Em viagem ao Brasil, Dom Francisco Chimoio, arcebispo de Maputo, em Moçambique, visitou a Diaconia Shalom na última sexta-feira, 3. O presbítero conheceu a estrutura da Comunidade Católica Shalom em Aquiraz e celebrou Santa Missa em honra ao Sagrado Coração de Jesus. O pontífice falou ainda sobre a evangelização dos jovens no país africano.
“Nós na nossa catequese temos que ter a coragem sempre de apresentar Jesus, Caminho, Verdade e Vida, como a solução dos inúmeros problemas que o nosso povo tem”, afirmou. Moçambique tem muitos jovens. Boa parte do trabalho na Igreja local está voltado para eles. A Comunidade Shalom realiza ações voltadas para juventude na cidade de Maputo. Dom Chimoio destaca que a melhor forma de ajudar nessa missão é viver bem e com coerência a fé professada.
Entrevista Exclusiva
Na última segunda-feira, Dom Francisco Chimoio foi entrevistado na Rádio Maria Moçambique (FM 103.1) para o programa Encontro com o Senhor. A conversa foi comandada por João Patriolino, missionário da Comunidade Shalom no país. A seguir, confira a transcrição da entrevista na íntegra. Entre os assuntos abordados, o chamado ao sacerdócio foi o tema de destaque.
João: No quadro “Encontrei o Senhor”, de hoje à tarde, nós estamos aqui com Vossa Excelência Reverendíssima, o senhor Arcebispo de Maputo Dom Francisco Chimoio, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Nasceu em Búzi, distrito da Província de Sofala, em 06 de dezembro de 1947. A sua ordenação presbiteral se deu há 38 anos. 38 anos de padre. A ordenação episcopal, na Diocese de Pemba, foi em 25 de fevereiro de 2001, há 17 anos. A nomeação para Arcebispo, em Maputo, há 15 anos, em 22 de fevereiro de 2003, e a posse como Arcebispo de Maputo em 27 de abril de 2003. O lema episcopal é “Aqui estou, ó Deus, para fazer a Tua vontade” (Hebreus 10, 9). A população arquidiocesana de Maputo hoje conta com pouco mais de 2 milhões e 500 mil habitantes. O número de católicos é aproximadamente 835.025, cerca de 30% do total da população. Está distribuída em 46 paróquias, possui 38 padres diocesanos e 72 padres religiosos, contando com um total de 110 sacerdotes.
Nessa semana em que celebramos o dia do padre, porque dia 04 de agosto, dia de São João Maria Vianney, conhecido por Cura D´Ars, é o dia do sacerdote, nada melhor do que entrevistarmos o nosso Arcebispo, o “padre maior” da nossa Arquidiocese.
João: Boa tarde, Dom Chimoio. Como foi o seu encontro com o Senhor, o chamado que Deus lhe fez?
Dom Chimoio: Boa tarde! Muito obrigado por essa oportunidade que me é concedida de poder também tecer algumas considerações sobre a caminhada, sobre o convite que o Senhor Jesus me fez para ser o Seu ministro junto do povo de Deus, em peregrinação. A pergunta que me foi dada realmente me comove, me dá também uma grande alegria de poder também partilhar com todos os ouvintes da Rádio Maria de que o Senhor, passando pela minha vida, pela minha aldeia, paróquia, Diocese, me convidou a segui-lo de perto, a exemplo de padres que estavam a frequentar a nossa paróquia e também dos seminaristas, como o falecido Padre Emanuel Mocaoro, o falecido Dom Jaime Pedro Gonçalves, me estimulou realmente a querer também ser como eles para ser de ajuda ao meu povo no anúncio da Palavra de Deus. Essa ideia foi cada vez mais forte dentro de mim. Quando terminei a 4ª classe me apresentei ao meu pároco, da paróquia de Santo Antônio, onde fui batizado e crismado, e ele ficou até muito contente de saber que eu queria ir para o Seminário do Zóbuè, onde de fato frequentei a 3ª, 4ª, 5ª, 6ª classe e depois comecei também com os estudos da secundária. A cada dia fui me entusiasmando cada vez mais neste convite que o Senhor Jesus me fez.
Aquilo que realmente de mais forte me deu esse desejo foi ter lido a passagem do Evangelho de Mateus 19, 16-23, onde um jovem que queria seguir Jesus de perto O pergunta: “Senhor, o que é preciso para entrar no Reino dos Céus?”. Então, Jesus lhe apresenta os mandamentos da lei de Deus como o caminho certo para poder alcançar a vida que dura para sempre. O jovem diz que tem feito tudo isso desde a sua juventude e pergunta se falta alguma coisa. Jesus, olhando com afeição, diz aquele jovem: “Falta alguma coisa sim, vai para a tua casa, vende todos os bens que tens, dá o dinheiro aos pobres, depois vem e segue-me”. Isso criou uma grande dificuldade para aquele jovem, e ele, depois de ouvir o convite de Jesus, depois de ouvir esses 5 imperativos, saiu triste, nem agradeceu e nem fez mais nada, por quê? Porque de fato as riquezas para ele tinham um lugar primordial. Então, eu disse ao meu diretor espiritual: “Eu quero fazer também a experiência daquilo que o jovem deixou de fazer, aquilo que abandonou”, porque afinal de contas o considerava realmente muito lento de mente e também um bocado limitado. Se Jesus disse que devia realmente vender os seus bens, era esse o caminho certo para poder verdadeiramente segui-lo de perto e alcançar a vida eterna. Eu disse ao meu diretor espiritual: “Eu quero fazer a experiência daquilo que o jovem não quis fazer, para me entregar totalmente no serviço do anúncio da Palavra de Deus e para me entregar também a Jesus, que passou fazendo o bem”.
João: Dom Chimoio, o Papa Francisco disse, em homilia na Casa Santa Marta, no dia 26 de junho de 2013: “Deus quer que os padres vivam com plenitude uma forma especial da graça da paternidade espiritual e pastoral, em relação às pessoas a eles confiadas”. Como é para o senhor viver essa paternidade, como aquele que se configura ao Bom Pastor? O Bom Pastor nem sempre é compreendido. Como é para o senhor essa paternidade? O senhor é o pai da Igreja Católica em Maputo. Como é essa vivência?
Dom Chimoio: Essa vivência realmente deve ser sempre conforme às exigências do Evangelho. Eu, pessoalmente, aceitando ser cristão, aceitando ser sacerdote, sou na disponibilidade de abrir o coração a quem quer que seja para que a Palavra de Deus possa chegar a todos. Essa disponibilidade deve ser também o fruto da minha união com o Senhor Jesus. Portanto, a minha oração, a minha meditação, o programa das minhas atividades, tudo deve convergir sempre para essa maior glória de Deus. Sei que ser pai espiritual não é coisa fácil, porque nem todas as pessoas vão compreender da mesma maneira aquilo que está sendo dito ou feito, mas o importante é manter a serenidade, a calma necessária e chamar as coisas pelo seu nome. Ser coerente, ser atento, ser disponível, ser transparente. Não discriminar ninguém. No meu amor não devo discriminar ninguém. Todos os padres, os missionários, todas as pessoas leigas e consagradas precisam encontrar em mim uma pessoa aberta, sincera, uma pessoa que verdadeiramente ama, mas uma pessoa que também compreende. Nesse contexto, na compreensão, no perdão, no amor, na paciência, na benignidade, na oferta cotidiana da minha pessoa que verdadeiramente é de ser elo de união para todas aquelas pessoas, de modo particular as pessoas mais necessitadas, os pobres, aqueles que de fato não têm vez e nem voz. Esses precisam ser, de fato, ancorados, amparados para serem sempre fortes na fé. É nesse contexto que vivo a minha consagração, a minha entrega ao Senhor. Todo irmão merece da minha parte respeito, amor, aceitação e deve ser também ajudado a caminhar da melhor maneira possível.
João: Dom Chimoio, no geral, as estatísticas mostram um crescimento das vocações sacerdotais na Igreja Católica. Isto acontece também na Arquidiocese de Maputo? Tivemos há alguns dias a ordenação presbiteral de mais três sacerdotes. É crescente também aqui os jovens que se sentem inclinados a doar a sua vida a Deus através do sacerdócio?
Dom Chimoio: Sim, graças a Deus. Nós temos motivos para agradecer a Deus por tudo aquilo que Ele tem realizado. De fato, no dia 21, portanto no sábado retrasado, tivemos a sorte, a graça, o dom de ordenar três sacerdotes e um diácono da Arquidiocese de Maputo. Com esse número, chegamos há 38 sacerdotes e um diácono. Portanto, está a crescer. No próximo ano, se tudo correr bem, teremos 5 seminaristas, portanto, pessoas que vão ser também proximamente ordenados diáconos. Isso significa que há de fato um acréscimo, um aumento vocacional. Temos também vocações para a vida religiosa, para a vida consagrada, para os religiosos e para os missionários. Isso para nós é motivo de grande alegria, porque a Igreja pouco a pouco vai crescendo, tendo também pessoas locais que vão tomar a responsabilidade do anúncio da Palavra de Deus. Agradecemos a Deus e agradecemos também aos pais, agradecemos aos próprios jovens que diante do apelo de Jesus não fecham os ouvidos, mas abrem o coração para acolher a mensagem de Jesus que os chama para serem Seus colaboradores.
João: Que bom! Isso também é fruto de um grande testemunho daqueles que já vivem a vida sacerdotal, a vida consagrada, porque as pessoas vão se identificando com eles, como o senhor disse que se identificou com os padres e seminaristas da sua diocese. A vida do sacerdote é muito exigente, diante do vasto campo apostólico-pastoral. Como ele se abastece a nível espiritual e também humano?
Dom Chimoio: Na nossa Arquidiocese e mesmo a nível da nação moçambicana temos tido encontros de formação permanente. Mensalmente reúno os meus padres e tenho sempre passado um dia com eles. Rezamos juntos, meditamos juntos, comemos juntos e nos damos também conselhos. Espiritualmente é isso. Portanto, seria um dia de retiro e formação permanente, combinamos as duas coisas. Depois, ao fim do ano, há um retiro para todos eles, aonde vou também. Para os religiosos há também um programa que permite bem alimentar-se facilmente conforme cada família tem o seu modo de fazer, mas há realmente essa procura constante de poderem sempre seguir de perto Jesus. Os sacerdotes diocesanos há pouco tempo tiveram duas semanas de formação permanente em Guiua, na Diocese de Inhembane, onde esteve toda a Província Eclesiástica Sul reunida. Uns 50 sacerdotes estavam presentes e voltaram muito entusiasmados, muito fortalecidos, com força de poder realmente continuar a testemunhar Jesus com muita energia. Depois, também, os próprios padres, nas próprias casas onde estão, têm também suas ocasiões de rezarem juntos, de meditarem e programarem juntos as suas formações e assistência pastoral. Somando tudo, estamos a andar bem, estamos a procurar também ir ao encontro das várias necessidades que existem, de modo particular também as necessidades materiais, com as ajudas, as intenções de missa, que são para poder custear as despesas extraordinárias que eles possam ter. Isso também é um elemento que faz parte da minha pastoral, providenciar realmente meios que permitam que também cada sacerdote possa viver tranquilamente, sem se preocupar em demasia.
João: O Sínodo dos Bispos, que acontecerá de 3 a 28 de outubro próximo, terá como tema: “Os Jovens, a fé e o discernimento vocacional”. A Igreja parece estar muito preocupada com os jovens. Como o senhor vê os nossos jovens hoje, diante da urgência da evangelização?
Dom Chimoio: Acho muito oportuno que de fato tenhamos esse Sínodo para os jovens, porque os jovens são o futuro da nação, são também o futuro da Igreja. Moçambique tem mais jovens do que adultos, como população, precisamente por causa da guerra da libertação, que durou 10 anos, e a guerra civil, que durou 16. Então, compreensivamente, são 26 anos de guerra. Nessas guerras que duraram 26 anos perdemos uma geração. Não se admira que de fato a maioria seja realmente jovens. Esses jovens precisam ter valores, precisam de formação para poder orientar as suas vidas, para fazerem também escolhas sábias e inteligentes. O conhecimento daquilo que se escolhe parte realmente de uma adequada formação, que permite formar todo o homem integral, o homem que durante a guerra foi desfeito, foi esvaziado dos seus valores, do seu modo de ser, e que agora temos de reconstruir, mas reconstruir com a Palavra de Deus. É essa Palavra de Deus que vai de fato iluminar, que vai permitir aos jovens ser autênticos seguidores de Jesus. São os seguidores de Jesus que vivem com fé, esperança e caridade que poderão servir de ajuda e apoio para toda a nossa sociedade. A nossa catequese está praticamente interessada em fazer com que os jovens assumam as responsabilidades de serem eles os protagonistas do normal crescimento e vivência dos cristãos nos próprios empenhos.
João: O senhor atualmente preside a Conferência Episcopal de Moçambique. Qual é, hoje, a principal preocupação da Conferência?
Dom Chimoio: A principal preocupação da nossa Conferência é realmente podermos dar a mensagem salvífica a todos os habitantes desse país. A segunda preocupação é termos de fato uma grande força de podermos também unir as poucas forças que temos, os poucos padres que temos, para realmente nos empenharmos na formação integral de todo homem. Portanto, isso passa obviamente pela formação dos próprios padres, passa pela formação dos próprios líderes comunitários, e passa também pela aceitação do projeto que Deus tem para com todas as pessoas. Para esse projeto, Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Então, esse mesmo plano significa que Deus, no nosso tempo, continua também a estender a Sua mão para que todas as pessoas possam de fato colaborar e aderir a essa mesma mensagem, esse mesmo Evangelho, para que todos sejam uma única realidade, essa família de Deus. A Igreja, família de Deus, deve ser verdadeiramente assumida como uma realidade principal no dia a dia. Todos nós somos colaboradores, mas colaboradores de Jesus Cristo, enviados por Ele para fazer muitos discípulos, para fazer com que muitos entrem também no redil, no rebanho, para poderem espalhar a Palavra de Deus. Precisamos de certa uniformidade, precisamos também de certo empenho, precisamos ser conscientes do grande desafio que nós temos, que é aquele de levar o Evangelho de Deus a todas as pessoas.
João: Em sua homilia no dia 13 de maio, por ocasião da peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima de Namaacha, o senhor disse: “Apelo para que os cristãos se comprometam com o bem, distanciando-se de atitudes negativas, como a falsidade e a criminalidade”. Como o senhor vê o aumento da violência em nosso país? E qual tem sido a resposta da Igreja Católica?
Dom Chimoio: A situação da criminalidade, da violência, em todos os sentidos, vejo isso como algo negativo de fato. Então, diante dessa negatividade não podemos ficar com os braços cruzados. Por isso, o nosso empenho será realmente de formar as pessoas, de alertá-las para o respeito aos bens dos outros, alertá-las para o cumprimento dos mandamentos da lei de Deus, alertá-las para serem conscientes de que aquilo que se come com a ajuda das próprias mãos é sempre muito mais importante do que aquilo que se come tendo derramado sangue do outro para poderem sobreviver. O que quero dizer? Quero dizer que todos os homens têm de fato esse grande desafio diante do mal que aumenta cada vez mais. Há pouco emprego, pouca instrução em algumas dessas pessoas, muitas pessoas durante os conflitos armados correram para as cidades, agora o conflito armado cessou, mas as pessoas não se dão ao empenho de voltar para as zonas rurais, onde a vida de fato pode e deve ser muito mais simples, mas muito mais fresco o ar que se respira lá. Portanto, o que queria dizer é isso, que de fato todos nos empenhemos para que esse aumento constante do mal, da criminalidade, possa realmente diminuir. A última coisa: é através do empenho, do esforço, de cada um de nós que poderemos estancar essa contínua violência que vai ceifando vidas humanas. Sermos vigilantes e nos empenharmos de fato em viver com empenho aquilo que nos comprometemos no dia do nosso batismo: sermos luz do mundo e sal da terra.
João: São Francisco de Assis, pai espiritual dos Frades Capuchinhos, viveu há mais de 800 anos atrás, mas sua mensagem e testemunho de vida são muito atuais, fazendo dele o santo mais popular da nossa Igreja, e sendo autor da célebre oração: “Senhor, fazei-me instrumento da vossa Paz…”. Nosso Acordo de Paz, que pôs fim a 16 anos de guerra civil, foi assinado em Roma em 4 de outubro de 1992 (há 26 anos atrás), justamente no dia em que se celebra São Francisco de Assis… Quanta providência! O senhor acredita que nossa nação, hoje, vive em Paz?
Dom Chimoio: Nossa nação hoje deveria viver na paz, mas para chegar a isso precisa deixar-se iluminar pela Palavra de Deus, deixar-se iluminar também pelo exemplo de São Francisco, deixar-se iluminar por aquilo que os apóstolos realizaram juntos dos seus irmãos. Essa paz ainda está realmente muito difícil. Temos visto e ouvido focos de certa violência, mas para ser uma paz verdadeira é necessário que nos deixemos verdadeiramente guiar e iluminar pela Palavra de Deus, deixemos que realmente Deus possua a cada um de nós e, sendo assim, nós transmitiremos aquilo que é objeto da nossa esperança, a esperança de pessoas que estão a peregrinar. Portanto, queremos sempre pedir, exortar, nos esforçar em ver o próprio irmão, a própria irmã, como pessoas que nos permitem verdadeiramente reconhecer a presença de Deus. Trabalhar com as pessoas sem usá-las como instrumentos para o nosso enriquecimento, mas trabalhar com as pessoas porque elas também têm a dignidade, também são imagem e semelhança de Deus, e elas também podem dar a melhor colaboração, contribuição para o nosso crescimento. Faltando esse amor recíproco, o perdão, a tolerância, a aceitação do diverso, dificilmente poderemos viver uma paz duradoura.
João: A Igreja Católica da Nicarágua é perseguida pelo regime do presidente Daniel Ortega. Esta é uma afirmação que o cardeal Leopoldo Brenes Solórzano proferiu no último dia 22 de julho. Ele é presidente da Conferência Episcopal do país e da Comissão para o Diálogo Nacional. O Vatican News informou, no último dia 23 de julho, que até aquele dia já havia mais de 360 mortes, como consequência dessa crise política, econômica e social em que vive o país. Que análise o senhor faz desse conflito?
Dom Chimoio: De fato é uma tragédia que um país que também é católico tenha atitudes de violência contra a Igreja, contra os seus pastores, contra também Nosso Senhor Jesus Cristo. Isso desestabiliza as pessoas e cria também muitos dissabores, muitas desgraças que são atraídas para esse país. Temos de rezar para que os cristãos que estão lá juntamente com os seus bispos vivam realmente unidos. Não é fácil no meio desse conflito, onde de fato esse Ortega usando almas vai matando pessoas, vai diminuindo também o número dos habitantes. É uma tragédia que toca a nós também. A dor dos irmãos da Nicarágua é também nossa dor. O que podemos fazer? Rezar para que o Senhor também faça suscitar pessoas capazes de poder fazer face a essa situação de crise em que se encontra aquele país. Pedir, sobretudo, a constância, a perseverança e o bom senso, e que esses governantes possam realmente não deixar-se embriagarem pelo poder, mas poder de fato serem guiados pelo Espírito Santo, e que sejam respeitosos naquilo que cada crente é chamado a realizar. Nada de violência, nada de guerra, mas é necessário que se façam os esforços necessários para evitar o continuar, o avançar dessas atitudes de violência, incompreensão, intolerância e de certo racismo.
João: Nas mensagens das aparições de Nossa Senhora em Fátima, a Virgem Maria chama os sacerdotes de “seus filhos prediletos”. Gostaria que o senhor partilhasse para nós sobre sua relação, sua amizade com Nossa Senhora.
Dom Chimoio: Eu sou muito agradecido a Deus, precisamente porque vim ao mundo, mas ao mesmo tempo sou agradecido a Deus pelo dom da vocação cristã, religiosa e sacerdotal. Todos os dias, dentro das minhas possibilidades, quando acordo sempre rezo uma Ave-Maria para pedir a nossa Mãe a proteção, e rezo logo o terço para que de fato a Mãe possa realmente contar com a minha colaboração. Eu também espero que tudo aquilo que está sendo feito está correndo bem pela intercessão de Maria. Eu queria a minha ordenação sacerdotal dia 8 de dezembro, mas infelizmente no nosso país no momento havia muita dificuldade por causa da instabilidade, da falta de paz. Então escolhi o dia 9 de dezembro, mas a ideia era para o dia 8, e dia 8 naquele ano era um Sábado e por isso não foi possível celebrar. Confiei a minha ordenação sacerdotal a nossa Mãe, Imaculada Conceição. É Ela quem realmente ocupa o lugar de destaque, depois de Cristo, depois de Deus. Eu sei que Ela é minha advogada, minha protetora, é aquela que de fato intercede por mim junto do Seu filho, Jesus. Eu creio que também todos os outros cristãos, religiosos, padres, deveriam também ter um lugar especial, uma devoção especial a nossa Mãe, porque Ela intercede sempre pelos Seus filhos. Eu sou agradecido a Nossa Senhora pelo dom da vida que me conserva, sou agradecido, sobretudo, à vocação sacerdotal que é alimentada através de Nossa Senhora, que é a Mãe da Igreja.
João: Que mensagem o senhor deixaria para os nossos ouvintes da Rádio Maria Moçambique?
Dom Chimoio: Ao fim dessa partilha modesta, simples, quero dizer a todos os ouvintes primeiro obrigado porque escutaram. Em segundo lugar, quero que tenhais também a coragem de se oferecer ao Senhor, dando o melhor de vós mesmos para que todas aquelas pessoas que vivem junto de vós se sintam verdadeiramente amparadas, apoiadas, seguidas, estimadas, amadas. Que todos os cristãos que por ventura ouvem essa mensagem deem graças a Deus comigo pelo dom do sacerdócio, que é para o serviço do anúncio da Palavra de Deus, para que eu não me sirva do sacerdócio para espezinhar ou esmagar alguém, mas que eu seja realmente um servidor simples, humilde, atento, mais cheio de amor, perdão e tolerância.
João: Dom Chimoio, muito obrigado por sua vida ofertada nesses 38 anos de sacerdócio, dos quais 17 anos como bispo.
Colaborou João Patriolino