Formação

A síndrome lúdica, um entrave ao amadurecimento dos filhos

comshalom

Artigo publicado na Revista Shalom Maná em junho de 2013

[comshalom.org] – Quando se fala na importância de educar para a vida significa dizer quedevemos educar para o amadurecimento humano, de modo a favorecer a pessoa oenfrentamento de desafios, a tomada de decisões e as ações segundo os valoresessenciais do humanismo cristão.

No processo de educar em nossos dias tem ocorrido um fenômeno chamadosíndrome lúdica. Ele tem raízes profundas na nossa sociedade hedonista: “Se ospolíticos costumam ver nas pessoas eleitores, a economia capitalista as reduz àcondição de compradores, e concentra a sua publicidade em conseguir que os seusclientes gastem o máximo para poder levar uma vida cômoda e prazerosa. Issocostuma produzir uma sociedade integrada por tipos humanos adolescentes,compulsivos, pouco dados à reflexão e alérgicos a qualquer tipo deresponsabilidade”. Sendo assim, além dos lucros astronômicos dos shoppingscenters, no  terreno educacional nosdeparamos com adultos que são adolescentes educando outros adolescentes, todos maisou menos dominados por uma síndrome lúdica que prejudica o amadurecimento.

Os responsáveis por essa ludopatia são também os pais, na medida em queexplicam o colégio para os seus filhos mais jovens como um lugar para brincar comos amigos e divertir-se. Corrigir essa forma errada de ver as coisas podecustar ao professor não digamos sangue, mas sim suor e lágrimas e, no pior doscasos, pode ser que ele não o consiga.


Carência de critérios

A criança deve saber que vai para a escola para aprender, que só seaprende com esforço, que esse esforço égratificante e que não se deve confundir o âmbito familiar com o escolar. Ocolégio não é uma extensão do lar e, por isso, o aluno não pode se levantar,conversar ou mascar chicletes quando lhe der vontade. Se o aluno não chegasse àescola com critérios e referências tão equivocados, o professor não teria queperder tanto tempo para colocá-lo naquelasituação de civilidade e sossego mínimos a partir da qual a aprendizagem começaa ser possível.

A crise de autoridade e a confusão entre aprendizado e brincadeira sãoaliadas perfeitas para que na classe se gere um clima de indisciplina que nãobeneficia ninguém e prejudica a todos. Hoje, qualquer professor admite quevinte alunos em uma classe são mais difíceis de orientar do que há dez anos,quando uma sala chegava a comportar quarenta alunos. E esse mesmo professor nãose sente respaldado pelos pais dos seus alunos, pois sabe que, com frequência,não é apresentado aos olhos das crianças e dos jovens como uma pessoa quemerece respeito, deferência e atenção. O problema é que alguns garotos queainda não têm suficientes conhecimentos, que mal se desenvolveramemocionalmente e que estão forçosamente carentes de critérios, têm como únicainformação recebida a de poderem criticar e denunciar tudo o que contrarie oseu parecer.


Relativismo

Essa situação também tem a sua explicação nos tempos que correm. O mundomudou muito e rápido: modos tradicionais de ver a vida e de vivê-la talvez nãotenham perdido a validade  como osiogurtes, mas perderam a sua vigência. Daí se costuma chegar à falsa conclusãode que tudo é relativo sob o jugo de subjetividades individuais, então deixa deter sentido aconselhar os filhos e alunos sobre condutas e valores. Desse modo,muitos pais ficam bloqueados e não exercem ações positivamente educativas.

Por outro lado, a sensação de que seus pais se enganaram a seu respeitoos faz perceber que eles também podem seequivocar com seus próprios filhos. Essa possibilidade faz com que encarem educaçãopelo lado negativo, – o que é que não querem para os seus filhos – deixandoassim de elaborar um modelo de referência positivo para ser transmitido com opróprio exemplo.  Enquanto isso, osfilhos flutuam na indiferença e se movem entre o desconcerto e a desorientação.


Enfoques corretos

Dissemos que não é possível a vida equilibrada e saudável sem uma boaeducação. Mas quem estabelece as linhas mestras da educação? Quem define quaissão as coordenadas de uma educação dequalidade?


Só há uma resposta: a família e as instituições educativas, respeitandosempre a própria tradição cultural. A família, em primeiro lugar, porque os filhossão filhos de seus pais e não do colégio nem do Ministério da Educação.

Embora nem sempre concordem, de fato, os pais, os colégios e oMinistério da Educação deveriam concordar em escolher, entre os diferentes modeloseducativos, aqueles que sejam os melhores modelos integrados por certos traçosfundamentais.

Traços fundamentais

Trata-se de traços ou qualidades que derivam diretamente da condiçãohumana. Desde Aristóteles, define-se o homem como sendo animal racional e animalsocial. Pois bem: a melhor educação da razão consiste em capacitá-la paradescobrir o bem e pô-lo em prática. A inteligência que descobre o bem se chamaconsciência moral (primeiro traço) e a passagem da teoria à prática do bem serealiza por meio da prudência (segundo traço).

Como a realização do bem costuma ser árdua, o terceiro dos traçoseducativos fundamentais é a fortaleza, esforço por conquistar e defender aquiloque vale a pena. Além disso, a animalidade que faz parte da nossa constituiçãofornece à conduta humana um recurso fundamental: o prazer. A educação do prazer– a sua administração racional – constitui o quarto traço indispensável a todaboa educação: chama-se autocontrole, domínio de si, temperança.

Um quinto traço é a justiça, que prescreve o respeito aos direitos dosoutros e torna possível a própria existência da sociedade. A justiça seconcretiza nas leis: nas regras do jogo que nos permitem sair da selva e vivernos domínios da dignidade. Educar os jovens no sentido da justiça e no controledo prazer não é algo que tenha mais ou menos importância: Aristóteles afirmaque tem uma importância absoluta.

A consciência moral, a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperançasão qualidades  descobertas pelos gregos,herdadas pelos romanos e pela Europa cristã. Além disso, o cristianismoacrescenta outras três qualidades ou virtudes que se referem diretamente àsrelações do homem com Deus: a Fé, a Esperança e a Caridade.

Dizia Pascal – filósofo e matemático – que a última fase da razão énotar que existem muitas coisas que a ultrapassam, e que precisamente por isso émuito razoável crer. Nessa mesma direção, afirma Josef Pieper, um dos melhoresfilósofos alemães do século XX, que poderia muito bem ocorrer que a raiz detodas as coisas e o significado último da existência só possam ser contempladose pensados por aqueles que creem. A esperança em Deus é a virtude necessáriapara o equilíbrio psicológico do único animal que sabe que vai morrer. E aCaridade é a forma de amar mais adequada à dignidade humana: ver os outros comoo próprio Deus os vê.

Em nosso contexto social capitalista competitivo, permeado pelohedonismo, pelo individualismo, pelo consumismo e pelo relativismo moral, oalicerce de uma fé encarnada na vida fortalece os pais e educadores adiscernirem os valores essenciais à vida humana, firmando-os na direção de umaexistência plena de significado e de realização.

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