Os olhos de Diana estavam encharcados de tanto chorar. A princesa de Braga não aguentava mais ficar trancada em seu quarto. Todos falavam que era para o bem dela. Contudo, isso a fazia sofrer muito, principalmente por não poder ver seus pais. Essa clausura repentina era por conta de uma desconhecida doença que havia chegado a região onde morava. Não se sabia como lidar com a enfermidade e por isso a única solução foi garantir o isolamento da população, principalmente dos mais nobres.
Com o passar do tempo, os dias pareciam cada vez mais difíceis… Mas, mesmo assim, Diana acordava todas as manhãs na esperança de receber a notícia de que aquele momento triste havia chegado ao fim. Da janela de seu quarto, a jovem observava a sua cidade, totalmente diferente de meses atrás. Certa vez, ao longo de uma das estradas, ela viu um pontinho branco caminhando. Quando ele já estava quase perto do seu castelo, Diana ousou gritar:
– Quem é você?
Sem coragem para levantar a cabeça, mas desejando obedecer, a freira conhecida por Irmã Providência virou-se para a jovem princesa. Surpresa, Diana exclamou: Uma freira! O que a senhora está fazendo no meio da rua?
– Estou indo visitar um amigo. Disse a religiosa ainda embaraçada com a situação.
Como quem aconselha, Diana começou a explicar que aquela viagem poderia ser perigosa e que a irmã poderia ficar doente. Pediu, inclusive, para que ela voltasse para casa. Irmã Providência respondeu com doçura que sabia dos riscos do seu trajeto, mas que não podia deixar de visitar aquele amigo. Afirmou ainda que aquela não era a primeira vez que fazia o percurso.
– Como assim? Mas há meses estamos com as portas trancadas por causa dessa doença desconhecida!
– Sim, é verdade. Em casa, eu não tenho convivido muito com as minhas outras irmãs para não prejudicá-las. Temos receio dessa doença e não sabemos a gravidade dela. Mas, mesmo assim, elas entendem a importância de visitar esse amigo.
A princesa começou a especular que aquele amigo fosse alguém muito importante e digno de receber a visita de uma pessoa enviada por Deus, mesmo em meio a uma situação tão adversa como aquela que a região atravessava. Quis perguntar quem era, mas ficou com vergonha de parecer intrometida. Contudo, viu que a freira carregava uma cesta e então resolver averiguar.
– E essa cesta? O que tem nela?
– Bolo de laranja, sabão e dois cobertores. Respondeu a freira com um discreto sorriso.
“Que itens estranhos”, pensou Diana consigo. A jovem não se segurou e então perguntou:
– Quem a senhora vai visitar?
– Meu amigo Francisco! Respondeu a religiosa com alegria.
Irmã Providência explicou que Francisco havia perdido o pai e a mãe. Por isso, não tinha o que comer e nem onde ficar. Ela conheceu o pobre rapaz na rua um dia antes de todos fecharem as portas por conta da doença. Naquele dia, o menino havia machucado a perna quando estava trabalhando em uma carroça. Até o momento, Francisco não conseguia andar direito e por isso a Irmã Providência resolveu levar o alimento e o material necessário para que ele pudesse passar aquele tempo tão desafiante. O menino estava abrigado perto de onde guardavam os cavalos.
Os olhos de Diana voltaram a ficar encharcados, mas, dessa vez, por conta da história que a freira lhe contava. A princesa pensou em tantos outros “Franciscos” que talvez estivessem por aí necessitando de ajuda. Diferente dela, eles não têm onde se abrigar. Inspirada por esse testemunho, a jovem teve a ideia de pedir aos trabalhadores do castelo para enviar alimentos àqueles que estavam nas ruas sem comer e com frio. Diana disse ainda que a freira não precisava mais fazer aquele trajeto.
A freira louvou a Deus e agradeceu a iniciativa, afirmando que as doações seriam muito bem acolhidas. Contudo, ela disse que não poderia deixar de fazer o trajeto porque precisava ir ao encontro do seu amigo. Irmã Providência explicou, então, para a princesa que a assistência é muito importante, mas a presença é fundamental. A missão da religiosa, muito mais do que levar o alimento humano, era levar o alimento da alma, a certeza de que Deus não havia se esquecido de Francisco diante daquela doença desconhecida.
Tempos depois…
Mesmo com o risco de contrair a enfermidade, as atividades na cidade começaram a voltar ao “normal”. Da janela do quarto da princesa, era possível ver os comerciantes novamente nas ruas; algumas pessoas transitando de um lado para o outro; e lá na estrada bem longe, três pontinhos se aproximando do castelo. Cada um trazia uma cesta com alimentos e mantas… Era a Irmã Providência, Francisco e Diana que estavam indo visitar seus amigos mais pobres.