Formação

A Renovação Carismática Católica

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Por Moysés Azevedo, fundador da Comunidade Católica Shalom
Artigo dividido em cinco partes:

“O Espírito Santo é a alma da Igreja” (Sto. Agostinho)

Esta é visão corrente entre os Padres da Igreja e cada vez mais aprofundada a partir do Concílio Vaticano II, que nos mostra que a Igreja vive no Espírito e pelo Espírito, pois Ele, o Senhor da Vida, é quem dá Vida a Igreja.

No decorrer da História da Igreja, constatamos esta grande verdade: o Espírito animado e conduzindo com mão firme a barca de Pedro no meio da brisa ou das terríveis tempestades. São vinte séculos de história em que o Espírito permanece fiel, renovando a Igreja para corresponder aos desafios de cada tempo, atualizando o imutável e único conteúdo da fé, Jesus Cristo, para os homens de diferentes épocas, culturas, raças e nações.

A Igreja Nasce

Foi sob a orientação de Jesus que, após a sua morte e ressurreição, os discípulos permaneceram no Cenáculo, reunidos com Maria, a esperar: “Recebereis uma força, a do Espírito Santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (At 1,8). A promessa se cumpriu, e em Pentecostes ocorre o abundante e generoso derramamento do Espírito, com Seu poder, dons, carismas e frutos que transformaram aqueles homens frágeis e temerosos em audazes pregadores do Evangelho. Com a coragem própria do Espírito (parresia), enfrentaram o mundo romano hostil para com o poder da Palavra e dos sinais, cumprir a sua missão de anunciar a Palavra e expandir o Reino de Deus.

Assim a Igreja se espalhou e cresceu nos seus primórdios, através de toda a poderosa força evangelizadora e missionária de Pentecostes.

Dos Mártires aos Reformadores
Foi o mesmo Espírito que, ao se defrontar com a perseguição à Igreja, suscitou e sustentou os mártires (Santo Inácio de Antioquia, S. Policarpo de Esmirna, Stas. Perpétua e Felicidade…) testemunhas fiéis de Jesus, frente as mais duras perseguições, desconcertando as autoridades romanas com sua fé inabalável e gerando com o derramamento do seu sangue, uma multidão de novos cristãos que, fundamentados na sua fé viram cair o Império Romano.
Foi o Espírito que, após a era apostólica, inspirou os Padres da Igreja, a formularem o fundamento Teológico e Filosófico da Igreja e do novo mundo que emergia do paganismo. Foram eles: S. Justino, Sto. Irineu, S. Clemente, S. Cipriano, S. Basílio, S. Gregório Nazianzeno, S. João Crisótomo. Sto. Ambrósio, S. Jerônimo, Sto. Agostinho… e tantos outros, que são hoje referência para o mergulho nas fontes de nossa fé.
Foi este Santo Espírito que, com o crescimento da Igreja e o seu desenvolvimento no mundo, suscitou novas formas de vida comunitária trazendo as marcas de uma vivência mais autêntica do Evangelho em um tempo em que muito estavam mais interessados na busaca do poder temporal do que na construção do Reino de Deus. Entre estas novas e proféticas formas de vida podemos citar, as ordens monásticas (S. Patrício, S. Columbano, S. Bento, Sta. Escolástica, S. Bernardo), as ordens mendicantes (S. Francisco, S. Domingos) os reformadores católicos (Sto. Inácio de Loyola, Sta. Teresa de Jesus, S. Felipe Néri). Foram inúmeros os movimentos comunitários, sem dúvida, autênticos impulsos do Espírito à sua Igreja.

A Igreja Renasce

Dando um grande salto, entramos no século XX. Com as profundas mudanças causadas pela revolução industrial, pelas guerras e pelas conquistas da ciência e a técnica, era necessário a Igreja responder aos apelos e desafios do homem moderno. Socorro sempre presente à Igreja de Cristo, o Espírito Santo suscitou em nosso século a grande graça que foi o Concílio Ecumênico Vaticano II. Este concílio foi um momento de Renovação para a vida interior da Igreja e, ao mesmo tempo, de abertura para o mundo, não no sentido de amoldar-se a ele, mas de aproximar-se da sua realidade e assim cumprir a sua missão de evangelizá-lo.

Durante o Concílio, o Papa João XXIII compôs a famosa oração onde dizia: “Espírito Santo… presente na Igreja, derramai a plenitude de vossos dons sobre o Concílio Ecumênico… Renovai vossas maravilhas hoje como um novo Pentecostes.”

É a partir desta oração e da própria graça do Concílio que colocamos o despertar de grandes graças no interior do Igreja. Após o Concílio foram surgindo movimentos e correntes espirituais de renovação. Entre estas graças, destacamos a Renovação Carismática Católica que, para nós, é resposta de Deus à oração do Papa no Concílio.

Após quatro etapas conciliares, Paulo VI encerrou o Concílio Ecumênico Vaticano II, no dia 8 de Dezembro de 1965. Em menos de um ano, no verão-outono de 1966 começou a despontar a Renovação Carismática Católica.

Segundo o Pe. Salvador Carrillo, a Renovação aparece como um acontecimento pós conciliar estreitamente ligado ao próprio Concílio, em uma conjuntura histórica importante para a Igreja Católica. É o Cardeal Suenens (de Admirável participação no Concílio e depois grande acolhedor da RCC na Igreja) que entende a Renovação Carismática Católica, como que uma segunda graça de Deus para a igreja e o mundo do século XX, depois dessa primeira que foi o Concílio Vaticano II. O Concílio foi uma graça pentecostal eclesial a nível dos “bispos”. A Renovação é uma graça pentecostal eclesial a nível da “grande comunidade cristã”.
Pentecostes Hoje

Como um fruto do Concílio, entre outras graças cremos firmemente que a RCC é uma real e forte resposta de Deus, não programada, e nem esperada (por isto tantas vezes não compreendida).

Entre 1966 e 1967, surge nos Estados Unidos, de uma maneira mais especial em Pittsburg, na Universidade do Espirito Santo, onde um grupo de Professores Teólogos, Padres e universitários tiveram suas primeiras experiências daquilo que mais tarde o mundo inteiro iria chamar de “Batismo no Espírito Santo”, a experiência de um Pentecostes hoje. Esta é a grande novidade que o Espírito manifesta dentro da RCC: hoje podemos viver a mesma experiência do Espírito que Pedro, Tiago, João… e Maria viveram no Cenáculo; os carismas são obras reais, necessárias e úteis para a Igreja hoje, e o Espírito anseia por distribuí-los sobre todos os fiéis, pois pelo sacramento do Batismo, todos possuímos o Espírito; a comunidade primitiva é uma obra carismática do Espírito; este mesmo Espírito deseja repetir seus prodígios e suas maravilhas no meio de um mundo tão secularizado e hostil à fé, para o bem da evangelização e para maior glória de Deus.

Podemos afirmar que a RCC, como dom do Espírito em favor dos fiéis e da Igreja, é este Novo Pentecostes, com toda sorte de força e de poder de Deus que se atualiza e perpetua na vida da Igreja. Ela não é um movimento na Igreja, mas, como nas palavras do Papa Paulo VI, “uma sorte para Igreja e para o mundo”. Ela é portanto, a Igreja em movimento, uma corrente de graças que concerne à própria vida da Igreja e que beneficia todos os seus membros (Bispos, Padres, Leigos, Religiosos) e todas as suas instituições (Dioceses, Paróquias, Comunidades Religiosas, Movimentos, Obras Apostólicas, etc). Segundo o Padre Salvador Carrillo, “é uma graça eclesial de extensão universal”.

Chamados a Enriquecer a Mãe Igreja

Hoje são no mundo mais de 80 milhões de católicos que experimentaram esta graça em suas vidas, converteram-se a Cristo e dedicam-se ao serviço da Igreja. Destes, cerca de 12 milhões estão no Brasil. Seu crescimento é impressionante e nos faz lembrar aquela passagem do Evangelho onde Jesus diz: “O Espírito sopra onde quer” (Jo 3,8). A multiplicidade de suas expressões e ministérios (intercessão, cura, aconselhamento, comunidades, meios de comunicação, evangelização, música, promoção humana, grandes encontros de massa, etc), são outra marca da RCC, com seu grande desejo de, segundo sua identidade própria, amar e servir à Igreja Universal e local, levando em conta toda a sua catolicidade, que é unidade (na fé e na moral) na diversidade e liberdade de expressão desta mesma Igreja.

Cada vez mais a RCC, através dos grupos, paróquias e das comunidades de Aliança e Vida, penetra na Vida da Igreja e é acolhida por esta como um grande dom. É por reconhecermos que este dom que é a RCC, não vem de nós homens, nem é obra nossa, que temos a grande e grave responsabilidade de nos mantermos fiéis a ele pois, caso contrário, trairíamos o projeto de Deus de enriquecermos a Mãe Igreja, com os carismas que nos foram dados. Isto seria trair o próprio Deus e a própria Igreja. É importante lembrarmos a nossa identidade para sermos fiéis na nossa missão, que não nasce em nós, mas no Espírito, em favor das nossas vidas, da vida da Igreja e da transformação do mundo.

Em vista disso é necessário refletirmos sobre os pontos essenciais desta graça que é a RCC. O nosso artigo buscará tocar em alguns temas de grande importância para conservarmos a nossa identidade e a nossa missão.


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