Um fato curioso que sempre chamou minha atenção ao estudar a história da Igreja, sobretudo no que toca a trajetória de vida dos santos, foi o de constatar que o perfil de santidade que Deus imprimiu em cada um, sempre esteve associado a algum conflito pessoal ou coletivo do seu tempo. Isso por que a academia de Deus é a vida, não existe santos desvinculado do tempo e do espaço. Só alguns exemplos para estimular sua curiosidade: O ardor e parresia do grande apostolo Paulo e sua capacidade de enculturação entre os gentios, no intuito de anunciar o evangelho.
Leia: “Embora livre de sujeição de qualquer pessoa, eu me fiz servo de todos para ganhar o maior número possível. Para os judeus fiz-me judeu, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da Lei, fiz-me como se eu estivesse debaixo da Lei, embora eu não esteja, a fim de ganhar aqueles que estão debaixo da Lei. Para os que não têm Lei, fiz-me como se eu não tivesse Lei, ainda que eu não esteja isento da Lei de Deus – porquanto estou sob a Lei de Cristo –, a fim de ganhar os que não têm Lei. Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de salvar a todos.”(1Cor:9,19-22)
Como os Santos nos ensinam
Depois entre tantos Santos que poderíamos mencionar, vale apena recordar do grande Santo Agostinho. Esse mestre nasceu no dia 13 de novembro de 354 em Tagaste, Numídia (moderna Souk Ahras, Argélia) e teve sua páscoa no dia 28 de agosto de 430. Este gigante é considerado por muitos como o patriarca mais importante da Igreja e, provavelmente, o mais conhecido devido à sua obra Confissões. Suas teses e ensinamentos, podem ser encontrados na forma de numerosos tratados e sermões.
Como grande teólogo, filósofo, moralista e apologista, Agostinho enfrentou muitos conflitos e heresias de seu tempo: arianismo, que negava a divindade de Jesus; macedonismo, que negava a divindade do Espírito Santo e o pelagianismo, que negava o pecado original e a graça de Deus, entre outras. Sem dúvida, não teria se tornado o santo que conhecemos, sem esses aparelhos que a providencia de Deus, lhe proporcionou e ele soube aproveitar.
Santo Tomaz de Aquino: Falemos ainda de outro gigante da Igreja, São Tomaz de Aquino. (1224/5-1274) Após oito longos séculos marcados por uma filosofia voltada para a resignação, o discurso cristão chegou a um ponto de grande tensão ideológica que levou à inversão quase total de muitos princípios da fé. Sem o empenho desse santo a Igreja não poderia oferecer uma reviravolta no pensamento. São Tomás de Aquino, foi o grande nome da filosofia escolástica, que ajudou a igreja e a sociedade a oferecer respostas para as grandes interrogações do seu tempo. Suas teses ainda hoje, são muito exploradas tamanha a profundidade e atualidade.
Aprenda com nosso Baluarte
São Francisco de Assis: Depois temos o pequeno gigante São Francisco de Assis, esse vaso de argila, como ele mesmo se referia a si, nasceu em 1182, tendo partido para a Eternidade em 1226, aos 44 anos de idade. Sua santidade está intimamente ligada aos grandes conflitos e interrogações de sua época. A sociedade do seu tempo possuía um forte apego ao luxo, riquezas e ostentações que minavam a sociedade e causava danos à Igreja. Junto com isso, era notório o desprezo e o abandono dos pobres, sobretudo uma classe que atraiu uma atenção especial do santo, os leprosos. O pobrezinho de Assis se propôs a um novo ideal de vida, sua regra era se fazer pobre com os pobres, ser o menor, o vaso de argila. Sua Ordem, os Frades Menores (franciscanos), se expandiu pelo mundo através de várias ramificações. Tanto que sua vida profetizou para a Igreja e para a sociedade do seu tempo, qual é a verdadeira alegria.
Dizem que certa vez, São Francisco estava com seu irmão inseparável, frei Leão, num tempo de rigoroso inverno e atormentado por um fortíssimo frio. Na ocasião, o frei Leão fez-lhe um pedido: “Pai, peço-te, da parte de Deus, que me respondas: onde está a perfeita alegria? Entre outras coisas, São Francisco lhe respondeu: “Quando chegarmos a Santa Maria dos Anjos, inteiramente molhados pela chuva e transidos de frio, cheios de lama e aflitos de fome, e batermos à porta do convento, e o porteiro chegar irritado e disser: Quem são vocês? E nós dissermos: Somos dois dos vossos irmãos, e ele disser: Não dizem a verdade; são dois vagabundos que andam enganando o mundo e roubando as esmolas dos pobres; fora daqui! E não nos abrir e deixar-nos estar ao tempo, à neve e à chuva, com frio e fome até à noite: então, se suportarmos tal injúria e tal crueldade, tantos maus tratos, sem nos perturbarmos e sem murmurarmos contra ele (…) escreve que nisso está a perfeita alegria. Poderíamos, além desses exemplos falarmos ainda de muitos outros, mas nosso intuito é que o testemunho deles, possa ter despertado no seu e no meu coração, uma santa criatividade, para integrarmos e resinificarmos eventuais conflitos e crises que podemos estar enfrentando.
Como está sua vida com um olhar geral?
Termine sua leitura, olhando agora para a sua vida: área familiar, profissional, afetiva, sexual, emocional, espiritual etc… e se pergunte: “Como posso amar a Deus, nessa minha realidade de vida? Como posso resinificar e integrar os conflitos e interrogações que trago em minha alma hoje? Há algum aparelho, ou dieta da graça que eu não esteja fazendo uso adequado? Essa pandemia, pode ser aproveitada por mim de modo criativo e ousado?”
Não se esqueça, “a oficina de Deus é a vida”. Espero e desejo que essas palavras, possam ter lhe ajudado a integrar eventuais conflitos que você ou algum conhecido esteja vivendo. Se te fizeram bem essas palavras, faça com elas alcancem outros corações, compartilhando esse link. Deus te abençoe sempre. Shalom!
Rodrigo Santos