Formação

Amarás teu próximo como a ti mesmo

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Essa frase consta também no Antigo Testamento (Lv 19,18).

 Para responder a uma pergunta capciosa, Jesus se insere nagrande tradição profética e rabínica que indagava sobre o princípio unificadorda Torá, ou seja, sobre o ensinamento de Deus contido na Bíblia. Umcontemporâneo de Jesus, Rabbi Hillel, tinha dito: “Não faça com seu próximoaquilo que detestaria fosse feito a você, nisto se resume toda a lei. O resto éapenas interpretação” (Shabbat 31a).

 Para os mestres do judaísmo, o amor ao próximo provém doamor a Deus, que criou o homem à sua imagem e semelhança – por essa razão, nãose pode amar a Deus sem amar a sua criatura; esse é o verdadeiro motivo do amorao próximo e é “um princípio grande e geral na lei” (Rabbi Akiba, comentáriosrabínicos a Lv 19,18).

 Jesus reforça esse princípio e acrescenta que o mandamentode amar o próximo é semelhante ao primeiro e maior de todos os mandamentos:amar a Deus com todo o coração, com toda a mente e com toda a alma. Ao afirmarque existe uma relação de semelhança entre os dois mandamentos, Jesus os unedefinitivamente. Isso será feito também por toda a tradição cristã. É o queconfirma o apóstolo João de modo lapidar: “Quem não ama seu irmão, a quem vê,não poderá amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,20).

 Amarás teu próximo   como a ti mesmo.

 Todo ser humano é – o Evangelho inteiro afirma issoclaramente – nosso "próximo", homem ou mulher, amigo ou inimigo, aquem se deve respeito, consideração, apreço. O amor ao próximo é universal epessoal ao mesmo tempo. Abraça toda a humanidade e se especifica “naquele queestá ao seu lado”.

 Mas, quem pode nos dar um coração tão grande, quem podesuscitar em nós uma benevolência tão grande a ponto de considerarmos comonossos “próximos” inclusive as pessoas com quem não temos nada a ver, de nosfazer superar o amor-próprio, para vermos a nós mesmos nos outros? É um dom deDeus, ou melhor, é o próprio amor de Deus que “foi derramado em nossos coraçõespelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

 Logo, não se trata de um amor comum, não é simples amizadenem apenas filantropia, mas é aquele amor que foi derramado em nossos coraçõesjá no batismo, aquele amor que é a vida do próprio Deus, da SantíssimaTrindade, e do qual podemos participar.

 O amor, portanto, é tudo. Mas para podermos vivê-lo bem, énecessário conhecer as suas qualidades, que sobressaem do Evangelho e daSagrada Escritura em geral, e que vamos tentar sintetizar em alguns aspectosfundamentais.

 Antes de tudo, Jesus, que morreu por todos, amando a todos,nos ensina que o verdadeiro amor deve ser dirigido a todos. Não é como o amorque muitas vezes vivemos, meramente humano, que tem um raio de alcancerestrito: a família, os amigos, os vizinhos… O amor verdadeiro que Jesus pedenão admite discriminações; não faz distinção entre a pessoa simpática eantipática; para esse amor não existe o bonito e o feio, o adulto e a criança,o conterrâneo e o estrangeiro, o irmão da própria Igreja ou de outra, daprópria religião ou de outra. Esse amor ama a todos. É isso que devemos fazer:amar a todos.

E ainda, o amor verdadeiro toma a iniciativa; não espera seramado, como em geral acontece com o amor humano, que nos leva a amar aquelesque nos amam. Não, o amor verdadeiro toma a iniciativa, como fez o Pai quando,sendo nós ainda pecadores – e, portanto, quando ainda não amávamos –, mandou oFilho para nos salvar.

Sendo assim, amar a todos e tomar a iniciativa no amor.

 O amor verdadeiro reconhece também a presença de Jesus emcada próximo. No juízo final, Jesus nos dirá: “Foi a mim que o fizestes” (cf Mt25,40). Isso vale para o bem que fazemos e, infelizmente, também para o mal.

O amor verdadeiro ama o amigo, mas também o inimigo; faz-lheo bem, reza por ele.

Jesus deseja também que o amor, trazido por Ele à terra, setorne recíproco: que um ame o outro e vice-versa, de modo que se alcance aunidade.

 Todas essas qualidades do amor nos levam a entender e vivermelhor a Palavra de Vida deste mês.

  Amarás teu próximo   como a ti mesmo.

 O amor verdadeiro ama o outro como a si mesmo. Isso deve serseguido ao pé da letra: temos realmente que ver no próximo um “outro nós” efazermos ao outro o que faríamos a nós mesmos. O amor verdadeiro é o que sabesofrer com quem sofre, alegrar-se com quem se alegra, carregar os pesos dosoutros e, como diz Paulo, sabe “fazer-se um” com a pessoa amada. Dessa forma, éum amor não só de sentimento ou de palavras bonitas, mas que se exprime emfatos concretos.

 Quem possui outra fé religiosa também procura agir assim, segundoa conhecida “regra de ouro”, que existe em todas as religiões. Ela exige quefaçamos aos outros o que gostaríamos que fosse feito a nós. Gandhi a explica demodo muito simples e eficaz: “Não posso fazer mal a você sem ferir a mim mesmo”(cf. Wilhelm Mühs, Palavras do Coração, Cidade Nova, São Paulo, 1998).

 Este mês, portanto, deve ser uma oportunidade parareavivarmos o amor ao próximo, que tem os mais diferentes rostos: o vizinho, acolega de escola, o amigo, o parente mais próximo. Mas tem também o rostodaquela humanidade angustiada dos países em guerra ou das vítimas decatástrofes naturais, que a televisão traz às nossas casas. Antes eramdesconhecidos e muito distantes, mas agora também eles se tornaram nossospróximos.

 O amor vai nos sugerir, em cada circunstância, o que fazere, aos poucos, dilatará o nosso coração segundo a medida do coração de Jesus.


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