No próximo dia 29 de setembro celebra-se o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. O tema é: “Não se trata apenas de migrantes”. Para preparar esse dia, o Papa publicou na terça-feira dia 2 de julho uma vídeo mensagem. Francisco salienta, desde logo, que cada dia que passa é “mais elitista” e “mais cruel” com os excluídos.
Pobres sofrem consequências das guerras
“As guerras abatem-se apenas sobre algumas regiões do mundo, enquanto as armas são produzidas e vendidas noutras regiões, que depois não querem ocupar-se dos refugiados causados por tais conflitos”. (…) “Quem sofre as consequências são sempre os pequenos, os pobres, os mais vulneráveis, a quem se impede de sentar-se à mesa deixando-lhe as «migalhas» do banquete” – diz o Papa.
Segundo o Santo Padre, “a Igreja “em saída” (…) “sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos”. “ Aqueles que nós mesmos excluímos como sociedade. O desenvolvimento exclusivista torna os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. ”
“Verdadeiro desenvolvimento é aquele que procura incluir todos os homens e mulheres do mundo, promovendo o seu crescimento integral, e preocupa-se também com as gerações futuras. O verdadeiro desenvolvimento é inclusivo e fecundo, projetado para o futuro” – conclui Francisco na sua vídeo mensagem.
Compaixão para reconhecer o sofrimento
A mensagem do Papa para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado em 2019 salienta o sofrimento dos pobres e dos desfavorecidos. Acentua que “as sociedades economicamente mais avançadas tendem, no seu seio, para um acentuado individualismo” e “os migrantes, os refugiados, os desalojados e as vítimas do tráfico de seres humanos aparecem como os sujeitos emblemáticos da exclusão”.
Para o Santo Padre, os migrantes e os refugiados são “um convite” para “recuperar algumas dimensões essenciais da nossa existência cristã e da nossa humanidade”. Em particular, escutar e cuidar para não fazer das “dúvidas” e dos “receios” um “problema”.
O Papa pede que o “medo” não impeça os cristãos de fazerem “obras de caridade” com os migrantes e os refugiados. E para tal, é preciso assumir o sentimento da “compaixão” – escreve o Papa – pois “a compaixão” é “um sentimento que não se pode explicar só a nível racional. A compaixão toca as cordas mais sensíveis da nossa humanidade, provocando um impulso imperioso a fazer-nos próximos de quem vemos em dificuldade. Como nos ensina o próprio Jesus, ter compaixão significa reconhecer o sofrimento do outro e passar, imediatamente, à ação para aliviar, cuidar e salvar. Ter compaixão significa dar espaço à ternura” – diz o Papa.
Primeiro os últimos
Acolher os migrantes e não reprimi-los é desenvolver uma atitude de “igreja em saída” – como nos recorda Francisco na sua mensagem – servindo aqueles que sofrem, assumindo nas nossas vidas o seu sofrimento”. O Santo Padre recorda as palavras de Jesus no Evangelho de Marcos: “Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo; e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos”.
“Não se trata apenas de migrantes: trata-se de colocar os últimos em primeiro lugar. Jesus Cristo pede-nos para não cedermos à lógica do mundo, que justifica a prevaricação sobre os outros para meu proveito pessoal ou do meu grupo: primeiro eu, e depois os outros! Ao contrário, o verdadeiro lema do cristão é «primeiro os últimos” – escreve o Papa.
Segundo o Evangelho de S. João, Jesus afirma: “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância”. “Nesta afirmação de Jesus, encontramos o cerne da sua missão: procurar que todos recebam o dom da vida em plenitude, segundo a vontade do Pai. Em cada atividade política, em cada programa, em cada ação pastoral, no centro devemos colocar sempre a pessoa com as suas múltiplas dimensões, incluindo a espiritual. E isto vale para todas as pessoas, entre as quais se deve reconhecer a igualdade fundamental” – diz o Papa.
Missão da Igreja: acolher, proteger, promover e integrar
Para o Papa Francisco, “o desafio colocado pelas migrações contemporâneas pode-se resumir em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar. Mas estes verbos não valem apenas para os migrantes e os refugiados; exprimem a missão da Igreja a favor de todos os habitantes das periferias existenciais, que devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados. Se pusermos em prática estes verbos, contribuímos para construir a cidade de Deus e do homem, promovemos o desenvolvimento humano integral de todas as pessoas e ajudamos também a comunidade mundial a ficar mais próxima de alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável que se propôs e que, caso contrário, dificilmente serão atingíveis. Por conseguinte, não está em jogo apenas a causa dos migrantes; não é só deles que se trata, mas de todos nós, do presente e do futuro da família humana” – escreve o Papa na sua mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado neste ano de 2019.
Francisco afirma na sua mensagem que os “migrantes” “ajudam-nos a ler os sinais dos tempos”. O Senhor, através dos migrantes, “chama-nos a uma conversão” e “convida-nos” a “contribuir” para um “mundo cada vez mais condizente com o projeto de Deus”.