Adoração
É do coração de Jesus ressuscitado que passou pela cruz que jorra a verdadeira Paz (cf. Jo 20,19-20). Somos chamados a adorar este coração que se nos dá na Eucaristia as vinte e quatro horas do dia. Assim, revezamo-nos dia e noite diante do coração aberto de Jesus em adoração, reparação e intercessão.
Aos pés de Jesus na Eucaristia nos enchemos do seu Espírito e dele aprendemos o que é a verdadeira Paz que, em seu Nome, somos chamados a viver e ministrar a cada dia.
Sabemos que “não poderá jamais existir a verdadeira Paz nas almas dos homens e no mundo se esta Paz não estiver embasada em um amor incondicional a Jesus Cristo, pois aí nasce o Shalom de Deus” (Regras da Comunidade Shalom). Adorando Jesus Eucarístico, unimos ao seu o nosso pobre coração e o amamos. Nossa adoração, assim, consiste muito mais nesta troca silenciosa e apaixonada de amor do que em palavras.
Na adoração, a presença de Jesus ressuscitado imprime no mais profundo do nosso ser seu imenso e incondicional amor por cada um de nós e por todos os homens. É o momento de compreendermos os mistérios do amor de Deus, que não se traduzem em palavras, mas que, silenciosamente, vão-nos marcando como ferro em brasa e cauterizando em nós o que se opõe à perfeita caridade para com Deus e para com os homens. É neste amor incondicional de Deus por nós, aprendido aos pés da Eucaristia, que aprendemos a verdadeira Paz e o amor incondicional à humanidade inteira e a cada homem por amor ao nosso Esposo e união ao Príncipe da Paz: “… não podemos dar o que não possuímos, e a única maneira de possuir esta paz é deixar-se possuir por Jesus Cristo, Senhor nosso” (Regras da Comunidade Shalom).
Ainda uma vez o Amor Esponsal nos une a Jesus e nos impulsiona à ousadia dos santos. Novamente este amor nos sustenta, mais uma vez nos ensina e conduz. Sem o Amor Esponsal não há como estar em adoração e troca de amor na Eucaristia. Sem ele, igualmente, não teríamos como beber da Paz e ministrá-la aos homens.
Mergulhados neste amor, porém, através da oração e da adoração, a tudo nos dispomos e nossa vida espelhará, inevitavelmente, a Vida daquele que nos possui e quem somos chamados a adorar na Eucaristia e em todos os momentos de nossas vidas.
Ministros e discípulos da paz
“Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: “Paz a vós! Shalom!” Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado” (Jo 20,20-21). Esta é a passagem da Bíblia que fundamenta a nossa vocação. Aos poucos, percebemos que o Senhor tinha para nós um desígnio muito mais profundo e abrangente do que imaginávamos no início, quando colocamos o nome “Shalom” na Obra e vocação nascentes. Este desígnio está expresso na palavra “Shalom”, dita por Jesus ressuscitado aos discípulos reunidos.
Em hebraico, a palavra “Shalom” é mais do que uma saudação, é um desejo autêntico de que se realize no outro toda sorte de bens espirituais e físicos. Mais que isso: “Para o povo de Deus, que esperava ansiosamente a manifestação do Messias, a saudação “Shalom” era já como um anúncio da salvação (…) a felicidade perfeita, a salvação que o Messias viria dar, a plenitude da PAZ. A verdadeira paz não vem dos homens, mas de Deus.” (Regras da Comunidade Shalom).
Mais que uma palavra que se diz, a expressão “Shalom” é uma bênção (boa palavra) que se ministra a alguém. Aprender esta Paz na oração, na adoração e na Palavra e ministrá-la ao mundo, eis o nosso chamado.
Ao pronunciar a palavra “Shalom”, Jesus ressuscitado expressa, espelha e ministra a verdadeira paz: a salvação que sua ressurreição testifica. Expressa-a não mais como um judeu comum, mas como o Salvador, como aquele que venceu a morte, de quem o Pai dá testemunho através da ressurreição. É a primeira e única saudação de Paz do Ressuscitado registrada na Bíblia e Ele a expressa não somente com sua boca, mas com todo o seu ser ressuscitado que conserva as marcas da cruz. Sua pessoa é a própria Paz que o Pai enviou para a salvação de cada homem.
Em todo o sue ser Jesus espelha a verdadeira Paz. Aquela que não está isenta de sofrimentos, de renúncias, de mortificações, mas que encontra aí, nestas pequenas mortes por amor a Deus, o poder, a felicidade e a liberdade interior e definitiva da ressurreição.
Jesus ressuscitado, assim, expressa, espelha e também ministra a verdadeira Paz. Fá-lo, em primeiro lugar, com sua morte e ressurreição e fá-lo ao mostrar aos discípulos, enquanto fala, suas chagas gloriosas. Os discípulos, nesse momento, aprendem de Jesus a Paz que se esconde na cruz e na vitória sobre a morte. Aprendem que Jesus é a Paz, que somente Ele é o Shalom do Pai, a Paz definitiva pela qual os homens anseiam. Eis por que, após ministrar a paz aos discípulos, ensinando-a através de si mesmo e de sua Palavra, Jesus os envia a ministrá-la, insistindo, ainda uma vez, na saudação “Shalom!”: “Disse-lhes outra vez: ‘Paz a vós! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós’. Depois destas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: ‘Recebei o Espírito Santo’.” (Jo 20,19-22) e concedeu-lhes o poder divino de reconciliar os homens com Deus, que é, afinal, a expressão última de sua missão salvífica, pois a salvação é a reconciliação eterna entre Deus e os homens. Aqueles que se trancavam por medo dos judeus tornaram-se, assim, discípulos e ministros da Paz.
A nossa missão
Esta é, também, a missão de cada um de nós na vocação: ser discípulos e ministros da Paz. Aos pés de Jesus aprendemos que Ele é a Paz que devemos não somente desejar, mas ensinar aos homens, levando-os a uma experiência pessoal com Jesus Vivo, pelo poder do Espírito Santo. Assim como Jesus ensinou aos seus discípulos a Paz através da experiência de sua ressurreição que não escondia as marcas gloriosas da Paixão, assim também aprendemos dele a Paz pela experiência de sua pessoa viva que age em nós. Assim como Jesus enviou os discípulos a ministrarem a reconciliação do mundo com Deus, também nos envia como arautos e ministros da Paz, da experiência com Jesus Ressuscitado, único capaz de realizar esta reconciliação e conduzir cada homem e todos os homens à verdadeira Paz: “A conversão é o caminho que conduz à paz; o mundo não encontrará a paz se não se voltar para Deus.” (Regras da Comunidade Shalom, citando palavras de Nossa Senhora em Medjugorje).
“O Senhor nos chama a sermos anunciadores da sua paz (Is 52), a vivermos e proclamarmos a sua Paz. A levarmos com a nossa vida, com a nossa palavra e com o nosso testemunho, o Shalom de Deus aos corações; a sermos instrumentos de reconciliação do mundo com Deus; a anunciarmos com todo o nosso coração, com todas as nossas forças a salvação de Jesus Cristo e o seu Evangelho (…). O mundo só encontrará a Paz se encontrar Jesus, e é este Jesus que nós devemos proclamar em todo o tempo e lugar. Para instaurar a paz nos corações e no mundo, o Senhor nos chama a anunciar Jesus Cristo e a formar autênticos filhos de Deus. Devemos levar a todos aqueles a quem o Senhor nos enviar o que Ele ordenou quando enviou os seus discípulos: “Paz a esta casa”, e ali, pelo poder de Jesus, estabelecer a paz, anunciando o Evangelho, o Reino de Deus que está próximo, curando os enfermos, derramando o Espírito Santo (cf. Lc 10,1-12), estabelecendo assim o Shalom de Deus. Devemos ser a voz do Cristo ressuscitado que faz da sua primeira palavra aos apóstolos um anúncio de paz (cf. Jo 20,19-21), pois, Vitorioso, Ressuscitado, cheio de autoridade e poder, Ele é a única paz para o coração do homem: “Cristo é a nossa paz (cf. Ef 2,14).” (Regras da Comunidade Shalom).
Assessoria Vocacional Shalom