Ao contemplar o ícone de São Tomé facilmente me recordo do trecho bíblico que o inspirou. Com a mesma facilidade me lembro da importância dessa passagem para a Vocação Shalom. Contudo, hoje parece que o santo quis ir além e me ensinar outras lições sobre esse episódio tão rico e de frutos tão fecundos.
Curiosamente, a primeira lição que parece surgir é a do autoconhecimento. Tomé me ensina que só posso verdadeiramente entender que sou pecadora quando me deparo com o Cristo, pois olhando-O vejo aquilo que Ele é e aquilo que eu não sou. Contemplando sua fidelidade contemplo a minha infidelidade. E, curiosamente, a revelação do meu pecado que, esperava-se provocar uma grande tristeza, se torna motivo de grande alegria. Não, eu não sou feliz por pecar. Eu sou feliz porque Deus se utiliza do meu pecado para chegar até mim.
Se nós prestarmos bastante atenção não foi a fé, mas precisamente a sua ausência que proporcionou o encontro entre Tomé e Jesus. Acredito que no momento em que Tomé tocou as chagas percebeu o abismo que havia entre o seu coração e o dEle. E mais do que isso, percebeu a ponte que Ele construiu para que esse encontro acontecesse: a Divina Misericórdia.
E assim, creio eu, ele pode entender, a exemplo de São Paulo, que a sua natureza fraca e pecadora é o seu motivo de glória, pois foi ela que, atraindo a misericórdia de Deus, o fez ter a experiência mais fundamental da sua vida: o encontro e o conhecimento do Cristo Ressuscitado que passou pela Cruz.
Como se não bastasse, São Tomé ainda me ensina que o verdadeiro amor dói e deixa marcas, porém este mesmo amor ultrapassa a dor e a transforma em felicidade. E suas marcas, ao invés de servirem como testemunho de dor, representam testemunho de vida e ressurreição. Ao contemplar a vida de São Tomé com mais cuidado, me dou conta que, a partir desse encontro, eu não posso mais ser a mesma.
São Tomé, rogai por nós!
Clênia Oliveira