Formação

Unção: o que fazer para obtê-la?

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lightstock-62331-woman-in-prayer-against-a-white-background--2Como batizados, fomos separados e destinados ao serviço do Senhor, estabelecendo urna relação particular com ele:
– Vós sois linhagem eleita. ( I Pd2,9.)
– Deus ungiu-nos e nos marcou com seu selo e colocou em nosso coração o penhor do Espírito. (II Cor 1,21-22.)
– Vós tendes a unção que vem do Santo (I Jo2,20.)
– Somos Corpo de Crista, isto é Igreja, porque somos ungidos pelo Espírito de Cristo: Não somente foi ungido aquele que é a nossa Cabeça, mas também nós, que somos o seu corpo. Somos o corpo de Cristo, porque todos somos ungidos e todos nós, nele, somos de Cristo e somos Cristo, porque, em certo sentido, o Cristo total é a Cabeça e o corpo unidos. (Santo Agostinho).

Somos um povo messiânico, como o Vaticano II define a Igreja, porque somos um povo de ungidos, isto é, de consagrados com o Espírito.

Pelo batismo somos consagrados a fim de servir a Deus. O nosso batismo é uma consagração a Deus e participamos plenamente da unção de Cristo. Esta graça e unção do Espírito Santo vem sobre nós por Jesus (Batismo): A descida do Espírito Santo sobre Jesus no Jordão diz respeito a nós, porque ele carregava nosso corpo e, portanto, não há lugar para o aperfeiçoamento do Verbo, mas para a nossa santificação. (Santo Atanásio).

Entre nós e o Espírito Santo existia um duplo muro de separação: o muro da natureza humana e o da vontade corrompida pelo mal. O primeiro muro(natureza humana) foi destruído por meio da encarnação do Salvador. O segundo muro(pecado) foi destruído com sua crucifixão, porque a cruz destruiu o pecado. Aniquilados os dois obstáculos nada impede a efusão do Espírito Santo sobre qualquer carne. A humanidade do Salvador era como um vaso de alabastro que por um lado continha a plenitude do Espírito, mas por outro impedia que o perfume se difundisse para o exterior. Graças à sua plena e total adesão à vontade do Pai, a carne de Cristo foi espiritualizando-se pouco a pouco, até converter-se, no momento da ressurreição, num carpo espiritual (I Cor 15,44). A cruz foi o momento em que caiu o último obstáculo: o vaso de alabastro quebrou-se, corno no momento da unção de Betânia, e houve a efusão do Espírito, que com seu perfume preencheu toda a casa, isto é toda a Igreja.(A vida de Cristo Cabasilas – citado por Catalamessa).

Esta unção cria uma novidade espiritual: pregação com autoridade, cura, milagre, vitória sobre os demônios, renúncia ao pecado, instauração do Reino de Deus. Há duas maneira bem próprias do Espírito agir no meio do seu povo: pela santificação e pela unção espiritual (ação carismática).

A ação santificadora do Espírito é destinada a transformar as pessoas a partir do seu interior, dando-lhes um novo coração, novos sentimentos, a própria pessoa é atingida diretamente pela presença do Espírito Santo. O Espírito Santo começa a apresentar-se corno uma força de transformação interior, que modifica o ser humano e que o eleva acima de sua condição de maldade. A presença do Espírito de Deus fica retido no homem.

Na sua ação carismática ou unção espiritual ele vem sobre algumas pessoas e concede a elas poderes extraordinários, mas apenas temporais, para levar até o fim os compromissos. Essa ação carismática do Espírito de Deus visa principalmente o bem da comunidade, valendo-se das pessoas que o receberam. O Espírito é derramado para que a Igreja corresponda aos desafios próprios dos dias de hoje. Todos nós que tivemos a experiência com o batismo no Espírito Santo somos portadores (desta graça para comunicá-la ao mundo. Deus unge-nos para que sejamos canais da graça. A unção é mais um ato do que uni estado. É algo que não se possui estavelmente, mas que lhe sobrevêm, que a investe subitamente, no momento em que exerce um ministério ou durante a oração.

Assim, por unção podemos entender a ideia de poder, de força de persuasão. Por exemplo, uma pregação cheia de unção, é aquela onde se percebe, por assim dizer, a forte vibração do Espírito; um anúncio que sacode, que converte de pecado, que atinge o coração das pessoas. O Espírito Santo vem nos reis de Israel, tornando-os idôneos para governar o povo de Deus: Samuel pegou a vasilha de óleo e ungiu o rapaz na presença dos irmãos. Desse dia em diante, o espírito de Javé permaneceu sobre Davi. (1 Sm 16,13). O mesmo Espírito vem sobre os profetas de Deus, para que digam ao povo qual a sua vontade. É o Espírito de profecia, que animou os profetas do Antigo Testamento, até João Batista, o precursor de Jesus Cristo: Eu estou cheio da força do espírito de Javé, do direito e da fortaleza, para denunciar a Jacó o seu crime e a Israel o seu pecado. (Mq 3,8).

São Basílio diz que o Espírito Santo esteve sempre na vida do Senhor, sendo a sua unção e o seu companheiro inseparável, de sorte que toda a atividade de Cristo se desenrolou no Espírito. Ter a unção significa, assim, ter o Espírito Santo como companheiro inseparável na vida, fazer tudo no Espírito (cf. G15,18). A unção é mais um dom do Espírito do que obra nossa.

Tudo isso se traduz, no comportamento humano, ora por suavidade, calma, paz, doçura, devoção, emoção, ora por autoridade, força, poder, firmeza no comando, conforme as circunstâncias, o caráter da pessoa e também do oficio que se exerce. O exemplo vivo é Jesus que, conduzido pelo Espírito, manifesta-se doce e humilde de coração, mas também, quando preciso, cheio de sobrenatural autoridade.

A unção caracteriza-se por um certo brilho interior que dá facilidade e domínio ao fazer as coisas. É algo comparável à forma do atleta e à inspiração do poeta: naquele momento se consegue dar o melhor de si. Porém não é algo imperceptível, inefável. Podemos reconhecer a unção quando estamos diante de uma pessoa que a possui, mas não se pode defini-la com conceitos claros e distintos. A unção participa estreitamente da natureza do Espírito, que é inapreensível.

Que podemos fazer para obtê-la?

Graças ao Batismo já possuímos a unção! Ou melhor, segundo a doutrina tradicional baseada em 2 Cor 1,21-22, ele imprimiu em nossa alma um caráter indelével, como um ferrete ou um selo. Esta unção não pode ficar inativa, inerte, se não a “libertamos”, como um ungüento perfumado que não espalha nenhum bom odor enquanto ficar fechado no vaso. E preciso quebrar o vaso de alabastro! O vaso de alabastro, quebrado pela mulher, graças ao qual a casa ficou toda perfumada (cf. Jo 12,3), era símbolo da humanidade de Cristo, o verdadeiro vaso de alabastro por sua pureza, e que teve de ser quebrado na Paixão, para que a fragrância do Espírito Santo, nele encerrada, pudesse derramar-se e perfumar toda a Igreja e o mundo inteiro. Esse vaso foi a humanidade de Jesus, totalmente repleta de seu perfume. Porém, na hora da morte, esse vaso se rompeu. Até fisicamente seu peito foi traspassado, e assim o Espírito Santo foi derramado no mundo e inundou de perfume a sua Igreja. Jesus ressuscitado encontra os discípulos ainda na tardinha da Páscoa. Soprou sobre eles, quase como que evocando o sopro criativo do princípio de tudo e disse: “Recebam o Espírito Santo”. Veja o que nos diz Santo Inácio de Antioquia: O Senhor recebeu sobre a cabeça uma unção perfumada, para efundir sobre a Igreja o odor da incorruptibilidade.

Eis o que se insere a nossa parte no que tange à unção. Ela não depende de nós, mas de nós depende remover os obstáculos que lhe impedem esparramar-se. Não é dificil compreender o que significa para nós quebrar o vaso de alabastro. O vaso é a nossa humanidade, o nosso eu. e por vezes o nosso árido intelectualismo. Quebrá-lo significa render-se a Deus, significa obediência até a morte, como Jesus. Significa total abertura ao Espírito, no dizer de hoje: uma nova efusão do Espírito tal como os apóstolos em Pentecostes!. Antes de Pentecostes, eles não foram capazes de por em prática quase nada do que tinham escutado do próprio Jesus. E mais, os apóstolos não receberam o Espírito em Pentecostes porque se tinham purificado, mas purificaram-se porque tinham recebido o Espírito. O Batismo no Espírito é chamado de graça inicial, ajuda a ser fervoroso no Espírito (Rm 12,11), isto é, a entrar no estado em que se realizam as ações a serviço de Deus com solicitude, constância e com alegria.

Atenção! Nem tudo está entregue ao esforço ascético (talvez pode dizer o que significa ascese). E muito mais depende a fé, a vida de oração, a súplica humilde. Jesus recebe a sua unção quando estava rezando (cf. Lc 3,21). É preciso, pois, pedir a unção do Espírito Santo antes de assumir qualquer função importante a serviço do Reino. Porque não dizer de vez em quando: Unge meu coração e minha mente. Deus todo-poderoso. para que eu nossa proclamar com a doçura e o poder do Espírito a tua Palavra? Alguns cânticos são particularmente apropriados para favorecerem esse abandono à unção que vem do alto. Um deles é o Veni Creator, mas há outros. Quantos não terão sentido descer sobre si a unção do Espírito enquanto ressoava estes cânticos do Espírito?

Por vezes se tem uma experiência quase física da recepção da unção. Uma certa emoção, clareza e firmeza se apoderam de súbito da alma; desaparece todo o nervosismo, todo o medo e toda a timidez; experimenta-se um pouco da clama e da própria autoridade de Deus.

Uma outra coisa preciso dizer com relação a unção espiritual: ela não anda junto com o pecado. Portanto, é necessário romper definitivamente com o pecado, oferecer a Deus um coração que rompeu definitivamente com o pecado e que não tem mais ligação direta e amigável com o pecado. Feliz de nós se podermos dizer: Senhor entendi qual é a minha verdadeira raiz de pecado, as amarras que ainda me impedem de correr livremente em direção a Ti, por isso tremendo por causa da minha fraqueza, mas cheio de confiança na Tua graça, digo: entre mim e aquele pecada não existe mais nada em comum; digo: basta! Rompo definitivamente com o meu pecado. Deus leva a sério o pecado. Não falo dos pecados que cometemos, que nos colhe de surpresa e dos quais, de urna ou de outra forma nos arrependemos e confessamos. Falo do estado de pecado. Situações de grave ruptura com Deus e com a Igreja, com as quais se continua a conviver tranquilo e se vai à oração semanal. E necessário vigia para que comece no Espírito e não termine na carne.

Líderes ungidos para espalhar no mundo o odor de Cristo

Há urna necessidade que todo o povo de Deus seja ungido pelo Espírito, pois a unção não se limita a algumas categorias de pessoas na Igreja. O ungüento espalha perfume sempre, com sua simples existência. E a unção foi conferida a cada cristão, justamente para que se torne o bom odor, de Cristo (cf. 2 Cor 2,15). Porém para a liderança essa necessidade da unção é vital, entendida no seu duplo aspecto de doçura e força. O líder pode ter recebido a autorização para fazer ou tomar determinadas decisões, mas ele precisa de autoridade no fazê-las, essa autoridade é a unção espiritual. Porque nada fazemos em nosso nome.

O Espírito Santo, é aquele óleo precioso derramado sobre a cabeça do novo Sumo Sacerdote, que é Cristo Jesus. Da cabeça ele se espalha “como uma mancha de azeite” escorrendo pelo Corpo da Igreja até a orla da sua veste, até onde a Igreja toca o mundo. A liturgia se apropria desta imagem quando, na Missa do Crisma, a Quinta-feira Santa, formula esta oração que também recitamos, encerrando esta meditação: Ó Deus, que ungistes o vosso Filho único com o Espírito Santo, e o fizestes Cristo e Senhor, concedei que, participando da sua consagração, sejamos testemunhas da redenção que Ele nos trouxe.(Missal Romano- oração da Missa do Crisma, Quinta-feira Santa).

Assim, todas as nossas ações devem estar impregnadas da presença do Espírito Santo, porque nossas ações acontecem em vista deste desígnio de Deus, de cumprir este desígnio de Deus. Assim tudo devemos fazer para preservá-la a graça da unção espiritual.. Devemos ter um zelo especial por ela, procurar vivê-la da melhor forma para poder comunicá-la de forma fiel, sem deformá-la, sem abafá-la, sem minimizá-la. “Nós existimos como Shalom para levar esta graça para a Igreja e toda humanidade. Precisamos mais e mais. Ser fiel a ela é ser fiel ao nosso chamado. A dimensão carismática é parte essencial da nossa vocação e faz parte da nossa missão. Se colocarmos isto de lado, nós estaremos sendo inúteis para a Igreja.. .Na hora que isto não for importante para nós estamos preparados para morrer porque seremos inúteis para a Igreja. Somos zeladores e comunicadores desta graça… Acolher, animar e comunicar esta graça deve ser a nossa atitude. E nossa responsabilidade acolher e viver segundo a unção do Espírito. Precisamos de zelo especial para vivermos a graça do batismo no Espírito Santo, o exercício dos carismas do Espírito Santo.

Toda a nossa evangelização deve ser também recheado dos dons carismáticos. Não podemos ter medo de exercitá-los, pelo contrário, esses dons devem fluir livre e eficazmente para que este anúncio seja cheio da ação e do poder do Espírito Santo.

O Espírito Santo é a alma de todo anúncio e de toda evangelização. Omitir, deixar de ensinar, não incentivar a ação carismática do Espírito é deixar o anúncio incompleto, é ferir a vontade de Deus, é diminuir os canais da ação de Deus no meio do seu povo: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. Estes milagres acompanharão os que crerem… (Mc 16,15-18). Os homens não querem apenas ouvir vozes que falem de Deus, mas ouvir a voz de Deus através de nossas palavras. O Espírito Santo deve passar sem obstáculo por meio de nossas palavras.

 

Formação Shalom 2003


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