Esta via da obediência a Deus não tem, por si, nada de místico ou extraordinário, mas está aberta a todos os batizados. Consiste em «Apresentar os assuntos a Deus», segundo o conselho que um dia deu a Moisés seu sogro Jetro (Cf. Ex 18, 19). Eu posso decidir por mim mesmo tomar uma iniciativa, fazer ou não fazer uma viagem, um trabalho, uma visita, um gasto, e depois, uma vez decidido, rogar a Deus pelo êxito do assunto. Mas se nasce em mim o amor da obediência a Deus, então atuarei de forma diferente: perguntarei a Deus, com o meio simplíssimo que é a oração, se é sua vontade que eu realize essa viagem, esse trabalho, aquela visita, aquele gesto, e depois o farei ou não, mas já será, em todo caso, um ato de obediência a Deus, e não já uma livre iniciativa de minha parte.
Normalmente está claro que não ouvirei, em minha breve oração, nenhuma voz, nem terei resposta explícita alguma sobre o que fazer, ou ao menos não é necessário que a tenha para que o que faço seja obediência. Atuando assim, de fato, submeti o assunto a Deus, despojei-me de minha vontade, renunciei a decidir eu só e dei a Deus uma possibilidade de intervir, se quiser, em minha vida. O que agora decida fazer, regulando-me com os critérios ordinários de discernimento, será obediência a Deus.
Como o servidor fiel não toma jamais a iniciativa nem atende uma ordem de estranhos sem dizer: «Devo escutar antes meu patrão», igualmente o verdadeiro servo de Deus não empreende nada sem dizer-se a si mesmo: «Devo orar um pouco para saber o que quer meu Senhor que eu faça!». Assim se cedem as rédeas da própria vida a Deus! A vontade de Deus penetra, desta forma, cada vez mais capilarmente no tecido de uma existência, embelecendo-a e fazendo dela um «sacrifício vivo, santo e agradável a Deus» (Rm 12, 1). Toda a vida converte-se em uma obediência a Deus e proclama silenciosamente sua soberania na Igreja e no mundo.
Deus –dizia São Gregório Magno– «às vezes nos adverte com as palavras, às vezes, ao contrário, com os fatos», isto é, com os acontecimentos e as situações [7]. Existe uma obediência a Deus –com freqüência entre as mais exigentes– que consiste simplesmente em obedecer às situações. Quando se viu que, apesar de todos os esforços e os rogos, há em nossa vida situações difíceis, às vezes até absurdas e –em nossa opinião– espiritualmente não produtivas, que não mudam, é necessário deixar de «dar murros contra a parede», e começar a ver nelas a silenciosa, mas resoluta vontade de Deus em nós. A experiência demonstra que só depois de ter pronunciado um «sim» total e desde o profundo do coração à vontade de Deus tais situações de sofrimento perdem o poder angustiante que têm sobre nós. Vivemo-las com mais paz.
Um caso de difícil obediência às situações é o que se impõe a todos com a idade, ou seja, a aposentadoria da atividade, o cessar da função, ter de passar o testemunho a outros deixando talvez incompletos e suspensos projetos e iniciativas em andamento. Há quem, brincando, disse que a função de superior é uma cruz, mas que às vezes o mais difícil de aceitar não é subir a ela, mas baixar, ser privados da cruz!
Certamente não se trata de ironizar sobre uma situação delicada, ante a qual ninguém sabe como reagir até que não chegue. Esta é uma das obediências que mais se aproximam à de Cristo em sua Paixão. Jesus suspendeu o ensinamento, truncou toda atividade, não se deixou reter pelo pensamento de o que acontecerá com seus discípulos; não se preocupou de que seria de sua palavra, confiada, como estava, unicamente à pobre memória de alguns pescadores. Nem sequer deixou reter pelo pensamento de que deixava sozinha uma Mãe. Nenhum lamento, nenhum intento de fazer mudar a decisão ao Pai: «Para que o mundo saiba que amo o Pai, e que faço segundo o Pai me ordenou. Levantai-vos –disse–, vamos» (João 14, 31).
Frei Raniero Catalamessa
Formação/2008