“Tome cuidado com sua vida, pois talvez ela seja o único evangelho que as pessoas vão ler”. As palavras claras e objetivas de São Francisco de Assis devem acender em nós um alerta para uma realidade importantíssima: a evangelização através do testemunho pessoal.
Caligrafia legível
É evidente que, quando evangelizamos, não damos de nós mesmos, não damos de nossa carne. O intuito é que ofereçamos às almas do mundo inteiro a grande verdade salvadora que um dia nos tocou: o Kerigma, isto é, o anúncio da Verdade encarnada, estampada em nossas vidas com caligrafia legível a todos os povos. É a linguagem que ordena a babelização do mundo, que faz com que todos saibam falar a mesma língua e proclamar as mesmas maravilhas. Se o homem desejaria chegar até Deus por meio de uma torre, construída a partir de seus próprios e débeis materiais, Deus dá uma outra solução. Ele mesmo constrói na Cruz um novo idioma, que traduz e narra a sua eterna misericórdia.
E é a partir da sábia loucura da Cruz e do evangelho que nasce o coração de um evangelizador, que muito além de apenas proclamar palavras soltas de um livro qualquer, vive e, porque vive, é capaz de dar testemunho nas suas ações cotidianas, das mais simples, como traçar um sinal da cruz antes de tomar um lanche na cantina da faculdade ou das mais nobres, como oferecer aos pobres o grande alimento da alma, o evangelho.
Não é a vibe do momento
A pluralidade cultural da humanidade, somado as agitações do século presente e potencializadas por um mundo cada vez mais sedento por rapidez, faz com que o homem não tenha mais desejo ou paciência para se debruçar na Palavra de forma concreta. Gastar tempo lendo um livro aparentemente histórico e, segundo alguns, cheio de machismo, sexismo e violência não gera o mínimo de atenção, tampouco está na moda… não é a vibe do momento. Mas quando alguém deixa-se ser moldado por Deus na sua Palavra, torna-se um espelho dela e reflete a grande beleza do evangelho. Ao olhar para este alguém o homem é capaz de questionar-se e involuntariamente dizer “eu quero ter o que ele tem”.
Um homem marcado pelo Evangelho tem o próprio Deus. A intimidade com a Palavra de Deus faz com que a evangelização não seja como um folder de propaganda que é entregue na parada de um sinal de trânsito e que é jogado fora na parada seguinte. Não se descarta uma verdade anunciada com sinceridade, com propriedade, e com amor.
Ato de caridade
Neste tempo excepcional de pandemia a evangelização não muda. A forma de evangelizar pode sofrer uma alteração, mas a evangelização propriamente dita nasce de uma experiência com Deus e da encarnação de sua Palavra na vida do evangelizador. Reduzir a evangelização a apenas uma postagem nas redes sociais para que alguém saiba que você está rezando faz com que as sementes lançadas sejam infecundas, independente do terreno. Precisamos entender que evangelizar é um ato de caridade interpessoal, pois comunica-se a pessoa de Cristo a um coração que necessita reconciliar-se com o primeiro amor. Não se trata de você, de seu ícone, lamparina ou terço posto de forma harmônica e extremamente “postável” (grifo próprio: trata-se de experiência própria, que precisei compreender na prática e na dor) mas trata-se sobretudo, e para nós Shalom de forma particular, de anunciar e de proclamar, na vida, o Cristo Ressuscitado que passou pela Cruz.
A fluência da Verdade
Portanto, atenção! O Homem de hoje, alvo de nossa evangelização, “conhece” as escrituras, mas não teve uma experiência com a Palavra. Ele irá rebater com fatos e argumentos, muitas vezes aprendidos com os “blogueiros” e “vlogueiros” que, por serem sedentos por visualizações, comentários e curtidas, descontextualizam acontecimentos históricos ou citações bíblicas em prol de satisfazer um público crítico e/ou ferido com a Igreja. Neste caso, o uso da caridade, a encarnação da Palavra de Deus e principalmente a vida no Espírito, são ferramentas fundamentais para que este coração, por mais endurecido que esteja, possa encontrar a liberdade da verdade que é Jesus Cristo.
Ao retornar à exortação do Seráfico Irmão de Assis, é fundamental zelarmos pelo grande dom que Deus nos dá: a vida, principalmente se é o propósito desta gerar outras vidas no Senhor. Alimentando-se diariamente de sua Palavra, comungando do Verbo, exercendo a fluência da Verdade e aplicando-a em todas as ações cotidianas. Testemunhar as maravilhas do Senhor para além do postar, marcar ou compartilhar, mas sobretudo no viver, no ser e no estar.
Leandro Vasconcelos