Na África Central retorna o medo. Após um período de relativa paz, na tarde desta quarta-feira, 28, homens armados, possivelmente pertencentes aos ex-rebeldes muçulmanos Selèka, atacaram com granadas a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, na periferia de Bangui, a capital, matando dezenas de pessoas, talvez sessenta, entre as quais também um sacerdote. Algumas pessoas teriam sido feitas reféns. Sobre a situação conversamos o sacerdote centro-africano, Mathieu Bondobo, atualmente em Roma:
R. – Esta notícia é muito triste e grave. No início, sempre dissemos que este conflito é político, e não é inter-religioso; mas o fato de atacar assim uma paróquia, de modo preciso, nos dá medo, porque é um dado forte para dizer que o conflito está se tornando cada vez mais inter-religioso. E isso também nos ajuda a dizer que nós confissões religiosas devemos abrir os olhos para não sermos manipulados pelos políticos, porque basta pouco para cair nessa armadilha! Este povo sempre viveu junto com as várias confissões religiosas, e por isso, não é agora que podemos começar a fazer a guerra. No entanto, devemos estar preparados e atentos para evitar essas armadilhas. Repito novamente, com o que aconteceu, basta pouco para que nasça de novo a vingança nos corações das pessoas …
P. – Por que esse ataque?
R. – Eu não tenho uma ideia clara sobre as razões, sobre as causas exatas deste ataque. Mas é preciso dizer que esta paróquia – Nossa Senhora de Fátima – está localizado em uma área muito próxima de um bairro onde já havia rumores de que alguns dos rebeldes tivessem se infiltrado, e que estariam na área. E então uma paróquia muito periférica é uma área um pouco de fogo, e portanto, basta pouco para ataques deste tipo.
P. – Qual é o papel da Igreja nesta situação e o que fazem as paróquias em Bangui, em particular?
A. – Digamos que desde quando este conflito começou, a Igreja Católica sempre fez muito: a Igreja Católica é a favor da paz … E, portanto, esta paróquia de Nossa Senhora de Fátima, como todas as paróquias da capital, Bangui, tornou-se um local de acolhimento. Assim, todas as pessoas que já não se sentem seguras encontraram refúgio dentro da igreja: este é o fato grave. E então, esta igreja – como todas as outras paróquias da capital – acolhe tantas pessoas, mas as igrejas não estão protegidas! E aqui eu quero fazer um apelo às instituições internacionais, para abrirem os olhos: uma paróquia em favor da paz que acolhe tantas pessoas e que não é protegida … não é normal! E assim, entre as vítimas há tantas pessoas – na maioria cristã, é claro, mas também todas as outras pessoas – que no seu bairro não encontraram segurança e que se refugiaram no seu interior.
Fonte: Rádio Vaticano