Formação

As quatro idades “espirituais”

comshalom

1231rwtNão sei por que, mas nestes dias estava meditando sobre os mistérios da vida, suas etapas, suas idades e veio-me estas ideias que quero compartilhar com os meus benévolos leitores. Pode ser que ajude alguém, a mim já ajudou bastante.

Imagino que a nossa existência tem quatro etapas bem definidas no caminho espiritual. Etapas que deveriam ser bem aproveitadas e bem desenvolvidas, mas para nós, “teólogos de chinelos de dedos”, é suficiente acená-las, que entendemos tudo. Os simples e os que não são doutores têm mais facilidade para compreender as coisas complicadas. O Espírito Santo os ilumina.

 

  1. A espiritualidade da preparação

Todas as pessoas se preparam para assumir as responsabilidades na vida. É através da escola, do estudo, que nós aprendemos a ler, a escrever, ou mais tarde somos iniciados, através de uma longa aprendizagem, no nosso trabalho. Ninguém chega a trabalhar bem sem antes se preparar. Toda missão também necessita de uma preparação. O próprio Jesus passou trinta anos no silêncio de Nazaré, se preparando para assumir a missão que o Pai lhe confiara. Maria se preparou, na meditação da Palavra de Deus para desempenhar bem sua missão de mãe de Jesus. Esta espiritualidade da preparação é necessária também na mesma vida religiosa, na Igreja, no matrimônio, em tudo o que nós queremos assumir com maior responsabilidade.

 

  1. Espiritualidade da ação

Uma vez que estamos preparados, desempenhamos por um tempo mais ou menos largo a nossa missão, o serviço, o trabalho pelo qual temos dedicado o tempo da preparação. Toda profissão vai ser exercida através de uma formação permanente e uma constante dedicação. É necessário levar a sério o que somos chamados a assumir, seja qual for o nosso trabalho. É um tempo de sonhos, de realizações, que nos compromete na construção do Reino de Deus, na construção do futuro humano de nossa vida. É o que poderíamos chamar o tempo precioso da nossa “produtividade”. Ninguém pode fugir desta responsabilidade. Quantas coisas bonitas nós contemplamos que são todas o fruto desta espiritualidade da ação. Mas todos sabemos que isto não dura muito tempo. O tempo do outono e do inverno vai chegar para todos onde somos chamados de novo a deixar de trabalhar para sermos uma presença silenciosa que revela o nosso mesmo interior.

 

  1. A espiritualidade da presença

Para todos nós, chega o momento em que as nossas atividades, as forças, a capacidade inventiva e de trabalho vão diminuindo, e então somos chamados a assumir novo estilo de evangelização. Não mais o fazer, o correr de um lado a outro anunciando a Palavra de Deus, mas um “demorar-nos silenciosamente” diante do Santíssimo Sacramento e sermos, como Moisés, intercessores diante de Deus, suplicando por aqueles que lutam na planície da missionariedade. A espiritualidade da presença é importante sempre, mas especialmente no ocaso da vida. É capacidade de ensinar o pouco que sabemos aos que vierem atrás de nós e alegrar-nos por aquilo que irão fazer. É ter a consciência de que outros irão recolher o que nós temos semeado. Uma presença amorosa, delicada, sincera. Deus nos chama a esta espiritualidade que deve ser preparada enquanto estamos na lida cotidiana, a uma presença não de saudosismo nem de amargura, que muitas vezes está escondida debaixo de frases como: “nos meus tempos, eu fiz…”. É o grão de trigo que, caído na terra, se não morre não pode produzir frutos.

 

  1. A espiritualidade da intercessão

Não é espiritualidade para esta vida, mas já devemos contemplá-la com os nossos olhos carregados de fé e de amor. Um dia quando chegarmos ao céu, como Teresa do Menino Jesus, deveremos dizer: “nunca deixarei de fazer o bem… Do céu continuarei a fazer cair sobre a terra uma chuva de rosas. No céu continuarei a trabalhar pela Igreja, pelos missionários”. Desde já somos intercessores, mas o seremos plenamente diante do trono do Cordeiro, quando estivermos no Reino definitivo de paz e de alegria eterna. Os olhos dos santos estão fixos na Santíssima Trindade e estão fixos na terra para ver os nossos sofrimentos e lutas e interceder por nós, para que ninguém se perca.

Frei Patrício Sciadini, ocd.

Publicado na Revista Shalom Maná


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado.