Não sei por que, mas nestes dias estava meditando sobre os mistérios da vida, suas etapas, suas idades e veio-me estas ideias que quero compartilhar com os meus benévolos leitores. Pode ser que ajude alguém, a mim já ajudou bastante.
Imagino que a nossa existência tem quatro etapas bem definidas no caminho espiritual. Etapas que deveriam ser bem aproveitadas e bem desenvolvidas, mas para nós, “teólogos de chinelos de dedos”, é suficiente acená-las, que entendemos tudo. Os simples e os que não são doutores têm mais facilidade para compreender as coisas complicadas. O Espírito Santo os ilumina.
- A espiritualidade da preparação
Todas as pessoas se preparam para assumir as responsabilidades na vida. É através da escola, do estudo, que nós aprendemos a ler, a escrever, ou mais tarde somos iniciados, através de uma longa aprendizagem, no nosso trabalho. Ninguém chega a trabalhar bem sem antes se preparar. Toda missão também necessita de uma preparação. O próprio Jesus passou trinta anos no silêncio de Nazaré, se preparando para assumir a missão que o Pai lhe confiara. Maria se preparou, na meditação da Palavra de Deus para desempenhar bem sua missão de mãe de Jesus. Esta espiritualidade da preparação é necessária também na mesma vida religiosa, na Igreja, no matrimônio, em tudo o que nós queremos assumir com maior responsabilidade.
- Espiritualidade da ação
Uma vez que estamos preparados, desempenhamos por um tempo mais ou menos largo a nossa missão, o serviço, o trabalho pelo qual temos dedicado o tempo da preparação. Toda profissão vai ser exercida através de uma formação permanente e uma constante dedicação. É necessário levar a sério o que somos chamados a assumir, seja qual for o nosso trabalho. É um tempo de sonhos, de realizações, que nos compromete na construção do Reino de Deus, na construção do futuro humano de nossa vida. É o que poderíamos chamar o tempo precioso da nossa “produtividade”. Ninguém pode fugir desta responsabilidade. Quantas coisas bonitas nós contemplamos que são todas o fruto desta espiritualidade da ação. Mas todos sabemos que isto não dura muito tempo. O tempo do outono e do inverno vai chegar para todos onde somos chamados de novo a deixar de trabalhar para sermos uma presença silenciosa que revela o nosso mesmo interior.
- A espiritualidade da presença
Para todos nós, chega o momento em que as nossas atividades, as forças, a capacidade inventiva e de trabalho vão diminuindo, e então somos chamados a assumir novo estilo de evangelização. Não mais o fazer, o correr de um lado a outro anunciando a Palavra de Deus, mas um “demorar-nos silenciosamente” diante do Santíssimo Sacramento e sermos, como Moisés, intercessores diante de Deus, suplicando por aqueles que lutam na planície da missionariedade. A espiritualidade da presença é importante sempre, mas especialmente no ocaso da vida. É capacidade de ensinar o pouco que sabemos aos que vierem atrás de nós e alegrar-nos por aquilo que irão fazer. É ter a consciência de que outros irão recolher o que nós temos semeado. Uma presença amorosa, delicada, sincera. Deus nos chama a esta espiritualidade que deve ser preparada enquanto estamos na lida cotidiana, a uma presença não de saudosismo nem de amargura, que muitas vezes está escondida debaixo de frases como: “nos meus tempos, eu fiz…”. É o grão de trigo que, caído na terra, se não morre não pode produzir frutos.
- A espiritualidade da intercessão
Não é espiritualidade para esta vida, mas já devemos contemplá-la com os nossos olhos carregados de fé e de amor. Um dia quando chegarmos ao céu, como Teresa do Menino Jesus, deveremos dizer: “nunca deixarei de fazer o bem… Do céu continuarei a fazer cair sobre a terra uma chuva de rosas. No céu continuarei a trabalhar pela Igreja, pelos missionários”. Desde já somos intercessores, mas o seremos plenamente diante do trono do Cordeiro, quando estivermos no Reino definitivo de paz e de alegria eterna. Os olhos dos santos estão fixos na Santíssima Trindade e estão fixos na terra para ver os nossos sofrimentos e lutas e interceder por nós, para que ninguém se perca.
Frei Patrício Sciadini, ocd.
Publicado na Revista Shalom Maná