a observar certa "descrença na ressurreição" e isso decorre do desconhecimento por parte do homem quanto ao Evangelho da Vida e ainda em conseqüência de uma "cultura efêmera", que prega o engano de viver uma "felicidade" do aqui e agora, sem nenhuma perspectiva de vida eterna. Cada dia se cria novos axiomas que tendem a reger a vida humana: "Nascer, crescer, trabalhar, produzir e morrer", caindo assim – após a morte – no esquecimento definitivo de uma fria catacumba.
Viver como se tudo terminasse na morte seria a mais miserável vida. Viver sem ter a feliz certeza, a posse da ressurreição para a vida eterna tudo se tornaria débil. A fé nos faz acreditar na ressurreição, não pelos nossos méritos, mas pelos méritos de Cristo, o Senhor, vencedor da morte, portador da vida eterna. Somente a experiência com o amor de Deus que é fruto do encontro com a Pessoa de Jesus Cristo, o ressuscitado, pode então nos inserir na feliz esperança do céu. "Senhor, a quem iríamos? Tu tens palavras de vida eterna" (Jo 6, 68). Esta confissão de fé do apóstolo Pedro é um eco do mais profundo grito e anseio do coração do homem: contemplar a face de Deus. "É a tua face, Senhor, que eu procuro!" (Sl 27, 8).
Sim, sem Cristo, tanto a vida como a morte não têm sentido. "Eu sou a ressurreição e a Vida: aquele que crê em mim, mesmo que morra, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais" (Jo 11,25-26.). Esta é a mais importante verdade de fé das nossas vidas, e "esta verdade não envelhece – diz o papa bento XVI – porque Jesus está sempre vivo; e vivo é o seu Evangelho".[1] É assim que rezamos na Santa Missa Dominical: "Creio na Comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna, amém." Portanto, quando vamos ao cemitério neste dia queremos dar testemunho de que a nossa fé nos dá a posse de que as vidas dos que morrem na esperança cristã não termina no túmulo, em ossos, simplesmente. A vela que acendemos no túmulo é um sinal de que a luz de Cristo, concedida pelo Batismo, marcou aquela vida para sempre e nesta luz esperamos todos, a misericórdia de Deus.
A dor, o sofrimento e a saudade
O mistério do sofrimento perpassa a vida de todo homem, inevitavelmente. Não podemos eliminá-lo totalmente. "Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor, que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido através da união com Cristo, que sofreu com infinito amor". [2] Quando perdemos alguém que muito amamos é, ao certo, uma dor e um sofrimento incalculável. Mas, quando vividos em Cristo, tudo vem a ter o seu real sentido. Não estamos sozinhos. Quem vive na esperança cristã "não se vive sozinho e nem se morre sozinho".[3] A perda e o sofrimento não abalam nossas certezas e nossa confiança. "Quer caminhemos ou estejamos cravados num leito de sofrimento, quer caminhemos na alegria ou nos encontremos no deserto da alma", não estamos sozinhos, pois o senhor é o nosso refúgio, a nossa fortaleza. A presença e a fidelidade do Senhor nos sustentam (cf. Sl 90, 2; 93, 18). Nós cristãos precisamos recordar a todos que estão de luto quanto à verdade de que a tristeza e a saudade não podem ser sinônimas de desespero e falta de paz. "Cristo é a nossa Paz!" (Ef 2, 14). Este é o nosso grande diferencial. Aqueles que amamos também adoecem, sofrem e morrem, mas os confiamos à misericórdia infinita de Deus. A nossa dor precisa ser uma dor do amor que gera salvação e alegria, jamais de desespero.
Podemos rezar pelos mortos…
Esta é uma verdade bíblica (cf. 2 Macabeus 32-45), e uma verdade autêntica da fé católica possível pela imensa graça da Comunhão dos Santos, fruto da bondade de Deus. O Papa Bento XVI diz: "Quem reza não desperdiça o seu tempo".[4] Rezamos pelos nossos entes queridos falecidos por causa do vínculo da fé e do amor que não se desfaz com a morte, para que tão logo possam viver a felicidade beatífica e que cheguem à contemplação da Face de Deus. Deus é aquele que escuta o nosso clamor, a nossa oração. "Um infeliz gritou a Deus e foi ouvido, reza o Salmista". É nesta fé que rezamos pelos nossos irmãos e irmãs falecidos na oração eucarística de cada Santa Missa: "Senhor, concedei-lhes contemplar a vossa face!". "A memória dos mortos e intercessão por eles é um ato sagrado, uma memória santa".
Só o amor gera a verdadeira vida
"Aquele que crê em mim, mesmo que morra, viverá" (Jo 11,25). Não temos medo da morte porque amamos o Senhor, e é ele quem receberá as nossas vidas na hora da morte. Uma linda canção expressa bem a nossa total dependência do Senhor: "Sei em quem coloquei minha confiança e onde está minha segurança, meu Deus, tesouro meu, Tu és meu Sumo Bem".[5] Os que amam a Deus e seus irmãos, não morrem! "Quem ama seu irmão permanece na luz" (Jo 2, 10).Teresa de Lisieurx dizia: "Não morro, entro na vida". Somente o amor de Deus em nós pode nos fazer ficar de pé diante da cruz de tantas situações em que temos que morrer diariamente. Quantos de nós precisamos perdoar os mais difíceis, àqueles que estão conosco na vida cotidiana! Quantos de nós precisamos morrer amando o marido que está no adultério, na droga, na tristeza do desemprego, na frieza da fé, na doença terminal. Quantos de nós temos que morrer silenciosamente no cuidado de quem sofre com a doença física, psíquica ou espiritual! Quantos de nós temos que morrer para não perder a esperança e a alegria, mesmo em meio à saudade de quem partiu assim tão inesperadamente. Só a vida em Deus pode encher de sentido nossos mínimos sacrifícios. Esta é a morte que gera vida. "Ninguém me tira a vida, eu a dou livremente" (Jo 10,18). "Não estamos fadados à tristeza e a viver como os outros que não tem esperança", diz o apóstolo Paulo (cf.1 Ts 4, 13).
Não sabemos o dia, nem a hora.
Tudo é um mistério que só cabe à providência divina. Talvez os nossos entes queridos não tenham dito a última palavra, não tenham feito a última coisa que gostariam ou ainda concluído seus projetos… Deus os chamou no seu plano amoroso e providencial. Mesmo que não compreendamos os fatos, Deus conhece o melhor para os seus filhos. É verdade que Deus não quer o sofrimento, a doença e nem a tragédia para os seus filhos. Ele respeita incondicionalmente a nossa liberdade para amá-lo ou mesmo rejeita-lo. Deus é amor e tudo o que ele faz é bom! Sua bondade e total controle de cada situação nos permitem viver certas situações em vista de um bem maior. Talvez só vejamos os frutos no céu, mas isso não nos desanima, pelo contrário, enche-nos de alegria porque é para o céu que fomos criados. A nós cabe unicamente viver a vocação para a qual fomos todos criados: "A vontade de Deus é a vossa santificação" (1Ts 4, 3). A nós cabe vivermos uma vida que pronuncie com o testemunho: "Meu Deus eu vos amo!". Não tenhamos medo da morte e nem de como se encontram os nossos parentes que partiram, mas os confiemos à misericórdia de Deus que nos prometeu: "Estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28, 20). Os nossos parentes não serão esquecidos pelo Senhor, pois "Todo aquele que nele crê não será confundido" (Rm 10, 11). Portanto, mantenhamos as nossas "lâmpadas acesas" (Lc 12, 35) e, apressemos a viver o nosso encontro com o Senhor na Santa Eucaristia, no encontro com sua Palavra, na Caridade fraterna e no serviço aos mais necessitados. "Já não chores Jerusalém, a alegria voltou. Teu Senhor está vivo. Ele Ressuscitou!" Que a Santíssima Virgem Maria, mãe de todos os que têm fé, ajude-nos a viver na feliz esperança da Ressurreição para a vida eterna e, nos ajude a vivermos a cruz de hoje, não como desgraça, mas como sinal de quem nela Cristo doou livremente e por amor sua vida e, agora Ressuscitado, é vencedor da morte e nossa herança. Nossa morte na morte e na ressurreição de Cristo gera vida. Assim seja.
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por Antonio Marcos
Missionário na Comunidade Vida Shalom – Fortaleza.
[1] Bento XVI. A fé na Ressurreição, Audiência Geral de 26 de março de2008.
[2] Bento XVI. Spe Salvi, 37.
[3] Cf. Bento XVI. Spe Salvi, 48.
[4] Bento XVI. Deus Caritas Est, 36.
[5] Suely Façanha. Cd. "O Céu é logo", Edições Shalom.