Estava eu a pensar, durante minha oração pessoal, em qual seria o motivo ou o fato da minha vida que escondia o segredo da minha atração por Deus desde minha infância. Cogitei a possibilidade de a morte do meu irmão mais novo, quando eu tinha 4 anos, ter me atraído de forma mais decisiva, paradoxalmente, para o mistério da vida, escondida no terno amor de Deus, que enxugava as lágrimas que surgiam do meu sofrimento.
Outro fator muito importante foi o fato de eu ter estudado quase a totalidade da minha vida no Colégio Shalom, os amigos que lá cultivei, o zelo pelas coisas de Deus tão bem transmitido pelos professores.
Lembrei-me de minha infância e de como eu gostava de fazer brincadeiras, de me divertir, de me alegrar, de ser o centro das atenções, das piadas e como esse dom da alegria perdura até hoje. De fato, Deus me deu um humor incontestável. Não suporto estresses desnecessários. Este humor me retira de muitas dores e, o principal, me retira de todo sentimento de revolta.
Sim, a revolta… Esta palavrinha bombástica não chegou a habitar muitas vezes o campo dos meus sentimentos mais intrínsecos. Não que eu seja o Cristo dócil, mas, não posso negar, a docilidade em mim era mais notável que em outras pessoas da mesma idade que eu. Mesmo as discussões acaloradas pelos hormônios na adolescência não me estimulavam muito a me rebelar contra o mundo, contra as regras, contra as leis sociais.
Não posso esconder uma grande dificuldade que eu tinha: aceitar injustiças e autoritarismos. Nessas horas minhas entranhas guerreavam comigo. Na alfabetização, cheguei a esmurrar minha professora porque ela queria que eu a beijasse à força na hora de tirar as fotos para a festa do ABC, como se em mim, por ela, existisse alguma afetividade positiva. Isso era altamente improvável que acontecesse, visto que eu, literalmente, a odiava.
Essa minha “nervosidade” não afetou drasticamente a minha alma, que ainda conservava um grande desejo de Deus. Era exatamente isso que eu não compreendia! O que me fazia diferente das outras pessoas por desejar tanto a Deus? Não tenho certeza, mas fui a única criança que chorou na minha primeira comunhão. E os meus colegas me questionavam o porquê deste meu feito. Eu, obviamente, não conseguia compreender o motivo do susto deles com o meu choro.
Não, não quero endeusar-me aqui. De fato, escrevi isto em homenagem a uma outra pessoa. Vou explicar melhor: depois de pensar na minha infância, na minha adolescência e, atualmente, na minha juventude, Deus me revelou por que eu conservava, desde infante, uma grande sede de Deus, que me fez buscá-Lo até hoje. Eu percebi, atenção, que isso tudo era porque eu sempre dei ouvidos à minha mãe. Ela sempre foi e ainda é a minha maior conselheira humana, espiritual, amorosa. Durante toda a minha vida, ela foi depositária das minhas dúvidas e dos meus problemas. Lembro-me de não gostar quando ela me questionava se eu já tinha feito oração pessoal diariamente. Hoje, descobri que essa cobrança surtiu em mim um desejo de descobrir o que era ter uma vida de oração. Já que era tão importante eu rezar todos os dias, segundo ela, eu buscava experimentar esta certeza que minha mãe me transmitia.
Que grande revelação Deus me deu. Hoje, sou um homem feliz porque dei ouvidos à minha mãe desde pequeno. Posso testemunhar, portanto, que o homem que honra seu pai e sua mãe preserva o maior dos tesouros e, na medida do avançar da sua sabedoria, ele descobre ali dentro a Verdade revelada na sua maior pureza. Eu tenho a felicidade, eu tenho a Verdade. Que grande privilégio! Que grande inquietação! Como posso ser tão feliz e, ao mesmo tempo, ver tantos homens infelizes?!
É esta inquietação que me motivou a escrever. Mães: sejam mães! Esta é a esperança de um mundo melhor. Seus filhos querem ser exortados, acolhidos, amados. Eles querem, de vez em quando, ficar de castigo, levar uma palmada, mas o que eles verdadeiramente anseiam é aprender como ser felizes como sua mãe é. Exortem, amem, aconselhem, conheçam-se, conheçam seus filhos, deixem-nos livres, conduzam-nos para Deus! Não tenham medo, mas ousem, olhem para o alto!
Filhos, sejam filhos! Não percam o momento maior da educação, de pedir um conselho à sua mãe, pois ela sempre guarda a visão do alto para solucionar os seus problemas mais secretos, mesmo que muitas vezes nós não compreendamos.
MÃES, REPITO: SEJAM MÃES!!!
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