Formação

As Lições do Livro de Jonas

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Em todo o Brasil setembro é o mêsdedicado à Bíblia. Neste ano, a CNBB propôs a reflexão sobre o livro de Jonas –um livro pequeno, cuja história é intrigante, comovente, cheia de metáforas.Podemos dizer que o livro tem uma mensagem central: o perdão, e essa históriaestá dividida em dois momentos: antes da obediência de Jonas a Deus e depois daobediência de Jonas.

 O tema é propício para os temposatuais, em que vemos tantas disputas humanas e religiosas que provocam guerrasdesnecessárias, em que a falta de valores leva à banalização da vida e ofundamentalismo leva à exclusão e à condenação do outro.

 O Padre e Teólogo LeonardoAgostini, afirma em um artigo sobre esse livro bíblico: “O livro, como um todo,possui um grande objetivo: mostrar que é mais fácil, para Deus, converter oímpio, do que arrancar a intolerância do coração daqueles que se consideramjustos e tementes, mas são intransigentes para com os que não ‘rezam’ na suacartilha de fé e de costumes”. E para conseguir o seu objetivo: converter ocoração de Jonas e salvar o povo ninivita, Deus, em cada cena, assume oprotagonismo da história, providenciando diversas situações que levam Jonas erender-se à Vontade de Deus.

 E não é assim que Deus age emnossa vida?

 Vamos lembrar essa história?

 Jonas, apesar desua imperfeição, fundamentalismo, resistências e feridas históricas, deixou-seconduzir por Deus. Por isso, a mensagem do Senhor alcançou o resultado desejadoe, assim, sua imensa compaixão pelos homens foi demonstrada.

 Vamos relembrar: Deus disse aoseu escolhido – Jonas – para proclamar uma mensagem de arrependimento à Nínive.Não era uma cidade qualquer. Pelo contrário: Nínive era a capital do impérioassírio e, naquele tempo, seus exércitos ameaçavam Israel. Os guerreirosassírios eram considerados os mais sanguinários e brutais e gostavam deinventar novas formas de torturar os prisioneiros. Frequentemente arrancavam apele das pessoas ou as erguiam no ar, espetadas no peito por uma grande lança.

 Talvez pelo fato de conhecer acrueldade dos assírios, Jonas tenha relutado. Por isso, não foi fácil paraJonas cumprir a Vontade de Deus. Por certo ele deve ter pensado: "O Senhordeve estar brincando comigo! Eu quero é mais que Nínive seja mesmo destruída!Esse povo ímpio tem que desaparecer". Mas Deus não pensava como Jonas.Deus queria salvar aquele povo e, como não concordava com o Ele, Jonas tentou fugirde Deus.

 Ele desceu até a cidade portuáriade Jope, para dali fugir para Társis. Sabia que, se o povo de Nínive ouvisse amensagem e se arrependesse, Deus os perdoaria e pouparia da destruição, e ele,Jonas, queria que todos os ninivitas fossem para o inferno! "Não, não, milvezes não – que vão para o inferno, pois é o que merecem", era a atitudede Jonas.

 Mais tarde, após Deus persuadi-loa ir, Jonas acaba pedindo que Deus o faça morrer. Seus sentimentos pessoaisestavam tentando interferir no modo de Deus agir. Aparentemente, Jonas nãoentendia, mas aos olhos de Deus ele não era melhor – não era mais justo – doque aqueles a quem odiava.

 Jonas está determinado a fugir daordem de Deus, mas Deus está infinitamente mais determinado a fazê-lo obedecer.Jonas poderia ter sido interrompido em qualquer ponto em sua viagem para Jope,mas Deus permitiu que ele embarcasse no navio fenício que ia para Társis. Deusprepara uma grande tempestade no mar – na verdade uma tormenta tão grande queos marinheiros ficam apavorados e o capitão acorda Jonas e pede que ele ore aoseu Deus.

 A tripulação começa a lançar asorte (diríamos hoje, "tirar palitinhos") para determinar por causade quem sobreveio todo aquele mal. Jonas é identificado como o culpado e eles ointerrogam para saber o motivo de todo aquele problema. Jonas admite que estavadesobedecendo ao seu Deus – fugindo da sua presença – e os marinheiros ficamrevoltados com a atitude dele.

 Eles, então, perguntam o quepodem fazer para reverter a situação e fazer a tempestade passar. Ele lhes disseque deveriam lançá-lo ao mar. Embora fossem marinheiros pagãos, eles não eramhomens sem coração, de modo que relutaram e procuraram de todas as formas levaro navio de volta a terra. Quando reconheceram que seus esforços eram vãos, poisa tempestade ficava cada vez pior, acabam orando ao Deus de Jonas – pedindo queos poupasse e os perdoasse pelo que precisariam fazer. Como tudo o mais nãofuncionou, lançam o profeta ao mar e a tempestade parou miraculosamente.

 O próximo evento relatado é a "históriado peixe". Após três dias e três noites no ventre do peixe, Jonas foivomitado sem cerimônia em uma praia. Somente agora o profeta se arrepende eaceita a missão que Deus lhe deu. Jonas recebe ordem para marchar novamente.

 Nesse ponto da história éinteressante notar que o texto bíblico deixa claro que Deus não permitiu queJonas pregasse aquilo que "estava no seu coração" – porqueprovavelmente ele pediria que Deus não tivesse misericórdia e destruísse atodos. Ao contrário, Deus lhe dá instruções explícitas para pregar exatamente amensagem que Ele vai dar ao profeta – não a sua própria opinião, masestritamente a mensagem dada por Deus.

 Imagine Jonas entrando na grandecidade, olhando para os lados, esperando a qualquer momento ser reconhecidocomo judeu e atacado. Após caminhar aproximadamente um terço da distância,percorrendo a grande cidade, ele tomou coragem para cumprir a vontade de Deus ecomeçou a clamar: "Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida."Jonas continuou percorrendo aquela grande cidade proclamando a simples mensagemde arrependimento. O texto diz que do maior (o rei) até o menor, os ninivitascreram na mensagem pregada por ele, arrependeram-se da sua impiedade ehumilharam-se diante de Deus. Por causa do arrependimento genuíno deles, Deusreteve sua mão de julgamento até um tempo posterior.

 Finalmente, no capítulo 4, vemosJonas fora de Nínive, olhando para a cidade e achando que aquela demonstraçãode conversão fosse apenas fingimento da parte dos ninivitas. “Talvez Deusdescubra que eles estão apenas fingindo e os destrua.” Apesar de tertestemunhado um grande milagre, a raiva de Jonas por aquele povo continuava aofuscar qualquer vestígio de compaixão. Agora que seus piores temores seconcretizaram e Deus realmente poupara aquele povo, Jonas fica irado.

 No entanto, em seu infinito amor,Deus trata esse homem petulante como se fosse uma criança. Afinal, Jonas, defato, aparece agindo como uma criança teimosa. Deus trata Jonas com carinho efala com ele com uma linguagem infantil. Acredito que esta maneiracondescendente tem o objetivo de deixar Jonas constrangido por sua atitude imaturae, ao mesmo tempo, mostrar-lhe a grandeza da graça de Deus para todos os povos.

 Ao final podemos concluir o seguinte:o ódio de Jonas pelos ninivitas era compreensível, considerando-se toda arealidade de conflito histórico que viviam. Mas e as milhares pessoas inocentes,e toda a natureza, que sofreriam se Deus destruísse a cidade? Nossa limitadanatureza humana raramente vê o "quadro grande", pois somos egoístas equeremos que tudo seja feito da nossa maneira. Deus não devia explicações aJonas, mas gratuita e pacientemente explicou sua vontade soberana a ele.

Deus é misericórdia!


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