É quase automático: todo fim de relacionamento aparece um amigo, com a maior boa intenção do mundo, aconselhando-nos a curar o amor antigo com um novo. E o pior: há pessoas que , realmente, acreditam que isso possa dar certo.
A rotina de quem acaba de ficar solteiro é cruel e, caso você não seja muito controlado, entrará em um surto psicótico em questão de segundos. O calendário passa por uma mudança tão brusca que você pensa que mudou o ano sem aviso prévio: não tem mais quem buscar no trabalho, não tem companhia para ir o cinema, os programas de quinta à noite passam a não existir e o domingo parece nunca mais acabar. Nesses dias, você entra em um desespero e quer, a qualquer custo, encontrar uma companhia, para suprir os dias que ficaram longos demais (quando, na pior das hipóteses, não cogita voltar no relacionamento anterior).
O medo de ficar sozinho é tão grande que faz com que as pessoas tomem decisões erradas. Sem entender que essa solidão é um estado provisório e dura pouquíssimo tempo (infelizmente, porque ela é muito divertida).
Essa ideia de que os momentos de solidão estão associados ao desânimo e ao vazio existencial é enganosa. É na solidão que você descobre que gosta de vinho, de seriados e de comer na sala. São nos momentos de solidão que você descobre os próprios valores e aprende que ninguém pode te tratar menos do que você merece. Aprende a se respeitar e a exigir que os outros façam o mesmo. Na solidão nos descobrimos. Como dizia Herman Hesse “nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.”
Sabe, não somos máquinas. Todo término de relacionamento merece um período de silêncio, de respeito, de quietude. Não dá para engatar uma história na outra, porque as pessoas são diferentes e carregam bagagens de vida pesadas. A alma também precisa ser arrumada, limpa, organizada. Não dá para receber visita em casa suja. Arrume essa vida primeiro. Limpe essa sujeita que ficou. Feche as brechas da saudade. Cure essas marcas do passado. Feche essas feridas que não cicatrizaram ainda. Há tanta desordem nesse coração e você querendo receber uma nova visita. Faxina leva tempo e você deve esperar o seu. Antes de abrir a porta da sua vida alguém, olhe pelo olho mágico da porta. É mais fácil proibir a entrada do que ter que tirar depois.
Fonte: Aleteia