É incrível como a palavra santidade tem sido esquecida nos tempos atuais, é como se tivesse não só saído de moda, mas se tornado algo execrável, inatingível, um ideal vago que não serve ao mundo atual. Foi subjugada pelo pecado, pois dado que todos são pecadores, o mundo não enxerga nenhum caminho para a santidade, exceto a visão hipócrita de pessoas escondidas em uma máscara, fingindo serem bons moços. Assim, toda resposta encontrada quando se fala em santidade é: melhor vivermos como se não pudéssemos ser santos, assim seremos o melhor de nós.
Ao mesmo tempo que rejeitam a santidade, a imagem de Deus vive, o homem permanece com o desejo da graça em todos os momentos, mais ainda naquilo que lhe foge o controle. Aí ele deseja a graça, quando as coisas superam as suas forças, quando os grandes milagres são necessários, ou mesmo quando falta a paz interior, quando as respostas mais angustiam que dão clareza. Ali, o homem percebe que não é suficiente, que há algo de incompleto no coração e no mundo, ali, Deus permanece vivo no coração, como que com um simples sopro de paz. Assim, o mesmo mundo que rejeita a sua santidade, suspira pela sua graça.
Do outro lado, ou pelo menos parece ser do outro lado, estamos nós, consagrados, irmãos de comunidade, mas não tão distantes do erro que fundamenta todos os erros. Vivemos, algumas vezes, uma vida em que a “santidade” precede a graça, nos colocamos como merecedores, até detentores, desta porque nos fizemos “santos”, porque tudo fazemos, vamos à missa, aos retiros, à célula, ao grupo de oração. Como tudo fazemos, tudo merecemos. Então, esquecemos a essência do amor de Deus: Ele nos precede, não é o que fazemos que nós faz sermos santos, mas a graça que recebemos naquilo que fazemos.
A graça precede a santidade!
Essa deveria ser a frase a ecoar no mundo, aí estaríamos todos no lugar correto, o de santos porque pecadores.
Como assim?
Reconhecer a necessidade da graça é reconhecer o pecado que habita em mim, é reconhecer a incompletude, o vazio, a distância de Deus. A graça é o modo pelo qual Deus age na minha vida para me tornar mais sua imagem e semelhança, seja nos sacramentos, seja nos milagres, seja na nossa oração pessoal, a graça de Deus age para nos fazer menos pecadores. Dessa forma, só um pecador, ainda nesta vida, pode receber a graça de Deus. Ora se todos somos pecadores, todos podemos receber a graça, com uma condição: nos reconhecer como tal. Assim, quem reconhece a recebe, quem a recebe se torna mais santo.
Por isso, concluímos: a santidade é o fim último dos pecadores. Por mais que o mundo queira esquecer, é ela o lugar da graça que todos buscamos e que a todos é gratuitamente ofertada, nela encontramos o verdadeiro lugar que tanto esperamos, porque por mais que haja pecado, a graça sempre será suficiente para cobri-los.
Rafael Rosemberg