Meus pais tiveram um casal de filhos. Sou o filho mais novo. Eu era uma criança tímida, retraída e que tinha poucos amigos na escola. Não gostava muito de estudar e minha mãe me levava para o trabalho dela pra que ela pudesse me acompanhar nos estudos.
Fui crescendo e minha desobediência também crescia. Era teimoso. Não atendia às orientações de meus pais.
Aos doze anos, comecei a dar importância à opinião dos meus amigos de escola e vizinhos. Alguns deles, mais velhos que eu, já tinham experimentado álcool e maconha, e me falavam muito sobre elas. Isso foi me despertando a curiosidade e o desejo de experimentar. A minha primeira experiência foi meio absurda. Eu usei um diluente cujo efeito era comparado ao do loló, deixava-me muito estimulado e alucinando. Em seguida, conheci a maconha. No início, usava para ir a uma festa ou sair aos finais de semana. Acabei me acostumando com ela e virou uma rotina. Eu só almoçava ou dormia, se fumasse um baseado. Aos poucos, a curiosidade por experimentar outras substâncias psicoativas, foi aumentando. Eu queria saber o efeito delas sobre mim. Passei a usar alguns psicotrópicos, que são medicamentos controlados e que atuam no Sistema Nervoso Central.
Eu descobri que o álcool, a maconha e os psicotrópicos juntos me deixavam muito massa, muito poderoso, eu me achava o cara! Eu me sentia fortão, não tinha medo de nada nem de ninguém. Não me interessava a opinião de ninguém. Não me importava com nada, nem com ninguém. Não me interessava pela minha família, apenas frequentava a escola. O que eu queria mesmo era curtir. Eu andava muito em festas nas praias de Iracema e do Futuro, onde a liberdade era muito grande.
Isso acontecia por volta de meus quinze anos. Foi nessa época que eu conheci a cocaína. Naquela época, ela era uma droga muito cara e de difícil acesso. O custo era muito alto. Daí comecei a praticar pequenos furtos para conseguir manter o vício.
Desenvolvi vários vícios: o álcool, a maconha, o cigarro, a cocaína, os psicotrópicos, os roubos. Aos poucos fui me deixando envolver nesse mundo obscuro e passei a ser avião, um tipo de intermediário entre o traficante e o viciado. Assim, aos 17 anos, fui preso porque estava transportando uma grande quantidade de drogas. Essa droga era pra abastecer um carnaval.
Graças à intervenção da minha família, saí logo com o propósito de realizar um tratamento. Mas driblei a ordem judicial. Continuei usando e fazendo meus bicos, para conseguir as drogas do meu uso.
Minha vida era controlada pelos desejos das drogas e das facilidades. Eu já não tinha mais amor próprio, não tinha amigos, achava que não podia contar com ninguém.
Apesar de tudo, conheci uma garota e constituí uma família com ela. Aos trancos e barrancos, fomos levando nosso relacionamento. Nasceram nossos dois filhos, que são grandes presentes de Deus em nossa vida. Nem assim, eu tomava jeito! Nem assim abandonei os vícios! E cada vez mais eu me afundava na compulsão de querer sempre mais e mais. Não haviam limites para meus desejos.
Foi então que passei a usar o crack. Ele acabou com o que me restava. Levou minha identidade, minha família, meu lar. Eu troquei tudo pelo crack. Passei a morar na rua. Eu roubava as coisas de dentro da minha casa, as coisas da minha esposa, dos meus filhos. Isso foi o meu fim. Virei mendigo, pedinte, cometia assaltos, rasgava sacos de lixo à procura de algo pra trocar por drogas. Eu trocava tudo por drogas. Até a própria roupa do corpo.
Dentro de mim havia um grande vazio. A droga me fazia fugir de mim mesmo, dava-me a sensação de que ela me preenchia, dava-me o prazer que eu tanto buscava. Mas quando passava o efeito, eu percebia que o vazio se tornava muito maior. E eu voltava a usar de novo porque o meu corpo pedia. Isso me dava um desespero e eu chorava. Muitas vezes, usava a droga chorando. Muitas vezes, passava de três a quatro dias acordado direto feito um zumbi.
Um belo dia, exausto de tudo, fui à casa de meus pais pedir dinheiro para comprar crack. Minha mãe disse que não tinha. Porém, meu filho mais velho, que tinha sete anos na época, apareceu, e disse que tinha R$ 5 que ganhara pra tomar um sorvete no shopping. Então, eu falei: “Filho, me dá esses R$ 5, que amanhã o pai te dá”. Eu estava manipulando meu próprio filho! Eu não tinha de onde tirar o dinheiro! Então, ele me olhou e disse: “Pai, porque o senhor está assim?” (sujo, maltrapilho, pedinte).
Aquele foi o momento em que Deus se utilizou dele como instrumento de salvação para a minha vida. E eu respondi: “Meu filho, o pai está doente”. Ao que ele respondeu: “Pai, mas quem está doente, procura o médico”. Então, comecei a chorar com ele, mas mesmo assim, peguei o dinheiro e fui usar. Mas a droga já não me fazia mais o mesmo efeito.
Eu chorava muito. No dia seguinte, resolvi procurar ajuda. Passei pelo tratamento do Estado, mas eu achava que me faltava “algo” que eu não compreendia e nem sabia como nem onde encontraria respostas que atendessem a esse desejo do meu coração. Foi então que cheguei ao Projeto Volta Israel, onde me senti totalmente à vontade. Aos poucos, fui me inserindo como voluntário, eu e minha esposa passamos a fazer parte de um Grupo de Oração no Projeto Família, meus filhos passaram a conviver com uma realidade completamente diferente daquela em que estavam.
Hoje, eu percebo o quanto Deus me cuidou. Fui livrado inúmeras vezes de morte. Hoje, vejo que muitos que estiveram comigo já morreram devido ao uso excessivo de drogas, outros, foram mortos por vários motivos que não preciso relatar.
O Senhor foi me lapidando e fazendo milagres na minha vida e na vida da minha família em todos os aspectos.
Hoje, para honra e glória do Senhor, sou funcionário do Projeto Volta Israel. Eu e minha esposa somos ministros da Sagrada Eucaristia, nossos filhos servem no Altar do Senhor, somos engajados na Comunidade Shalom, somos servos de Deus e por isso somos muito felizes.
Aquela pessoa que era um caso perdido, sem identidade e que já não tinha mais jeito para a sociedade, foi transformada por Jesus Cristo. Pela abertura de coração e pelo poder restaurador do Senhor, hoje eu sou um homem novo!
Pra finalizar, gostaria de mostrar uma Palavra que o Senhor me deu quando eu rezava e pedia para que Ele me revelasse o que desejava de mim, um filho que já andou errante pelo mundo, mas que tem um grande desejo de fazer a vontade Dele.
“Deus escolheu os loucos e os enfermos, os fracos e os ignorantes, para através deles congregar aqueles que eram sábios, poderosos e nobres, a fim de que ninguém se vanglorie diante de Deus, mas todos se gloriem Naquele que desceu, que voltou para Nazaré e que era submisso”. (I Cor 1, 26-29)
Que o Senhor me guarde sempre junto Dele. Amém.
George Davis dos Santos Rocha
Que Nosso Senhor de guarde.