Shalom

A sentença de Jesus para São Tomé foi o amor

Como a experiência bíblica e mística não cansa de atestar: é preciso dar o passo na fé. É preciso ir (para Deus e para os irmãos) mesmo sem ver, sem sentir, às vezes sem a mínima vontade ou até sofrendo. É preciso estar sempre indo, sempre saindo de si.

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HOJE É DIA DE SÃO TOMÉ. “VIVAAA!”

Pronto. Depois dessa aclamação efusiva, vamos tentar ver se é justo que esse apóstolo seja tido por muitos como o “padroeiro dos incrédulos ou dos desconfiados”. Rsrs

Você sabe do que estou falando, né? Após Jesus ter morrido e ressuscitado, ele não só desacreditou que a ressurreição tivesse de fato ocorrido, mas também desafiou a própria fé, dizendo que acreditaria apenas se visse e tocasse no Senhor, nas Suas chagas (cf. Jo 20). Observe que ele não concede aos amigos discípulos e ao próprio Jesus sequer a dúvida. Ele NÃO ACREDITA, e declara com todas as letras que continuará a não acreditar, a menos que suas condições (que ele imaginava irrealizáveis) fossem satisfeitas. Aff! Que petulância desse carinha, viu? No mínimo um desaforado, né?

Será?

Se você tiver mais uns dois minutinhos, convido você a colocar-se no lugar de Tomé, sem as muitas camadas teológicas, religiosas e psicológicas de que hoje dispomos para entender as coisas Deus. Apenas ponha-se no lugar dele, da maneira mais crua e simples possível:  ele conhece Jesus, sente Seu amor e Seu poder; percebe que Ele é A Verdade e A VIDA; deixa tudo para segui-Lo; vive vááárias experiências fantásticas ao lado do Senhor e dos seus irmãos; depois de muita perseguição, o Senhor, o Salvador, que já havia até ressuscitado tantos, O CA-RA, simplesmente…

Morre!…  E … “The End!”

Nesse cenário, eu não consideraria uma loucura o seu afastamento da fé e dos irmãos. Alguns até vão dizer-lhe que “O Senhor ressuscitou! Alguns O viram etc. e tal”, mas a decepção e a incredulidade já tinham lançado raízes profundas no seu coração de modo tal que ele não conseguiu – pelo menos nesse momento – ir saltitante pra ver o Senhor que voltou dos mortos.

Podem perguntar: “Mas por que outros também não desistiram? Por que ele foi o único?”. Respondo: Bem, quem garante isso? A desconfiança de Tomé nos foi exposta com profundidade, “para que creiamos” (cf. Jo 20, 31), mas quem garante que TODOS (exceto a Virgem Maria) não tenham experimentado em algum momento e em algum grau a desistência e a incredulidade? Cada um tem seu tempo e suas provas. Jesus é paciente com todos.

“Mas Tomé era adulto e responsável e, além disso, Jesus já tinha garantido que ressuscitaria. Bastava confiar!” Acertou em cheio! E aqui aproveito pra pegar um atalho e dizer logo o que no Shalom nunca podemos esquecer: TOMÉ É VOCÊ!  TOMÉ SOU EU! Quantas resistências manifestamos ao longo de nossa história com Deus! Quantas resistências e rebeldias até hoje!  Quantos “Não creio!”, “Não quero!”, Não aceito!”, “Não dá mais!”, “Não vou!”, “Não volto!”, “Já deu!” “Provem-me!”, “Mostrem-me!”, “Convençam-me!”, “Adulem-me!”, “Conquistem-me!”, “Não presta!”, “Não é bom o suficiente!”, “Não é como eu imaginava!” etc.

Nós também somos adultos, responsáveis e temos todas as garantias, graças e méritos da Ressurreição de Cristo, além da doutrina, dos sacramentos, do testemunho dos santos etc. Basta confiar! Mas nem sempre o fazemos. Olhemos para Tomé e olhemo-nos a nós mesmos. Somos iguais… Gêmeos! (Cf. Jo 20, 24).

A Providência quis que Tomé, com todas as resistências que ele trazia, estivesse nos “dias da fundação”, nas trevas iniciais que só os fundadores conheceram, nas provas que só eles viveram e superaram, para alimentar a fé dos que viriam depois.

Você TALVEZ esteja olhando o drama de Tomé beeeeeeeem de longe, com toda a bagagem teológica, religiosa, dogmática, psicológica etc. que são possíveis a um pós-moderno, e analisando sem amor: “Tomé fraquejou! Ele devia ter confiado! Vacilou na fé! Devia ter ouvido os irmãos!”; e depois sentenciando: “INCRÉDULO!”

Pelo que se lê, tudo isso ocorreu mesmo. Mas o fato mais importante é que não foi esse o pensamento de Jesus. O centro da história, a chave de interpretação de toda essa “saga” do santo de hoje não é o próprio Tomé, É JESUS. Agora, saia do lugar de Tomé e ponha-se no de Jesus.

Imagino, de modo muito simples, Jesus analisando a situação mais ou menos assim: “Tomé fraquejou! Ele devia ter confiado! Vacilou na fé! Devia ter ouvido os irmãos!”; e depois sentenciando: “ELE PRECISA DE MIM MAIS DO QUE NUNCA! EU O AMO E EU VOU VOLTAR PARA QUE ELE ME VEJA E ESCUTE, PARA QUE ELE TOQUE MINHAS CHAGAS GLORIOSAS. EU VOU VOLTAR PRA ELE PARA QUE ELE VOLTE PRA MIM.”

Jesus não deixa de censurá-lo por não ter acreditado, mas volta. Observe que, se uma semana após sua ausência, a palavra diz que dessa vez “Tomé estava lá” (Cf. Jo 20, 26), é porque ele já havia aberto o coração à Graça, através da insistência dos irmãos, talvez, pela voz de Deus ouvida na oração ou pela saudade de dias melhores. Não sabemos ao certo. Mas ele já estava “voltando”. Como a experiência bíblica e mística não cansa de atestar: é preciso dar o passo na fé. É preciso ir (para Deus e para os irmãos) mesmo sem ver, sem sentir, às vezes sem a mínima vontade ou até sofrendo. É preciso estar sempre indo, sempre saindo de si.

Ao fim, sem que possamos encontrar palavras pra descrever o privilégio que São Tomé teve, este santo tão querido nos ensina a (1) NOSSA VISÃO E NOSSAS SENTENÇAS SOBRE OS IRMÃOS PODEM SER BEM DIFERENTES DAS DE JESUS. É preciso jamais deixar de buscar o Seu olhar e o Seu coração; (2) NUNCA ABANDONAR A COMUNIDADE DE FÉ. Sozinho é bem mais difícil; (3) JESUS NÃO ABANDONA MESMO OS MAIS OBSTINADOS E ENDURECIDOS DE CORAÇÃO, OS MAIS DECIDIDOS A NÃO ACREDITAR. Nós também, sem jamais negociar com o mal, não abandonamos nem mesmo os que parecem já perdidos, os Tomés de hoje.

Viva São Tomé! Vivaaa!

Elkenson Costa

Consagrado da Comunidade Aliança em São Luís (MA)


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